31. Segredos

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  > Daisuke

  Eram cerca das 4 da tarde, eu estava sentado no sofá da sala jogando videogame enquanto bebia refrigerante, entediado. O dia na escola hoje havia sido estranho, mais longo que o normal. Katsuo não foi para a aula, e como ele não nos avisou de nada fiquei um pouco receoso. Izumi também não deu sinal desde ontem, quando soube da morte do Naoki.

  Ouço a campainha tocar, então me levanto e vou atendê-la.

- Oi - ele diz assim que abro a porta.

- Katsuo, entra - saio da frente da porta, dando passagem para ele. Estava feliz em vê-lo, mas também queria saber o motivo dele ter vindo. Tinha medo de ser algo sério. - Que bom que você tá bem.

- Sim, sinto muito por não ter respondido as mensagens - ele entra e fica na minha frente. Percebo pelo seu tom de voz que algo não estava certo.

- Tudo bem. Aconteceu algo?

- Ah... não, não se preocupa. Na verdade eu estou indo viajar, uma tia minha ficou doente e vou ver como ela está. Eu vim aqui pra te ver antes, já que não sei quando vou voltar.

- Entendi, e quando você vai?

- Agora. Olha, você sabe o perigo que estamos correndo, então queria pedir que tente não se afastar muito deles. Tomem cuidado, e... desculpa por ter que ir.

- Tá tudo bem, nós vamos ficar bem. Fica tranquilo.

- Tá legal. Até mais - ele me olha, em seguida se vira e gira o trinco da porta, a abrindo. Quando ele estava prestes a sair, o impeço.

- Espera, Katsuo - ele se vira novamente, voltando a me olhar. - Você não está indo visitar sua tia, não é? Você inventou isso - percebendo que não havia mais como fugir, ele apenas balança a cabeça, concordando.

- Eu não queria te envolver mais nisso, o que acontece é que eu descobri que existe uma faca, uma faca criada para destruir os demônios. Eu posso usá-la para proteger vocês.

- E onde está?

- Em Hiroshima.

- Eu... eu posso ir com você?

- Não, é melhor não.

- Mas eu posso te ajudar a procurar, aposto que você não sabe exatamente onde está - ele permanece sem dizer nada, o que confirma o que eu havia acabado de dizer.

- Não posso deixar que venha comigo, pode ser perigoso. E além disso, sua mãe também não deixaria.

- Ela não precisa saber.

- Não, Daisuke. Olha só, muito obrigado por querer ajudar, mas eu prefiro que fique aqui cuidando do Haru e da Izumi, tá bom? Vão ser só alguns dias, eu prometo.

- Tá bom, mas promete também que vai entrar em contato comigo assim que chegar.

- Ok, eu prometo. Agora eu preciso ir - ele começa a caminhar, saindo do meu apartamento. Ao vê-lo se afastando, começo a sentir um aperto no peito e um imenso medo de acontecer algo com ele.

- Katsuo - o chamo pela última vez e ele se vira, então corro até ele e o abraço. - Se cuida, por favor - digo, ainda abraçando ele, então ele separa o abraço e me olha. Percebo que seus olhos começaram a marejar, e ele não sabia como reagir.

- Vai dar tudo certo. Até logo.

  Assim que o perco de vista, entro de novo no apartamento e fecho a porta. Vou até o meu quarto, deito na cama e começo a pensar em tudo o que anda acontecendo. Acho que o meu mundo começou a desmoronar depois que Makoto morreu. Minha vida mudou a partir daí, e tudo que eu achava que sabia se tornou outra coisa. A única coisa que ameniza tudo isso são meus amigos. Eles são muito importantes para mim, e não sei o que faria se os perdesse. É por isso que ficar longe de Katsuo é tão ruim, fico com medo do que possa acontecer. Posso perdê-lo tão rápido quanto perdi meu pai e o meu melhor amigo.

  Mesmo que eu não possa fazer nada para ajudar, tentarei de tudo para que as coisas sejam diferentes. Não sei se o que Katsuo foi buscar vai nos ajudar a ficar em segurança, mas depois que tudo isso acabar, espero que possamos ficar juntos. Eu também não sei se ele sente algo verdadeiro por mim, mas ele precisa saber que eu gosto dele.

                    •       •       •       •       •

  Acordo um pouco confuso, minha cabeça estava latejando de tanta dor. O quarto estava todo escuro, pego meu celular que estava ao meu lado e desbloqueio a tela. Já eram sete e trinta da noite, eu havia acabado adormecendo sem perceber.

  Levanto da cama um pouco tonto e acendo a luz. Minha camisa estava toda encharcada de suor, então resolvo tomar um banho. Vou até o banheiro e tomo um banho gelado, assim que termino enrolo a toalha na cintura e pego um remédio na gaveta de baixo da pia. Talvez isso alivie um pouco a dor.

  Retorno para o meu quarto e abro a porta do armário, pegando uma calça de moletom preta e uma camisa também preta. Termino de me vestir e vou até a janela para fechá-la, já que havia a esquecido aberta durante o dia. Quando me viro, eu simplesmente paraliso. Havia algo na minha frente, meu cérebro não estava conseguindo processar nada. Meu corpo começa a tremer, eu queria gritar, mas não conseguia.

- Não vai me dar oi? - o demônio diz, com sua voz exatamente rouca.

- Q-quem é você - consigo soltar, depois de muito esforço para falar.

- Ryotaro. Eu sou um velho amigo do seu namorado.

- O que você quer?

- Nossa, que má educação - ele começa a se aproximar de mim, então percebo que ele tinha uma pequena cicatriz no lado esquerdo do rosto. - Eu vim pra ver o Katsuo, mas vi que ele não está na cidade. O que aconteceu? Ele não deveria estar cuidando de você? Afinal, foi isso o que ele fez durante a vida toda.

- Do que está falando?

- Ué, ele não te contou? Ah, entendi. Então você não sabe ainda.

- Não sei do que?

- Olha, Daisuke, eu conheço Katsuo há muito, muito tempo. E eu sei muitas coisas sobre ele, coisas que você jamais imaginaria. Ele não é quem você pensa.

- Você tá mentindo.

- Ah é? E por que eu mentiria?

- Porque você é um demônio e gosta de fazer mal às pessoas.

- Sim, eu gosto, e é exatamente por isso que estou te contando tudo. Katsuo mente pra você, o tempo todo. Melhor você ficar de olhos abertos, porque ele esconde muitos segredos.

- Que tipo de segredos? - resolvo arriscar, mesmo não acreditando em uma só palavra do que ele disse.

- OI MEU FILHO, CHEGUEI - minha mãe grita da cozinha, fazendo com que eu me assuste e olhe para o lado. Quando torno a olhar para frente, o demônio não estava mais lá.

Lágrimas de um AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora