vinte e cinco - completamente

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Essa é uma escrita bem mais aprofundada do capítulo 30 de estranhamente que é narrado pela Lauren.

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Paulo Coelho me incentivou dizendo que não existe nada de completamente errado no mundo. Mesmo um relógio parado consegue estar certo duas vezes por dia. Incentivo tal que me colocou na posição de fazer exatamente o que queria sem culpa. Eu merecia isso, afinal. E não estava errada. Ao menos não completamente, olhando pelo ponto de vista que me favorecia.

Dessa vez vou me colocar mais profundamente e completamente do que todo o resumo que minha mente poderia fazer para apressar as coisas, já que estou em controle de minha vida nesse ponto. Sim, eu apenas segui como bem disse, e os ouvi em discursos.

— Já sabíamos, não é – mamãe dizia, olhando pelo retrovisor.

— Agora você nos deu a certeza. A nós três – papai disse – não pode viver sem nós, Lauren. A faculdade é muita coisa para você e sempre vai poder fazer suas bagunças em casa.

— Estou decepcionada que se deixou levar por essas... essas garotas – mamãe suspirou – você sabe que precisa de tratamento, Lauren. Fica tão melhor com ele. Agora nem olha mais para nós...

Não mesmo. Eu não queria me esforçar com coisas levianas. Eles ficariam felizes quando eu fosse boazinha e continuasse a ir, e ficariam felizes que eu parecesse melhorar de algo que não fazia sentido porque as pessoas tendem a amar e se tranquilizar pelo o que não faz sentido em qualquer outra forma que não for a que lhes cabe. É algo que se aprende quando se passa a vida sendo subjugada a males que nunca foram para os bens. Não para mim. E ainda que eu realmente tente compreender meus pais...

- Eles me estupram - cortei seus discursos com o que vinha guardando e mastigando enquanto estávamos a caminho e papai parou o carro para não o bater, coisa que talvez aliviasse meu martírio, mas que também não me levaria de volta para casa - por isso eu faço de tudo para não ir. Não posso...

Suspirei.

- Isso é algo horrível para se dizer - papai pareceu horrorizado - quem colocou essas coisas em sua cabeça? 

- Você não sabe o que está dizendo, Lauren! - mamãe levantou a voz com aquela expressão estranha e indecifrável para mim - não sei quem inventou isso para você, mas acha mesmo que nós deixaríamos algo acontecer com você? É nossa princesa, quando você está melhor...

Ela suspirou.

- Nunca deixaríamos nada acontecer com você, Lauren - papai continuou - não fale do que não entende. Peter nos indicou o melhor lugar...

- Peter sabe que eu sou estuprada - disparei antes que não conseguisse falar.

- Lauren! - mamãe exclamou - eu não sei o que as pessoas com quem conviveu fizeram com você... nossa garotinha tão inocente... você não sabe do que está falando, eu sei que não. Nunca deixaríamos ninguém machucar você.

Papai se virou para me olhar, mas não consegui sustentar meus olhos nos dele.

- Vê? Nem nos olha mais e acha que sabe alguma coisa sobre essa atrocidade! - suspirou - é por isso que não pode sair de nossas vistas, é muito influenciável. O que mais fizeram? Te deram drogas?

Tecnicamente, remédios eram drogas, certo? E Camila tinha me dado algo para me acalmar, o que queria dizer... - apertei os lábios tentando conter um sorriso perigoso que apenas Camila poderia me causar.

- Você... você usou drogas, Lauren Michelle? - mamãe desafinou dois tons e eu quis rir, mas me controlei porque eles não entenderiam o que era tão engraçado assim.

LIVRO 2 - intensamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora