Minha reação inicial é sacudir minhas mãos freneticamente afim de apagar o fogo, sem obter qualquer sucesso no ato. Ver minha mão em chamas é apavorante ao nível de eu ser capaz de sentí-las queimar, ainda que não seja verdade — como quando se toca em uma panela que você acha que está quente, mas não está. Aquele susto inicial causado pelo reflexo.
— Emma, não se assuste.- Myafa diz, embora seu tom seja alarmante e seus olhos estejam arregalados — Isso é normal.
Mas não é mesmo!
— Emma, seu cabelo está pegando fogo! — Amélia grita, de repente.
Ao ouvir isso, já em pânico, levanto-me e começo uma dança louca agitando as mãos entre pulinhos. Olho de relance para Liam, que ri da minha cara em completa satisfação e eu realmente teria ficado zangada se não estivesse em desespero. Tento conter a agitação para não tirar a concentração de Birc, mas cada partícula do meu corpo grita para que eu saia correndo dali. Aos poucos recobranco o juízo, minha respiração começa a estabilizar e a mente a pensar com coerência; desço o olhar para minhas mãos, perplexa com as chamas bruxuleantes que alternam de tamanho com cada movimento meu, dançando silenciosamente sem danificar a pele ou causar dor. Sem conseguir desviar o olhar, solto uma risada nervosa e aliviada.
— Maneiro. — murmuro.
— Emma, você poderia se retirar, por favor? — Myafa diz educadamente. — É que senão você vai acabar desconcentrando o Birc.
Me sentindo subitamente estúpida parada ali diante de três pessoas com olhos bem abertos me fitando, ergo o olhar para eles. O sorriso de Liam não podia ser mais incoveniente; Amélia não esconde sua empolgação, com as mãos unidas na frente do rosto como se estivesse rezando; Myafa, por outro lado, sustenta a expressão assustada, quase como se eu fosse matá-la ou algo do tipo.
— Tudo bem. — digo por fim.
— Vocês dois também, se não se importam. — ela sinaliza o par de irmãos de pé próximos à parede.
Ambos assentem e nós três saímos do porão. Do lado de fora, olho novamente para a minhas mãos, só para constatar que o fogo já não está mais ali. Amélia passa os dedos discretamente pelos meus cabelos, me fazendo erguer os olhos para ela. Não é comum nos tratarmos assim, então é inevitável a expressão desconfiada.
— Isso foi sinistro. — ela diz claramente animada — Você consegue fazer de novo?
Tento fazer o fogo voltar, mas, por mais concentração que eu tenha, não consigo. Até tento visualizar lareiras crepitantes, o fogo do isqueiro e, na tentativa mais profunda, os olhos de Birc na escuridão. Balanço negativamente a cabeça para Amélia que parece desapontada. Ela olha para os próprios pés, certamente pensando no que dirá em seguida.
— Você acha que mais alguém tem a capacidade de fazer algo assim? — pergunta.
Pondero uns instante. É possível, não é? Quer dizer, não é como se eu fosse a única Bouringor esquisita nessa casa.
— Talvez. — dou de ombros. — De qualquer forma, não importa.
Com um leve aceno, ela segue ao lado de seu irmão para a sala — que, a propósito, se limitara em lançar-me um sorriso debochado ao qual eu retribui com um revirar de olhos. Deixada sozinha no corredor, começo a refletir sobre não fazer a menor ideia de onde exatamente estou. Pela primeira vez desde cheguei, sinto a necessidade de olhar pela janela. Melhor, de tomar um banho.
Vou para o quarto, onde pego uma muda de roupa de Myafa. É um vestido tão verde quanto os cabelos dela... talvez não fique ruim em mim. Vou até o banheiro, que é pequeno e apertado, redondo como tudo ali. Só há uma privada engraçada, de cor azul escura com desenhos geométricos em sua base. Quando pego a toalha, que está bem dobrada em cima de uma mesinha, e o sabonete (nem sei se aquilo é de fato um sabonete, mas suponho que seja) Fico pensando em como essa gente é esquisita. Saio do banheiro e depois da casa, ao passar pela portinha redonda de madeira por onde eu vira Myafa passar algumas vezes.
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O país secreto.
FantasyEmma é uma jovem que gosta de fazer coisas diferentes, que fogem do cotidiano e quase sempre espera viver grandes aventuras com os irmãos e primos. Mas em uma tarde que parecia normal, Emma, seus irmãos, primos e amigos- Não necessariamente amigos...