Passo mal

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      Enquanto a água invade a garrafa, meus pensamentos vagueiam para muito longe — um sobre o outro, de modo que me deixa confusa. A luz ofuscante do sol não ajuda e começo a ficar desconfortável. Uma coisa puxa a outra, um pensamento se mistura ao outro, e sinto os olhos arderem. Será que Dianna está bem? Se está, o que acontecerá com o seu sequestrador? Por que Liam tentou me beijar? Será que tentou mesmo, ou é só coisa da minha cabeça?

      Meu coração dispara e caio para trás. Não estou bem. Abraço os joelhos e fecho os olhos com força, tentando parar de pensar, o que é impossível.

      Minha mãe, meu pai, como será que eles estão? E meu irmão?

      Pressiono as mãos nos ouvidos, com vontade de gritar, berrar, espernear. Mas não consigo.

      Então o rosto de uma Hellena aborrecida aparece por baixo de minhas pálpebras, me forçando a abrir os olhos. Quando o faço, vejo várias formas coloridas diante de mim, e é o princípio de um desmaio.

      Pouco antes de desacordar, vislumbro a forma de uma garota sair do riacho. Jayssa.

""

      — Emma... — a voz parece distante, como se estivesse a muitos quilômetros de mim. — Você está bem?

      Meus olhos se abrem lentamente e vejo Jayssa inclinada sobre mim. Seus longos cabelos negros roçam minha barriga, e sua expressão é de preocupação. Eu desmaiei. Isso está claro. Mas por quanto tempo? Melhor, por quê?

      — Jayssa... eu... — quando tento me levantar, é como se uma força tremenda me puxasse para baixo.

      — Emma. — ela sorri minimamente e consigo sentir sua hesitação. — Que bom que está legal. É que eu preciso falar com você.

      — Mas me explica... — me sento com esforço. Meu vestido está encharcado graças a garrafa de Larm que derramara todo o seu conteúdo sob mim. — Por que eu... por que aconteceu isso?

      — Emma, olha só. — Jayssa se senta, cruzando as pernas. Parece mais pálida que da última vez, embora o azul de seu vestido esteja bem mais intenso. — Você não pode deixar-se dominar pelos Manipuladores...

      — Birc...

      — Quem te garante que foi ele? — ela olha em volta e se aproxima mais de mim, como quem vai contar um segredo. — A verdade é que não foi o Birc. Eu vou te contar uma coisa, mas você tem que me prometer que não vai desmaiar de novo.

      Assinto, fracamente.

      — Eu estava nadando pelo rio mais próximo do castelo a fim de descobrir novidades. — Ela diz com a voz aflita. — Então eu acabei escutando uma conversa... Emma, você e os demais integrantes da caverna terão que vir com a gente. Para resgatar seus primos e seu irmão... vocês não podem mais ficar lá. Vim te avisar o mais rápido possível.

      — Como é? — Pisco sem entender. — Por que diz isso?

      — Emma, eles descobriram. Descobriram seu esconderijo. — Ela se afasta e me fita. Seus olhos azuis estão normais, como os de qualquer pessoa do meu mundo, mas com certeza o tom azul intenso não poderia pertencer a ninguém de lá.

      O medo toma conta de mim. Meu cérebro começa a ficar carregado de perguntas, mas as reprimo ao máximo que posso.

      — Vão mandar capangas atrás de vocês. — completa. — Vocês precisam vir com a gente. Nós os vamos treinar, aprimorar suas habilidades, fazer com que se tornem imbatíveis.

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