Uma surpresinha

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      Estamos andando há horas.

      Sequer cochilamos após aquele incidente com a metamorfa que se passava por Dianna e, cá entre nós, não acho que seríamos capazes disso. Andar é bom para distrair a cabeça; muito tempo parado faz a mente trabalhar demais.

      A calcular pelo tempo em que o sol se pôs, eu posso supor que seja umas onze horas da manhã no meu mundo. Seria mesmo muito bom se eu pudesse usar algumas tecnologias por aqui. Eu nem sei que dia é hoje! Será que já completei dezesseis anos? Puxa, não tenho ao menos ideia da minha própria idade!

      Solto um suspiro cansado, ansiosa pela hora em que pararemos e descansaremos. Sinto um braço pesar em meu ombro e percebo que é Larm. Mas estou esgotada o bastante para não ficar tensa com o que Liam vai pensar disso.

      — Parece que você não dorme há décadas — comenta ele. — Ficou chocada com o que houve com a metamorfa?

      Seguro sua mão que está pendurada em meu ombro, esforçando-me para não deixar as pálpebras cederem.

      — Está brincando? — forço um sorriso. — Eu vejo isso todos os dias, é perfeitamente normal.

      Ele sorri, me avaliando.

      — Fico pensando em como você mudou.

      Ergo o olhar para ele, curiosa. Seu rosto continua belo e anguloso e sua expressão é a mais tranquila possível — há em seus olhos totalmente negros aquele ar lunático que o caracteriza, mas a paz em seu rosto é novidade.

      — Mudei nada — contradigo. — Você é quem vê coisa onde não tem.

      Ele gargalha sonoramente, se inclinando para me dar um beijo no rosto.

      A paisagem agora é quase toda verde. As árvores, os arbustos e a relva. As únicas coisas que se destacam são o vasto céu azul e as trilhas de terra, tal como a que seguimos. Giroy e Vedir vão liderando o grupo, logo seguidos de Demmie e Jayssa. Após eles vêm todos os outros, e por últimos estamos Larm e eu. Conversas enchem o ar, o que torna impossível prestar atenção em uma só. Então prossigo abraçada à Larm.

      Larm e eu deixamos o grupo se afastar e ficamos para trás propositalmente. Ele olha em meus olhos, afastando o cabelo do meu rosto.

      — Por que fui gostar logo de você? — e me dá um beijinho rápido nos lábios e depois na testa.

      — Porque é impossível alguém não gostar de mim.

Ele ri, se separando um pouco de mim e segurando minhas mãos. Seus olhos estudam os meus, indecifráveis, e tudo o que quero é que esse momento dure para sempre. É esse o efeito que Larm tem sobre mim... me faz querer congelar o tempo e estudar seu rosto até o fim da vida.

      Uma gargalhada distante me traz de volta à realidade. Recolho minhas mãos das de Larm e giro o pescoço em busca da fonte da risada.

      Ao longe, posso ouvir a um diálogo; claramente, há pessoas não muito longe daqui. Caminho hesitante em direção às vozes.

      — ... Nessa bosta de lugar... — diz uma voz masculina muito familiar.

      Aguço a audição, me afastando ainda mais de Larm, que fica me avaliando com curiosidade.

      — O quê...? — ele começa.

      — Shhhh!

      Piso com cautela, me aproximando de uns arbustos. Sinto Larm me seguindo, mas ele não solta nenhum outro ruído.

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