17. Headbanger

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> Daisuke

- Por exemplo, e se o padre não tivesse salvado o bebê Hitler do afogamento? - Haru nos mostrava sua analogia enquanto comíamos na mesa do refeitório da escola.

- Provavelmente teria surgido outro no lugar dele - digo, enquanto colocava mais um pouco de yakisoba na boca.

- É, mas é quase improvável que esse outro iniciasse o holocausto, por exemplo. Mais de 6 milhões de vidas poupadas, e isso se chama...

- Efeito borboleta - Katsuo completa. Percebi que ele e Haru estão se dando bem, o trabalho está servindo para todos nós nos conhecermos melhor, e até que está sendo divertido.

- Bingo!

  Haviam se passado dias desde que começamos a pesquisa e estávamos praticamente no fim. Izumi acabou puxando o grupo e ficamos um pouco mais próximos.

- Gente, da pra parar com esse papo de nerd, por favor - Izumi diz, revirando seus oniguiris na tigela. - Aliás, tenho uma coisa pra dizer - ela se ajeita na cadeira e sua expressão passa a ficar animada. - Amanhã à noite tem uma festa na casa de uma amiga minha, ela disse pra mim convidar uns amigos. O que acham?

- Eu topo - Haru é o primeiro a se manifestar.

- Tô de boa, valeu - recuso, lembrando o que aconteceu na primeira e única festa que fui.

- Ah, Daisuke, por favor! Vai ser divertido - Izumi insiste.

- Qual é cara, vamo lá, vai ser daora - Haru diz, tentando me convencer.

- E você, Katsuo? Por favor, diz que vai!

- Ah, pode ser... - Katsuo diz com um pouco de receio, então olha para mim. - E aí, bora?

- Tá, vamo.

- Isso! - Izumi comemora, pegando seu celular em cima da mesa para possivelmente confirmar nossa presença na festa.

  O sinal toca e somos obrigados a voltar para a aula. De acordo com minha grade eu teria Estudos Sociais, por sorte essa aula todos fazemos então vamos juntos para a sala. A preguiça de estudar era grande, mas infelizmente esse só era o início do dia.

• • • • •

Abro a porta do apartamento, tiro os sapatos e jogo a mochila no sofá. Estava extremamente cansado, mas precisava preparar algo para comer. Ouço um som vindo direto da cozinha, como se fosse algo caindo. Meu coração começa a bater forte, em reflexo do medo. Sem opções, começo a caminhar em direção à cozinha.

Me aproximo da porta cada vez mais devagar, evitando fazer qualquer tipo de barulho. À medida que eu ia me aproximando, ouvia sons mais altos, até que entro na cozinha e vejo minha mãe preparando o almoço.

- O que tá fazendo em casa? - pergunto, aliviado. - Pensei que tivesse ido trabalhar hoje.

- Me deram o dia de folga - ela diz, meio indiferente, mexendo algo na panela com uma colher de madeira.

- Podia ter me avisado - caminho até a mesa de jantar e me sento na cadeira.

- Você estava dormindo quando cheguei, não quis te acordar. Como foi na escola?

- Bem. Vou na casa de uns amigos amanhã, posso pegar o carro? Prometo que devolvo inteiro.

- Tudo bem, mas toma cuidado, e nada de álcool - ela aponta para mim com a colher suja de molho.

- Relaxa.

  Assim que minha mãe termina o almoço, ela nos serve o ramén. Fazia muito tempo que eu não comia algo preparado por ela, já que ela está sempre trabalhando.

- Filho, será que depois de comer você poderia ir no mercado pra mim? Estamos precisando de algumas coisas.

- Claro.

- Obrigada, já anotei tudo em uma lista, aqui está - ela me entrega uma caderneta com a lista de compras e algumas cédulas. - E também o dinheiro.

  Vou para o meu quarto e tiro o uniforme da escola. Coloco em um cesto de roupas sujas, já que amanhã não tem aula, e procuro algo para vestir no guarda-roupas. Opto por uma calça jeans e um moletom preto, nada melhor que o casual. Coloco um all star preto e pego as chaves do carro da minha mãe, saindo logo em seguida.

  O supermercado ficava à algumas quadras da minha rua, então não demoro muito até chegar. Estaciono o Toyota no estacionamento do comércio e entro no local. Vou primeiro para a sessão dos congelados, que geralmente demora um pouco mais.

  Retiro meu pedido e começo a andar pelos corredores aleatoriamente procurando por algas marinhas, até que chego em uma sessão e vejo um garoto de costas com um uniforme azul com o logo do mercado. Ele possuía os cabelos brancos, o que me chamou atenção por lembrar alguém. Ele estava repondo alguns itens na prateleira, então se vira para pegar algo na caixa e eu pude reconhecer quem era.

- Katsuo? - me aproximo dele, segurando a cesta em uma das mãos.

- Daisuke, como vai? - ele pergunta, da mesma forma gentil que sempre me trata.

- Bem, não sabia que trabalhava aqui.

- Poisé, comecei à pouco tempo.

- Legal - ficamos nos olhando por um tempo, eu não sabia o que dizer. - Você fica bem nessa roupa. - digo rindo, na tentativa de quebrar o gelo.

- Bem engraçado você - ele sorri. - Veio de carro? Atropelou quantas pessoas no caminho pra cá?

- Haha, - simulo uma risada ironicamente - pra sua informação, eu sou bom motorista.

- Acredito muito - nós rimos.

- Bom, preciso ir, minha mãe tá me esperando. Foi bom te ver.

- Igualmente.

  Termino as compras e passo no caixa rápido, afinal não era muita coisa. Volto até o estacionamento, coloco as compras no banco do passageiro para não ter o trabalho de abrir o porta-malas e ligo o carro.

  Ligo o rádio enquanto dirijo e estava tocando "Headbanger", do Baby Metal. Vou apertando o botão de pular até conseguir achar uma música do meu agrado, quando olho para o volante e vejo algo no meio da pista. Viro involuntariamente o volante para a direita, saindo da pista.

  Consigo parar o carro antes de bater em algo, mas estava extremamente assustado. Saio do carro para ver se a pessoa que estava na rua estava bem, mas não havia sinais dela. Talvez eu esteja mesmo ficando louco.

Lágrimas de um AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora