Má notícia

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    Acordo mais cedo que de costume; bom, para ser sincera, tenho acordado nesse horário há pelo menos um mês. De fato, quando se tem muitas coisas na cabeça, é um pouco difícil manter um sono agradável, principalmente quando a pessoa é tão inquieta quanto eu. Desde criança, sou uma menina hiperativa que detesta monotonia e está sempre procurando fazer coisas diferentes; talvez esse seja o meu ponto forte, talvez não. O fato é que a maioria das pessoas que me conhecem, principalmente meus irmãos, vivem ressaltando o quanto meus costumes são estranhos, e me chamam de louca por isso – o que, naturalmente, não irá fazer diferença nenhuma para mim.

    Um desses costumes é contemplar o nascer do sol; vê-lo despontar no céu, pouco a pouco, tornando tudo pálido e trazendo todo o seu esplendor. Não é comum pessoas saírem de suas camas a esse horário por causa de um prazer estúpido como aquele, mas eu realmente amo. É como se meu coração se enchesse de esperança gradativamente, e eu realmente acreditasse em um dia próspero. Portanto, empurro o edredom mais uma vez e levanto-me, começando a andar em direção à sala.

    Vago pelo corredor ainda com o traje de dormir. Meus pés descalços tocam no chão frio, o que faz-me arrepiar hora ou outra. Minha casa é bem grande e tem espaço para abrigar mais duas famílias. Por isso, vez ou outra, mamãe e papai convidavam tio Billy e a família dele e tia Bel com a dela. Eles são irmãos de minha mãe e, na minha opinião, a melhor época do ano é quando eles vêm – não por eles, porque, cá entre nós, eu não dou a mínima para eles estarem ou não aqui, e sim por seus filhos.

    Chego à sala e atravesso-a. Está bem frio, especialmente porque é madrugada, mas não hesito em abrir a janela. Quando o faço, uma brisa gélida toca meu rosto, e eu fico olhando mais além. Moramos em uma chácara no interior do Rio de Janeiro. É um lugar pacato, sem muita vizinhança e com uma boa vista para os vales relvados adiante. Por estar escuro, tudo o que vejo são contornos, mas como eu tenho tudo aquilo fotografado em minha mente, não fica difícil imaginar. Depois dos muros baixos cobertos de hera há um pequeno córrego onde eu quase morri quando era menor – por ter jogado minha prima mais nova e depois pulado para salvá-la sem ao menos saber nadar – ao lado da casa, encontra-se uma pequena estufa vazia onde eu passei grande parte da minha infância. Também há um conjunto de árvores próximo à estufa, onde meus irmãos, primos e eu montávamos um acampamento. É incrível. Cada partezinha desse lugar carrega uma história; e são essas histórias que definem quem sou hoje.

    — Emma? – uma voz soa atrás de mim, me sobressaltando – Já acordada?

    Não preciso me virar para saber que é meu irmão, Stive, então continuo a olhar para fora.

    — É o que parece, não? – digo, com uma nota de ironia.

    — Não acha que é muito cedo para estar acordada? – ele pergunta.

    Quanta petulância! Ele também está fora da cama, certo?

    — Ia dizer isso agora mesmo.

    Viro-me para ele, num giro. O meu irmão mais velho é surpreendentemente alto e magro, mesmo que passe metade de sua vida comendo. Ele e eu não temos absolutamente nada em comum, exceto a palidez e o fato de eu ser uma garota alta para meus quinze anos; ele possui lindos cachinhos ruivos, e toda a sua pele é coberta por sardas – desde as mãos até as orelhas. Alén disso, ele tem os mesmos olhos castanhos redondos e brilhantes que todos nessa casa, exceto o papai.

    — OK. – ele suspira, evidenciando que ainda está com sono. Sua roupa de dormir é sempre a mesma: blusa de manga vermelha e bermuda – Se quiser repetir a estupidez de ver o sol nascer...

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