6. Consequências

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Olho uma última vez para Daisuke, ele estava bem, então me viro e abro as asas, batendo-as em seguida. Começo a voar rapidamente, o nervosismo e o desespero começaram a tomar conta de mim. Eu não sabia porque havia feito aquilo, mas sabia que era errado. Por um momento, estive fora de mim, e isso pode me custar muito

Chego no céu e olho ao redor, estava tranquilo como sempre. Procuro desesperadamente por Koji, mas ele não estava em nenhum lugar, quando vejo Seiji andando lentamente, concentrado no pergaminho que havia em suas mãos.

- Seiji! - grito correndo em direção à ele, o fazendo me olhar assustado.

- Ah, oi Katsuo - ele diz assim que me aproximo.

- Você viu o Koji por aí?

- Não tenho certeza, mas acho que ele entrou na sala dos Arcanjos fazem alguns minutos. Por quê?

- Puta mer... - interrompo o palavrão, lembrando que estava no céu. - Não acredito. Eu tô morto!

- Quer falar logo o que aconteceu? - Seiji diz, com uma expressão preocupada e levemente alterada.

- Olha, não posso dizer agora, mas logo prometo que te conto tudo - dizendo isso, saio correndo em direção à ala que ficavam as salas.

Chego na porta da sala dos Arcanjos e vejo que Riku estava na frente, como sempre. Ele me olha com desdém e então revira os olhos.

- O que quer? - Riku pergunta, então ouço falas vindo da sala, deduzo que Koji esteja contando tudo agora, ou até mesmo aumentando a história.

- Eu preciso entrar - dou um passo e tento colocar minha mão na maçaneta, porém ele segura meu braço.

- Os Arcanjos estão em reunião com Koji.

- Espera, os três?

- Inicialmente era só o Masaichi, mas aí ele solicitou a presença dos outros dois por algum motivo.

Eu me viro e cruzo o corredor, me sentando no chão. Nesse momento eu soube que as coisas ficariam muito, mas muito ruins para mim. Com apenas um ato eu cometi diversos pecados e ainda quebrei princípios de um anjo. Sinceramente, não sei o que aconteceu comigo.

  Passam alguns minutos e nada, então resolvo ir até minha ordem. Me deito no chão gelado para tentar amenizar ou esquecer isso por um tempo, mas não funciona. Meu coração permanecia acelerado e eu sentia que a qualquer momento Masaichi viria me dar uma punição. Talvez isso chegue a Deus. Ou talvez Ele já saiba, Ele é o primeiro a saber de tudo.

Algumas horas depois, ouço batidas na porta. Minhas mãos estavam tremendo e meu estômago revirando. Me levanto e a abro, era Ren, um Principado. Ele era um dos mais jovens da legião, tinha uma aparência muito mais jovem, sendo albino. Sua pele era extremamente branca, os cabelos loiros e olhos cor violeta.

- Masaichi e os demais Arcanjos estão lhe convocando em vossa sala - ele diz e se vira, retornando para sua ordem.

Fico parado por alguns segundos e começo a ficar mais nervoso ainda. Começo a andar em passos lentos, tentando absorver tudo o que estava acontecendo. Logo chego na mesma porta branca a qual havia tentando entrar mais cedo, minha vontade de entrar agora já não era mais tão grande. Riku estava na porta ainda, e ao me ver se afasta para o lado, provavelmente recebeu ordens para me deixar entrar. Dou três leves batidas na porta, e então ela se abre, sozinha.

Passo pela porta e Masaichi, Tomoki e Kunio estavam sentados em seus tronos, todos alinhados na parte mais alta do salão. Quando entro, sou encarado pelos três. Abaixo estava Koji, com as mãos entrelaçadas e olhando para o chão, que sorri assim que me vê.

- Entre - Masaichi diz, com a voz bruta e expressão mais séria que o normal. Entro e me posiciono ao lado de Koji, abaixando a cabeça em forma de respeito.

- O anjo da guarda Koji - Tomoki inicia, e então levanto a cabeça para olhá-lo - nos relatou que foi testemunha de atos nada convenientes de sua parte hoje mais cedo. É isso mesmo?

  Me viro e olho para o anjo, que estava ao meu lado. Ele sorri de canto e então balança a cabeça, fingindo decepção para com a minha parte.

- Sim, é verdade - respondo diretamente, sabia que mentir seria pior para mim.

- Você, como anjo da guarda, tem noção de todos os princípios criados pelo Vosso Pai, e mesmo assim, os desrespeitou - dessa vez Kunio que se pronunciava, Masaichi permanecia em silêncio, apenas ouvindo. - O que tem a dizer sobre isso?

- Eu sinto muito, não sei porque fiz aquilo.

- Koji também nos disse que você violou a regra de saída e desceu à Terra mais de uma vez por dia, escondido - Kunio continuou. - É verdade?

  Eu não sabia como ele tinha descoberto isso, eu me certifiquei de que ninguém estivesse olhando.

- Sim, mas foi porque...

- Não interessa o motivo - o Arcanjo me interrompe. - Regras são regras, e você descumpriu diversas delas. Tem noção disso?

- Como acha que iremos confiar em um anjo para instruir as pessoas a não cometerem pecados se ele mesmo os comete? - Tomoki diz, em um tom calmo. Senti que dali ele era o mais pacífico no momento.

- Sinceramente - Masaichi começa a falar, estava mais sereno, calmo demais para a situação, o que me assustava - essa é a primeira vez que algo assim acontece aqui, e eu não esperava que viesse de você. Você me decepcionou, Katsuo.

Abaixo a cabeça, em sinal que entendo a gravidade da situação e que estava arrependido, mas ninguém pareceu se importar se eu me arrependi ou não. A sala ficou em silêncio, creio que seja porque era minha vez de falar, mas eu travei e não consegui dizer nada, nem mesmo me desculpar.

- Nesse tipo de situação, devemos ver o que cada um dos anjos que habitam os céus acha. Então amanhã faremos um julgamento, e a partir dele decidiremos o que acontecerá com você. Até lá, você ficará confinado em sua ordem, sozinho - Masaichi me olhava com desprezo, assim como os outros. Eu me senti muito mal por isso, nunca pensei que aconteceria algo assim comigo. Quando me dou conta, haviam lágrimas escorrendo pelo meu rosto, involuntariamente.

Kunio faz um movimento com a mão direita em direção à porta e a abre, fazendo menção para que eu saia.

- Você procurou isso, Katsuo. Agora encare as consequências.

Lágrimas de um AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora