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      Hellena e eu descemos as escadas com cautela. Sinceramente, não sei o que pretendemos fazer lá embaixo, mas ficar no quarto eu já não conseguia. Enquanto caminhamos pelo longo corredor escuro, sinto a mão de Hellena segurar no meu braço. Por mais rebelde que seja, sei que ela morre de medo de escuro.

      Chegamos à sala e a atravessamos. Abro a janela para admirar o céu à noite. Sei que está bem longe da hora do sol despertar, mas quero ver a lua espreitando entre as nuvens densas, as estrelas salpicando a imensidão; cada constelação parece trazer uma mensagem, algo que eu jamais decifrarei e ainda assim me deixa sem fôlego. Hellena está em algum lugar atrás de mim; não presto muita atenção ao que ela está fazendo, não com toda a beleza do céu diante de mim.

      — Emma... — sinto Hellena puxar o meu braço.

      — Ora, ora. Achei que a solzinha só ia para a janela ver o sol nascer. — conheço essa voz... me viro quase imediatamente e vejo quem está parado atrás de mim.

      — Liam... — digo entre os dentes.

      não só Liam, como Will, Chris e Amélia, todos enfileirados exibindo expressões zombeteiras que me dão nos nervos. Liam, o mais alto dos quatro, tem os braços cruzados sobre o peito. Por seu pijama amarrotado e os cabelos despenteados, é fácil deduzir que ele estivera dormindo pouco tempo antes, mas agora, aparentemente, está acordado o suficiente para me encarar com esses olhos verdes-amarelados cheios de veneno. A irmã dele, Amélia, sorri alegremente, se divertindo com a situação — talvez ela ache legal a ideia de encontrar pessoas vagando pela casa em período noturno. O rosto muito branco da garota está emoldurado pelas cortinas caramelo de seus cabelos extremamente lisos, e seu pijama é tão ridículo quanto ela própria — certo, talvez eu odiasse estampas de gatinhos. Will, o idiota do meu irmão, está bem ao lado dela, babando como sempre, e o Chris, à sua direita, está do mesmo jeito que antes, como se ainda sequer tivesse tomado banho.

      — Acho que ela gosta de ver a lua também. — Chris ri.

      — Cala essa boca, carente de cérebro.- Digo, irritada. Com a visão periférica, percebo Hellena parada em um canto, observando, como se estivesse assistindo uma peça de teatro bem mal feita.

      — Mas... — Will encontra dificuldade em desviar o olhar de Amélia para voltá-lo para mim — o que fazem aqui uma hora dessa?

      — Sabia que não é da sua conta? — falo.

      Will arregala os olhos.

      — Tive uma ideia!

      — Vindo de você, suponho que não seja lá essas coisas... — Ri Hellena, um som rápido e contido, repleto de sarcasmo.

      Liam revira os olhos.

      — Então fala logo.

      — Não acham que é muita coincidência termos vindo parar aqui quase na mesma hora? — continua Will. Apesar da pouca luz, posso ver que seus olhos brilham de uma empolgação assombrosa — Isso é coisa do destino!

      Chris gira os olhos.

      — Era só o que me faltava... — ele murmura, balançando a cabeça.

      — Coincidência, sim.- começa Amélia, deixando que seu sorriso exagerado fosse substituído por uma expressão pensativa. — Mas destino... você realmente acredita nisso?

      — A Emma, o Chris e a Hellena sabem qual é minha ideia. — Diz Will, agitando os braços de forma exagerada.

      — Sabemos? — Hellena arqueia as sobrancelhas.

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