O início da guerra.

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      Eu gostaria de ser forte. Gostaria de ser corajosa, de poder enfrentar o que viesse sem temer. Gostaria de manter minhas emoções ocultas, mesmo que por um instante, para encarar tudo o que está havendo... uma pena que tudo isso não passe de um desejo. Que a Emma da vida real seja tão fraca, uma menininha, e não uma guerreira. Que eu esteja com tanto medo, que minhas pernas tremem mais que vara verde. Que meu coração esteja em frangalhos...

      Encaro o majestoso castelo à minha frente, uma enorme construção semelhante a uma escultura de gelo. Escuto várias exclamações de surpresa dos meus amigos, mas não consigo reproduzir uma palavra — o castelo é de tirar o fôlego. Há um córrego estreito com uma ponte graciosa sobre ele, e uma muralha do outro lado com portões altos. Guardas trajando cotas de malha e elmos de guerra ladeiam os portões, trazendo finas lanças afiadas, e um deles grita:

      — Quem vem lá?

      Will, Hellena e eu, os primeiros a chegar, recuamos alguns passos. O dia está deslumbrante — maravilhoso para uma guerra sangrenta. Will revira os olhos.

      — Que clichê — balbucia ele. — Só falta ele chamar outros guardas e gritar "peguem-nos".

      Eu preferia que Will tivesse ficado quieto, porque menos de um segundo depois, o outro guarda faz exatamente isso. Hellena dá um tapa na cabeça dele.

      — Ô, boca! — reclama ela, empurrando-o para trás. — Fora daqui. Agora!

      Will tropeça nos próprios pés, antes de sair correndo para uma pequena floresta no alto da montanha. Hellena toma a frente da situação e, num piscar de olhos, está totalmente branca.

      Esfrego os olhos uma porção de vezes, sem conseguir acreditar. Eu nunca vira Hellena se transformar tão rapidamente e estou desnorteada o bastante para não conseguir nem me mover. Do outro lado, o portão se abre. Uma multidão de guardas armados aglomeram-se na entrada. Eles partem em nossa direção, começando pela ponte... é nesse momento que Drafe surge com mais três de nós — Giroy, Vedir e Jayssa — desaparecendo logo em seguida.

      — Lena! — grito, enquanto ela aguarda, pronta para o ataque, os guardas se aproximarem — Como você...?

      — É só praticar, Solzinha.

      Ela bate o pé no chão com força e, como em uma dança bem ensaiada, gira nos calcanhares, apontando a mão aberta para eles, de onde brotam lanças de gelo. Os guardas estão no meio da ponte, quando os primeiros cinco são abatidos e caem no rio. Jayssa abafa um gritinho. Giroy e Vedir param cada a um a um lado de Hellena, com suas espadas a postos, para o caso de os guardas chegarem perto demais. Jayssa e eu estamos em um transe tão profundos, que estamos congeladas — não ao estilo Hellena, claro.

      — Emma! — chama Hellena, lançando suas lâminas de gelo nos guardas, que parecem aumentar de quantidade ao invés de diminuir. Percebo com horror que eles já estão praticamente no final da ponte. — Eu não vou dar conta deles sozinha!

      Engulo em seco, acordando para a realidade. No que eu estava pensando? Eu estou em uma guerra! Cerro os punhos, passando direto por Jayssa e parando bem ao lado de Giroy. Semicerro os olhos para o exército.

      Eu sei, usar meu dom requer concentração. E como eu me concentrarei com um exército inteiro diante de mim, quase assinando minha sentença? Respiro fundo um monte de vezes, para me acalmar, mas os gritos de guerra e uivos de fúria dos guardas não cooperam. Fecho os olhos.

Não é questão de me concentrar, penso. Basta eu olhar para eles e pensar que eu tenho que fazer isso. Ou Luize e Stive morreram por nada. E eu morrerei por nada também.

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