Acordo na casa de um estranho

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      Estou desesperada; corro o mais rápido que posso, olhando para trás com frequência. O motivo de estar fugindo? Duas enormes águias me perseguem. Quanto mais rápido corro, mais as águas se aproximam. Estou chorando. As águias são dez vezes maiores que águias comuns, o que não faz muito sentido.

      Então tropeço não sei em quê e caio no chão, de barriga para baixo. Pelo menos pude evitar de meu rosto chocar-se contra o chão, com minhas mãos feridas. Então tento levantar para fugir, mas algo me impede, uma força me puxa para o chão. Consigo me virar no chão, de barriga para cima, enquanto espero a morte. Todo meu corpo treme.

      As duas águias me observam, até que uma delas, uma cinzenta, Tenta me carregar. Ela envolve suas garras em meu corpo doído e trêmulo, mas a força que me prende ao chão não permite que ela me leve. Suas unhas escorregam de mim, arranhando-me por completo. A dor é tremenda. Porém, em seguida, a águia cinzenta recua, parando ao lado de sua amiga igualmente monstruosa. Elas olham em volta, como que se tivessem sido chamadas.

      E, de repente, ambas evaporam.

      Continuo no chão, traumatizada, esperando as horríveis criaturas reaparecerem. Mas elas não voltam. Em seu lugar, outras duas figuras surgem, caminhando apressadas ao meu encontro.

      São minha mãe e meu pai.

      Papai segura uma caixa de primeiros socorros, e mamãe sorri estranhamente. Meu pai se abaixa perto de minhas pernas e começa a envolve-las em bandagens. Mamãe se agacha perto da minha cabeça e afaga-me os cabelos. É uma sensação reconfortante, saber que o perigi já não estava ali e que não voltaria enquanto meus pais estivessem ali para proteger-me. Anestesiada, noto que meu pai não está enrolando apenas minhas pernas, mas sim meu corpo todo.

      O torpor se mescla a uma sensação de alerta quando percebo de súbito que, na verdade, estou morta, e papai está me transformando em uma múmia.

      Acordo berrando e chorando. Minha camiseta está bastante molhada devido ao suor, e vejo que, na verdade, quem afaga meus cabelos é minha prima Dianna. Ela arregala os olhos e me segura pelos ombros.

      — Emma, Emma... — diz assustada. — Calma. Você só está com febre.

      — Eu morri, Dianna. — resmungo, embora estivesse delirando. Ciente de que poderia estar falando bobagens, tento manter o controle.

      — Você não morreu. — Os olhos bondosos de Dianna me encaram com ternura, sua voz é suave como seda. — Morto não fala.

      Então olho em volta e me dou conta de onde estou. É um quarto completamente estranho para mim, além de não ser um quarto muito normal; É tão redondo, que por um instante, acho que estou aprisionada num globo de neve. Suas paredes são pintadas de um verde bem chamativo, e o piso é marrom. A cama tem um estranho formato triangular. Tento falar, mas não consigo, então Dianna se limita a afagar-me os cabelos na tentativa de me tranquilizar. Percebo que seus trajes mudaram, e agora ela usa um bonito, porém simples, vestido azul de colarinho alto bem justo ao seu corpo, mas com uma saia solta e esvoaçante a partir da cintura. Seu cabelo está amarrado para cima em um coque que, diferente da noite anterior, está bem amarrado sobre a cabeça com apenas dois cachinhos soltos em cada lado do rosto, deixados ali propositalmente.

      — Você não teve muita sorte ao passar pelo portal. — ela dá de ombros. — Foi uma dos que desmaiaram.

      Portal? Aquele portal brilhoso? Não pode ser... por um instante, cheguei a acreditar que aquilo também fizesse parte do meu sonho...

      Passo as mãos no rosto para certificar-me de que já não há mais nenhuma lágrima. Agora eu estou de volta à realidade.

      — Como assim, Dianna? — minha voz soa mais cautelosa do que eu gostaria. — Onde estamos? Quem mais desmaiou?

      Ela suspira tristemente.

      — Não sei. Arismir disse que iria esperar vocês acordarem para falar tudo de uma vez. — diz ela. — E os que desmaiaram foram você, o Will e a Amélia. Amélia já acordou, quem ainda está desmaiado é Will.

      Mas minha mente tinha parado de processar informações quando o nome estranho fora mencionado. Franzo o cenho, me inclinando em sua direção.

      — Aris... o quê? — pisco, tentando decifrar que espécie de nome é aquele.

      — É o nome do dono da casa. Aqui as pessoas têm esses nomes malucos. — ela dá de ombros.

      Não estendo o assunto. Passar através de uma bola de luz em uma casa abandonada era suficientemente esquisito para eu estar me procupando em criticar a esquisitisse dos nomes alheios. Só o que eu me pergunto é em que parte do mundo eu estou, para que os residentes fossem tão excêntricos assim. Em meio a minha confusão mental, outro tema me acerta feito uma bordoada.

      — Dianna... — hesito por uns segundos. — por quanto tempo eu dormi?

      — Não sei. Quando entramos aqui, todos os aparelhos eletrônicos pifaram. Acho que a energia aqui é muito forte. Mas suponho que foi por pelo menos um dia. — Sua voz falha no finalzinho. Consigo sentir a tristeza que emana de si e a forma como seu rosto ficou sombrio de repente.

      Dianna se levanta da cama, atravessa o quarto e vai até a janela redonda que fica de frente para a cama na qual estou deitada. Ela empurra as cortinas douradas para os lados e olha para fora entristecida. Tento me levantar também, mas minha cabeça dói muito, então permaneço deitada. Estreito os olhos para ver o que há lá fora, mas não vejo muita coisa além de umas casinhas redondas. Dianna suspira.

      — Só espero que meus irmãos estejam bem. — ela diz, o que provavelmente estava entalado em sua garganta.

      É como levar uma bofetada. Meu coração erra uma batida e meus olhos se arregalam.

       — O quê?! — minha voz soa esganiçada e alta demais — Não acharam eles ainda?

      — Arismir disse que eles podem ter sido sequestrados. — ela volta seus belos olhos castanhos para mim. — E além do mais, mesmo que achemos eles, como voltaremos para casa?

      Agora entendo o porquê do desânimo de Dianna. Eles ainda não encontraram os quatro, e nem vamos encontrar tão cedo. E a parte pior é que estamos condenados a morar nesse lugar aqui, que nem sei onde é, para o resto de nossas vidas.

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