dez - curiosamente

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Capítulo 10 de estranhamente.

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Perversidade é um mito inventado por gente boa para explicar o que os outros têm de curiosamente atrativo, disse Oscar Wilde, que é o mesmo cara que falou que a vida é muito importante para ser levada a sério. Ou seja, fácil de reconhecer.

Penso nas duas afirmações e o quanto nisso poderia estar certo ou errado, ou mesmo se deveria estar certo ou errado. Afinal, o que é a perversidade? Acho que, se ela é um mito, então não é importante.

O que importa é a gente boa explicando o atrativo nos outros porque... eu não sei dizer se isso faz com que minhas afirmações sobre Camila estejam erradas, ou que eu sou uma pessoa boa no fim das contas. E o que importa, também, é que em sua célebre frase, Oscar Wilde me colocava para pensar sobre a importância da vida. Isso porque eu não a via como tão importante assim, então ela devia ser levada a sério, indo de encontro ao que ele afirma?

Eu estava determinada a ficar debaixo das cobertas tentando decidir se a vida é importante ou não, ao menos até estar sozinha e pegar minhas coisas e ir embora como Camila mandara. Mas como uma pessoa nada boa, a curiosidade me abateu com sua entrada em meu quarto.

O que Camila tem de atrativo? Tudo. Isso era inexplicável. E eu a olhei ali, apenas os meus olhos a vista temendo que me mandasse embora imediatamente, mas o que ela disse foi bem estranho.

- Vamos, Lauren. Temos aula. Não posso me atrasar e nem você. Precisa persistir, sabia? Anda, levante e se arrume.

Eu não ia perder meu tempo indo dolorosamente para a faculdade porque quando eu voltar para casa meus pais não vão me deixar continuar porque sabem que não consigo. Sabem que sou incapaz.

- Eu não vou. Pode ir embora - rejeitei.

- Vai sim! Anda, sai daí debaixo e põe uma roupa de ir pra faculdade. Vai sair querendo ou não, com toda gentileza falando, claro.

Que maluca!

Me embolei debaixo das cobertas para que ela não me visse sofrer.

- Eu não vou. Nunca mais eu vou sair de casa, então não vou nunca mais.

- Você não pode desistir assim! - rebateu incoerentemente.

- Eu não posso mais - murmurei.

Eu não sei dizer o que é perversidade, mas aquilo soava como uma para mim. Perversidade é uma palavra que me arrepia em cada letra, dizer que não posso belisca minha pele em pequenos pontos todos de uma vez, como eu imaginava que aconteceria um choque elétrico de pequeno grau. Isso soava bem parecido para mim.

- Vamos, Lauren, eu prometo que dessa vez eu te acompanho e até te apresento alguns amigos - Camila ofereceu.

Ela estava tão bem disposta em suas palavras, que eu só pude me entregar para que me entendesse, e, curiosamente, foi fácil demais. Era sempre fácil demais, talvez isso soasse como algo perverso, mas eu apenas deslizava de mim para Camila.

- Tinha aquela menina - contei ainda debaixo das cobertas - ela tentou falar comigo, mas... ela me tocou e... e eu odeio que me toquem... então eu fugi.

Foi horrível. Doeu tanto... e não tinha nada que me protegesse. Não que exista algo que me proteja sempre ou... ok, estou confusa. Essa coisa de proteção é complexa demais. Complexa como entender a perversidade.

Camila ficou em silêncio e isso pareceu levar tanto tempo que tive medo do que falei. Mas não dava para mudar e tomar de volta essa informação. Está vendo? Por isso informações são sigilosas. Uma vez que as entrega, não dá para tomar e não é mais algo seu.

LIVRO 2 - intensamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora