A confissão de Demmie.

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      Eu observara a falsa Dianna por bastante tempo, estudando suas expressões e seu jeito estranho de agir. Preciso ter certeza que a garota de meu sonho dissera a verdade, para então desmascará-la. Algo dentro de mim já desconfia da menina, mas minha insegurança ainda grita mais alto.

      A tarde ensolarada é um tanto incômoda quando andamos incessantemente por uma floresta repleta de buzzes. Por não ser muito fã de caminhadas, minhas pernas doem furiosamente e tenho a necessidade de parar vez ou outra e respirar grandes golfadas de ar, até que me recomponho e retomo meu caminho. O coração e a mente experimentam um turbilhão de sensações, e o desconforto é a mais presente. Sem contar com o medo. Medo de perder minha família, ou de alguém já ter morrido e eu não saber. Hellena, embora gaste a maior parte do seu tempo rindo e discutindo com Vedir, vejo que está mal. Porém, antes de questionar o que se passa com ela, devo escrever mentalmente uma entrevista completa para realizar com Dianna — ou a réplica dela.

      Penteio os cabelos curtos com os dedos e depois esfrego as mãos sujas. Acho que um banho seria mais do que bem-vindo, dadas as minhas condições. Quando eu montava acampamentos no jardim, saía assim que me cansasse, tomava uma boa chuveirada, comia a deliciosa comida da minha mãe, escovava os dentes decentemente e ia dormir na minha maravilhosa cama macia. Dessa vez eu não tenho escolha.

      Fazemos parada para comer e descansar quando o céu adquire um tom alaranjado sugerindo o fim de tarde. O lugar não é dos mais confortáveis, mas para mim está ótimo. Há árvores secas ao redor, um gramado fofo e uma bela vista do pôr-do-sol. Excelente.

      — Emma — Larm aponta sua harpa para mim e sorri. — Buscar lenha. Anda.

      Tento reprimir o sorriso quando vejo o olhar maldoso de Hellena e sigo com ele de cabeça baixa. Quando tomamos uma boa distância do grupo, ele começa a recolher os galhos do chão em silêncio, e eu apenas o estudo, abaixado e concentrado, separando os melhores galhos e os pondo de lado. Balanço-me para trás e para frente, assobiando.

      — Vai me ajudar ou não, meu amor? — ele diz.

      Abaixo-me ao seu lado e ajeito o vestido para não aparecer o inapropriado. Acompanho-o na seleção da lenha o observando com o canto do olho. O suor lhe escorre pela lateral do rosto, seus olhos estão completamente negros — ele os mantém assim para evitar perguntas e só os põe normais quando está a sós comigo — e o cabelo cai em sua testa e prende-se atrás da orelha. A barba já está na hora de ser aparada. Mas apesar de tudo, Larm tem aquela aura brincalhona e pouco coerente que me fez achá-lo um lunático em nosso primeiro encontro. Emana leveza, como uma criança em um corpo adulto — é fácil estar com ele. Noutra ocasião, eu suporia que um homem como esse nunca se interessaria por uma garota como eu... e talvez seja assim, afinal.

      Permaneço quieta, realizando o trabalho monótono, até que ele resolve falar:

      — Meu amor, você anda estranha ultimamente. — ele pausa por uns instante. — Não que não seja sempre, mas tem se superado.

      Olho-o diretamente, abandonando o que fazia. Ele, no entanto, nem sequer me lança um rápido olhar.

      — Não sei do que está falando — retruco, embora seja uma grande mentira.

      Larm suspira e ergue um olhar cansado para mim. Seu sorriso tarda, mas vem, e logo seus dedos correm por meu rosto e param em meu queixo, causando um arrepio involuntário.

      — Você tem passado muito tempo quieta e quase matando sua prima com os olhos.

      — Ela não... — me detenho. — Isso não é verdade...

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