19. Sofrimento

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  > Narrador

  Ao notar a demora de Katsuo no banheiro, Daisuke fica preocupado e resolve procurar por ele. O jovem temia por acabar sendo incomodativo ou enjoativo, por isso sentia receio toda vez que queria conversar com Katsuo. Dessa vez, a preocupação fala mais alto.

Daisuke sobe os degraus um por um, assim que chega no corredor se depara com diversas portas. Ele começa a abrí-las, não encontrando nada. Demora alguns minutos até que encontra a porta da biblioteca, entrando em seguida. Assim que abre a porta, Daisuke arregala os olhos e fica parado olhando aquela enorme criatura amedrontadora que estava à sua frente.

- Daisuke - Katsuo percebe que o garoto havia conseguido ver o demônio, e sabia o que isso significava.

- O que é isso?... - o garoto pergunta, ainda incrédulo.

- Boa noite criança - o demônio diz, se aproximando dos dois.

- Daisuke, sai daqui - Katsuo ordena, temendo pelo pior, mas sendo completamente ignorado pelo mais novo.

- O que tá acontecendo?

- Eu explico - o demônio senta em uma das mesas e cruza as pernas. - Acontece que hoje é um dia bom, e sabe por que? Porque eu consegui um passaporte pra sair daquele lugar medíocre. Depois de tantas décadas, posso ver rostos humanos de perto. Está com medo? Deveria ficar, pois irei fazer você sofrer, e depois irei me alimentar de todo o seu sofrimento.

O demônio avança rapidamente contra Daisuke, porém é impedido por Katsuo, que o empurra contra a parede e pressiona o seu pescoço com o antebraço.

- Você acha que pode me matar? Você é fraco, eu vou matar o garoto enquanto você assiste, e você não vai poder fazer nada!

Ele segura o braço de Katsuo e o vira, quebrando com facilidade, em seguida dispersa um chute em seu estômago. Ele cai com força no chão, Daisuke olha a cena assustado.

- Daisuke, corre! - Katsuo grita, então o garoto se vira e sai correndo pelo corredor.

Assim que se aproxima das escadas, o demônio se teleporta para a frente de Daisuke e segura em seus braços, o jogando pela escada.

Katsuo corre em direção às escadas para ajudar Daisuke, então é surpreendido pelo demônio o segurando.

- Eu peguei leve hoje, mas saibam que eu voltarei.

O demônio desaparece num piscar de olhos, então Katsuo vai até Daisuke, que estava no chão se contorcendo de dor com as mãos na perna.

- Você tá bem? - o anjo pergunta, ao redor deles haviam várias pessoas encarando.

- Sim, eu só torci o tornozelo. O seu braço...

- Eu estou bem. Consegue se levantar?

- Tinha quebrado... - sua voz estava levemente falha devido à dor.

- Não, deve ter sido impressão sua. Se apoia em mim, vou te levar até o carro.

Daisuke segura em Katsuo com uma das mãos, então eles começam a andar devagar. Ao passar pela sala eles vêem Haru com outra garota no sofá, ele estava claramente bêbado.

- HARU, ESTAMOS INDO - Katsuo grita para Haru, que vai até eles correndo.

- Meu Deus, o que aconteceu?

- Cai da escada, eu tô bem, só preciso ir pra casa.

- Vai lá, eu vou ficar mais um pouco.

- Tem como ir pra casa? - Katsuo pergunta, sabendo que não seria seguro o garoto ficar sozinho na rua tarde da noite.

- Relaxa, eu me viro.

- Tudo bem então, se cuida.

Mancando e com a ajuda de Katsuo, Daisuke consegue chegar até seu carro. Ele senta no banco do passageiro e Katsuo no do motorista. Mesmo nunca tendo dirigido antes, ele leva o mais novo para casa, o carro quase saindo da pista a cada minuto. Por sorte, eles chegam no apartamento em segurança.

                      •       •       •       •       •

- Cadê a Izumi? - Haru grita para Ume devido ao som alto da música. O efeito da bebida deixava o garoto um pouco tonto, porém ainda conseguia raciocinar tudo o que estava acontecendo ao redor.

- Eu não sei, a última vez que a vi ela estava com Naoki.

  Haru olha pelos lados à procura de Izumi, queria pelo menos avisar sobre o que havia acontecido com Daisuke. Não a vendo em lugar nenhum, ele sobe as escadas e a procura nos outros cômodos.

  Ao entrar em um dos quartos, Haru vê Izumi e Naoki discutindo. Naoki estava extremamente bêbado e alterado, e gritava enquanto segurava os braços da namorada.

- Você está sendo possessivo! - Izumi diz, era possível sentir um certo receio em sua voz ao ter que gritar com ele.

- Possessivo? Você da em cima de vários caras na minha frente e me chama de possessivo?

- Eu não dei em cima de ninguém, eles são meus amigos!

- CALA A BOCA, VOCÊ É SÓ UMA PUTA QUALQUER - Naoki se altera ainda mais e aumenta o tom da sua voz.

- E VOCÊ É SÓ UM DROGADO!

  Naoki empurra Izumi e levanta sua mão, dando um tapa forte no rosto da garota. Ela leva as mãos até seu rosto e começa a chorar.

- EI, SAI DE PERTO DELA - Haru entra no quarto gritando, alterado por tal covardia cometida por Naoki.

- Acha que é quem pra falar comigo assim?

- Você é um covarde, cara. Vai brigar com um homem.

- E cadê o homem? Porque você eu sei que não é.

- Haru, melhor você sair - Izumi diz ainda chorando, com a voz baixa.

- Eu sou mais homem que você - Haru se aproxima de Naoki, ignorando Izumi totalmente.

  Naoki da um empurrão em Haru, ele faz o mesmo, então Naoki da um soco no rosto de Haru, fazendo-o recuar.

- Quer ser homem? Então vai apanhar como homem.

  Naoki se aproxima mais uma vez de Haru e da mais dois socos em seu rosto, um com cada mão. Um pouco tonto, Haru segura a camisa de Naoki e acerta um soco em sua boca. Teria sido mais alto, se não fosse a diferença de altura.

  O mais velho segura nos cabelos de Haru e pressiona sua cabeça, a batendo no armário que havia no quarto. Sangue respingava por todo o chão, e eram ouvidos gritos da Izumi abafados pelo som da música no fundo.

- NAOKI, SOLTA ELE!

  Haru levanta sua mão para dar outro soco, mas Naoki segura sua mão e soca seu estômago, fazendo o menor cair no chão de joelhos. Ele da uma joelhada no rosto de Haru, então ele cai completamente no chão, desmaiado.

Lágrimas de um AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora