doze - fortemente

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Capítulo 12 de estranhamente.

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O bem conhecido Leon Tolstói refletiu uma vez que apenas as pessoas que são capazes de amar fortemente podem sofrer grande tristeza, mas esta mesma necessidade de amar serve para neutralizar a sua dor e curar. Já eu, eu refleti sobre minha capacidade de sofrer uma tristeza. Isso quando eu achei que já tinha tido o bastante e percebi que não.

Posso não olhar nem participar, mas com certeza escuto. Dinah e Normani estavam animadas enquanto andávamos pela faculdade. Tagarelavam alto sobre roupas e maquiagens, sobre pessoas cheias de nomes e lugares cheios de dedos. Era uma festa. Eu não gosto de festas nem no conceito de sua existência, então pulo para um outro fato sobre mim que é a associação. Quando as meninas disseram sobre a tal festa, soube imediatamente que Camila iria. Não precisavam dizer nada, eu apenas sabia.

O que eu sabia, também, é que eu não queria que ela fosse. Sobretudo quando a tal Dakota apareceu perguntando se minhas amigas também iam.

Também. Guarde bem isso.

Depois disso, como sempre, fui cuidar da cabeça. Estava tão longe, pensando e pensando, que me esqueci de ser totalmente boazinha, o que me machucou, mas, afinal, não é possível ser bom pela metade, não é, Tolstói? Essa é a grande coisa que me coloca sempre onde estou agora. Camila perturba minha órbita. Por vezes só consigo pensar nela, e quando penso nela não penso em mim. Não em tudo o que sou, pelo menos. Penso em tudo o que ela é e enquanto meu corpo treme e deseja socorro eu não consigo sentir tanto horror, mas ansiedade em vê-la novamente.

Por isso, ignorando qualquer dor e apenas me livrando da casca em que me colocavam e quebravam somente para me causar dor e me lembrar de ser boa, tomei meu banho e me vesti para dormir. O problema é que eu não conseguiria fazer isso. Não com as palavras de Tolstói flutuando em minha mente porque eu sabia o que fazer. Ele sabe disso. Sabe porque ele mesmo disse que aquilo que foi e que será, e até mesmo aquilo que é, não somos capazes de saber, mas quanto àquilo que devemos fazer, não apenas somos capazes de saber, como também o sabemos sempre, e somente isso nos é necessário.

Foi o que me fez ir até lá. Eu precisava fazer isso ou não dormiria em paz. E caminhei pesadamente até seu quarto, um pé ante outro. Abri sua porta minimamente. Vi-a diante do espelho, uma lingerie vermelha que fazia com que parecesse uma chama perigosa onde eu queria ser queimada. Eu quero seu toque. Eu quero sua companhia. Eu quero tanto dela desde que nos tocamos que todo o meu corpo se sacode em minha mente em ritmo de samba. Tanto que meus dentes rangiam para conter lamúrias. Tanto que eu podia fazer qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo, desde que a tivesse ao meu lado.

Camila sorriu. Foi tão bonito que arrebentou meus ossos. Me espalhei dentro de mim criando um caos que começava com seu nome e terminava em um suspiro. Suspiro porque não a tenho aqui dentro, tocando cada parte de mim que grunhia Ca.mi.la. Camila.

- Entra, Lauren - ela me convidou e eu entrei, afinal era o que eu queria.

Entre o que eu queria e não queria, o mais forte era meu incômodo com sua obviedade em sair. Eu sabia o que a esperava. Sabia tanto que perdi o ar, indecisa de como usar minha falta de habilidade comunicativa. Eu gritaria, mas minha voz quando alta só existia dentro de mim, correndo em círculos em uma sala branca gemendo e chorando no vale de minhas confusas lágrimas.

- Você está bem? - ela perguntou, mas eu não sabia o que dizer então observei seu quarto procurando uma ajuda que não sei porque imaginei que estaria me esperando e encontrei os quadros que dei a ela totalmente fora de ordem. Isso não está certo. Isso não foi inteligente. Fui até lá e os colocara na ordem correta.

LIVRO 2 - intensamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora