16. Colapso

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  O sinal da última aula toca, guardo meu material e coloco a mochila nas costas, caminhando até a porta da sala. Daisuke estava parado encostado na porta.

- E aí - ele diz, assim que me aproximo.

- Oi - respondo, meio sem saber o que dizer.

- Bom, então vamos.

Caminhamos juntos por aquele corredor barulhento sem dizer uma palavra ao outro. Confesso que o clima acaba ficando bem estranho, graças a isso.

- Acho que só mais alguns dias e terminamos aqui, se formos rápidos - ele joga a mochila em cima de uma das carteiras, então faço o mesmo.

- Espero que sim.

Eu pego algumas caixas de entulhos e começo a selecionar o que deveria jogar fora ou não, enquanto Daisuke arrastava alguns armários para limpar em baixo.

- Quer ajuda? - pergunto, percebendo sua dificuldade em levantar alguns deles.

- Não precisa.

O ignoro e me direciono até ele para ajudá-lo. Seguro na parte inferior da estante e a deixo ao lado, deixando uma parte maior do espaço livre.

- Obrigado - ele agradece, pegando uma vassoura para varrer o espaço que eu havia acabado de liberar.

- De nada - digo enquanto volto para o meu trabalho. - Então... aquele Haru é seu amigo? - pergunto, apenas para quebrar um pouco o silêncio entre nós.

- Sim, por quê?

- Nada, eu só pensei que ele fosse menina. Ele mudou de sexo, foi isso?

- Cara, qual é o seu problema? - ele para o que estava fazendo e olha para mim, bastante alterado. Neste momento percebi que havia dito algo errado.

- Eu não quis... foi mal.

- Haru é homem como eu e você, e se você tem algum problema com isso é melhor você dizer logo porque eu...

- Não, olha só, me desculpa - o interrompo, tentando consertar a situação. - Eu acabei me expressando mal. Eu só... não sabia.

Ele retorna a fazer o seu trabalho e fica em silêncio por um tempo, acabo me sentindo mal pelo que disse.

- Eu pensei que entendesse, já que você sabe como é não ser "normal" - ele diz, fazendo aspas com os dedos.

- Como assim?

- Por você gostar de garotos você deveria saber que nem sempre somos o que esperam que fôssemos.

Eu paro e o fito, enquanto penso sobre isso. Passei a minha vida toda escondendo quem eu sou e fazendo o que diziam que era certo. Acho que com Haru é o mesmo.

- Você tem razão.

Passadas algumas horas, resolvemos encerrar o dia e ir fazer o trabalho. Ele pede meu número para passar seu endereço, eu passo, embora eu já saiba. Vou para casa e tomo um banho, indo para o apartamento de Daisuke logo em seguida.

Toco a campainha e ele logo atende. Percebo que fui o último a chegar e estavam todos apenas me esperando. Sigo Daisuke até a sala de estar e me sento no carpete junto com os outros.

- Eu estava pensando, e se substituíssem os canudos de plástico por canudos de papel? - Izumi diz, com o celular na mão, evidentemente fazendo pesquisas.

- Eu acho que isso já existe - Haru diz, sorrindo.

- Ah tá.

  Enquanto trocamos algumas ideias, ouvimos a campainha tocar, e Daisuke se levanta para atender a porta. Após alguns segundos ele retorna com uma caixa de pizza em uma mão e uma garrafa de refrigerante na outra.

Lágrimas de um AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora