treze - normalmente

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Capítulo 13 de estranhamente.

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Blaise Pascal, matemático, escritor, físico, inventor, filósofo e teólogo entrou nessa história dizendo que normalmente, convencem-nos com mais facilidade as razões que nós próprios encontramos do que as que vieram ao espírito dos outros. Acho que isso explica tudo o que aconteceu.

De alguma forma que não importa se consciente ou inconscientemente, criei em minha mente a normalidade em dormir com Camila logo assim, na primeira noite em que estive deitada ao seu lado em sua cama confortável que me proporcionou o melhor sono de minha vida. Isso era perfeitamente óbvio e aceitável para mim porque se estávamos namorando, então estávamos compartilhando uma vida, certo?

Ao menos uma vida, não todas. E digo isso não no sentido de reencarnação, mas no meu tratamento sigiloso que acredito não ter motivo algum para comentar. Camila sabia quem eu era e porquê eu passava pelo que passava, visto que ela, melhor que qualquer um ao meu redor, sabia sobre tratamentos para cabeças como a minha, logo, era perfeitamente aceitável meu silêncio diante do desagradável, sobretudo depois de provar de um sentimento genuinamente macio em uma perturbação perfeitamente agradável.

Permaneci nesse sonho real até ouvir seu alarme gritar. Oh, droga! Isso teria de acabar ou minha cabeça sairia correndo daquele quarto. Eu não me sentia muito disposta depois de tudo o que aconteceu ontem. Creio que gastei mais energia do que possuía para tirar de Camila e de mim nossos sentimentos uma pela outra. De minha parte, isso era esmagador. Havia uma tonelada de nada em cima de mim, mas acredite, o nada pesa mais que o tudo. O tudo é palpável de alguma forma, permite resistência, mas o nada, esse é confuso e tão invisível que se livrar dele exige mil vezes mais forças, o que eu não tinha nesse instante.

Ainda assim, eu sabia que precisava agir. O barulho não estava perto de mim, então restava a Camila. Por isso arrastei todas as minhas forças para fora de meu corpo, tentando fazer com que deslizasse por minha garganta e formasse algo com algum sentido para que minha língua estalasse no céu de minha boca e as estrelas de sílabas confusas explodissem unidas para fora de meus lábios.

- Para... - usei do básico e o barulho sumiu rapidamente. Voltei-me para Camila, que tinha olhos bonitos no despertar. Era como o leito de um rio que corre apressado em entregar vida e beleza a natureza ao seu redor. Eu podia sentir seu frescor e a ilha castanha escondida no reflexo de sua água corrente e límpida. Era intenso de uma forma que nada nessa vida conseguiria ser.

Camila... Camila... Camila... Camila que flui de seus olhos para os meus e desaguam tornando os meus mais claros, brilhantes e confortáveis. Ela era o deleite que meus olhos tinham o prazer secreto de devorar, de beber de sua fonte e saciar minha sede por conforto e segurança. Eu só queria agradecer, mas minha boca estava paralisada bebendo de sua existência por sua respiração preguiçosa.

- Bom dia, Lern... - murmurou meu apelido naquele tom íntimo tão particular.

Tentei me desconectar e voltar para a realidade em que nós duas existíamos e eu era um ser humano capaz de me comunicar, mas desisti quando nada saiu, refletindo ao mirar em seus olhos e me ver se isso seria muito ruim.

Eu estava exausta demais.

- Eu preciso levantar - disse a mim - eu tenho aula, mas você pode ficar aqui o quanto quiser.

Queria ficar ali, mas queria ficar com ela. Eram sentimentos necessários de ambas as formas. Descanso corporal. Descanso sentimental. Camila.

- Vou me arrumar - ela precisava mesmo ir? Segurei sua mão quando fez menção em levantar e sair, querendo dizer o tudo que o nada em cima de mim representava, mas não conseguindo nada além de sentir sua maciez quente e uma esperança desvairada.

LIVRO 2 - intensamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora