23. Mata-demônios

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> Katsuo

Tranco a porta e guardo a chave na mochila, como sempre faço. O elevador do prédio estava quebrado desde semana passada, então desço de escadas. Quatro andares não parece muito, mas às 7 da manhã se torna uma dificuldade para qualquer um. Pelo lado bom, o prédio não é muito grande então não demorou muito.

  Ajeito a gravata enquanto ando, ainda não havia me acostumado com isso tudo. Com tanta coisa na cabeça, acabo esquecendo de me preocupar com alguns detalhes. Sinto que Daisuke percebe a minha dificuldade com algumas coisas às vezes, só não fala nada.

  - Bom dia - Daisuke diz, encostado no muro da entrada da escola.

- Bom dia. Chegou mais cedo hoje.

- Acabei ficando nervoso por conta do Haru e resolvi vir mais cedo pra falar com ele.

- Ele ainda não chegou?

- Não.

  Permanecemos na entrada do colégio, as pessoas estavam entrando aos poucos. Estava cedo ainda então ainda tínhamos um tempo até tocar o sinal. Continuamos conversando até que vemos alguém se aproximando, de cabeça baixa. Ele usava um moletom por cima do uniforme da escola e um capuz, impedindo que pudéssemos identificá-lo.

- Ei, Haru! - Daisuke grita, ao ver o garoto passar por nós, então ele recua e se aproxima.

- Oi - Haru diz, seco. Ele permanecia de cabeça baixa, tentando evitar que víssemos o seu rosto.

- Você tá legal? - pergunto, então ele me olha e tira a touca, mostrando seu rosto. Seu olho estava roxo, e haviam hematomas no rosto todo, além de um corte no lábio.

- O que aconteceu? - Daisuke pergunta, com uma expressão assustada.

- Foi na festa da Izumi. Acabei brigando com um cara e perdi.

- Caraca, por quê?

- Aquele Naoki namorado dela, ele é um babaca. Ele tava batendo nela, e eu tentei impedir - ele diz. É a primeira vez que vejo Haru sério.

- E cadê ela? - pergunto, preocupado se ela está bem ou não.

- Não sei, não falo com ela desde a festa.

  Nesse momento, um carro preto para em frente ao portão. Não entendo de carros, mas sabia que esse era dos caros. Quando olho para o motorista, noto que seu rosto me parecia familiar, então ele beija a garota que estava no banco do passageiro. Ela desce do carro e fecha a porta, então o motorista encara Haru e depois sai.

- Oi, meninos - Izumi diz, andando até nós. Ao notar que era ela, lembro que o motorista do carro era o Naoki, seu namorado

- Oi - eu e Daisuke respondemos, Haru permanece calado.

- Você tá melhor? - Izumi pergunta tocando o rosto de Haru, que a encara.

- Você ainda tá com ele? - Haru pergunta à Izumi.

- Bom, foi só uma briga de casal, é normal isso - ela diz olhando para baixo, um pouco tensa.

- Cara, ele te bateu.

- Foi por causa da bebida, normalmente ele não é assim. E sinto muito por ele ter te batido, não foi por mal.

- Eu não tô acreditando - Haru balança a cabeça para os lados, enquanto olha perplexo para Izumi. O sinal toca, então somos obrigados a entrar, se não quiséssemos ficar para fora.

- Qual é a aula de vocês agora? - pergunto, para quebrar o clima.

- Química - Daisuke responde, enquanto andamos.

Lágrimas de um AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora