sete - violentamente

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Capítulo sete de estranhamente.

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Será mesmo, Gramsci, que é preciso atrair violentamente a atenção para o presente do modo como ele é, se se quer transformá-lo? Pessimismo da inteligência, otimismo da vontade? Você realmente concorda com isso? Porque enquanto eu corria e meu coração batia violentamente contra minha caixa torácica e meus pulmões esvaziavam agressivamente sua reserva de oxigênio em meu sangue que corria tentando alimentar minha ação provocada por ideações de Freud, eu não queria atrair atenção para o presente como ele é, mas lamentar o que eu queria que fosse.

E nessa linha, pude concordar ainda mais com Freud e seu dizer que a maioria das pessoas não quer realmente a liberdade, pois liberdade envolve responsabilidade, e a maioria das pessoas tem medo de responsabilidade, porque me dei conta de que sim. Eu tinha muito medo e não estava pronta para a liberdade.

Corri e apenas corri. Já não enxergava nada porque meus olhos não queriam ver, apenas serem banhados no sal ardente que guardavam. Já não ouvia porque meus ouvidos só idealizavam um ruivar do vento em uma velocidade que eu não tinha.

E bem sabia que corria violentamente entre as pessoas, mas não me importava mais. Não até minhas pernas falharem e eu ser piedosa o bastante para me sentar e não desabar no chão ao fim da força que já não tinha.

Como disse, eu não via nada. Nem mesmo sabia onde estava ou sentia onde meu corpo havia repousado. O que eu sabia era apenas que eu queria desistir e ir para casa, mas que casa? Porque sem ir para a faculdade, eu teria de voltar para mamãe e papai. Indo para a faculdade, eu teria de passar por toda aquela gente sufocante e suas dores.

Algo entre isso é justo? Eu quero desistir. E bom, Gramsci, se contra o pessimismo da razão, o otimismo da prática, eu prefiro a razão que a prática impossível. O pessimismo é nele mesmo péssimo, mas isso não queria dizer que não era uma saída justa para o sofrimento, não é?

Ser pessimista era tudo que eu podia ser porque tudo o que eu podia fazer era seguir a razão. De resto, algo aconteceria, eu tinha certeza.

— Escute aqui...

A voz dela sacudiu meu corpo em tamanha força que me tirou as lágrimas para que pudesse vê-la em todo seu esplendor. Ela estava diferente, mas estava ali comigo como nunca imaginei que alguém estaria, e meu coração gritou angustiado um som que não passaria de minha garganta porque era tudo o que eu podia esconder entre as coisas que entregava a Camila.

Meu corpo soube o que fazer tanto quanto minha mente, e isso reduzia para zero em ação. Que tolo! Me apoiou que eu não caísse para trás, mas esqueceu de reagir devidamente sobre Camila, o que foi uma incapacidade estúpida. Não consegui não demostrar que sentia dor, nem tremer com o susto de sua aparição. Eu apenas existi diante de sua presença luminosa, minha respiração fugindo como se quisesse que eu morresse olhando seu rosto enquanto implorava que não me visse assim.

Ela me olhava e era isso. No entanto, eu a olhava, e por isso existia.

— O que aconteceu? – ela perguntou, mas eu não conseguiria vomitar as palavras em vez do conteúdo em meu estômago, e foi por isso que decidi manter a boca fechada, usando apenas a cabeça silenciosa fora de meus sentimentos confusos – alguém fez algo contra você? Você se machucou?

Neguei, neguei e neguei. Não sabia como explicar se dissesse que sim sem parecer uma idiota, porque no dizer de Gramsci que o presente contém todo o passado, tal passado havia sido ruim o bastante para tentar negá-lo no presente mesmo diante de sua permanência e consequência evidente.

Camila parou por uma eternidade, isso figurativamente. Quis dizer apenas que ela demorou, me olhando como se esperasse que algo acontecesse, mas diante do nada, prosseguiu.

LIVRO 2 - intensamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora