dezenove - brevemente

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Capítulo VINTE de estranhamente.

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Escolha sempre o caminho que pareça o melhor, mesmo que seja o mais difícil; o hábito brevemente o tornará fácil e agradável. Vou explicar porquê citei Pitágoras, o matemático grego que dava uma de filósofo, quando poderia citar qualquer outro: ele tinha certa razão.

Essa razão foi o que percebi depois que a conversa com Allyson substituiu a raiva pela razão. Não é fácil entregar coisas horríveis, mas, por vezes, isso era necessário para chegar à liberdade e, com tanto, um hábito que deveria cultivar. E era brevemente isso. Logo tudo estaria finalizado para o bem de alguns e mal de outros. Eu faria minha parte, isso era certo, e embora eu fosse manter alguns planos secretos de todos os segredos do mundo - isso faz sentido? - eu precisava de ajuda no plano geral.

Por isso eu decidi prestar mais atenção no que acontecia ao meu redor, bisbilhotar, agir como informante nessa nominação espiã tão empolgante. Eu me senti empolgada, ainda que quando o momento de voltar chegara a agonia se mudou para minha barriga e se abrigou sussurrando problemas possíveis e como depois de tudo que acontecera entre Camila e eu aquilo se tornaria mil vezes mais difícil e nauseante. Não sei como explicaria a ela que me deitava em seu corpo e ainda me deitava com tantos outros mesmo que sem querer. Me senti suja mesmo sabendo que a culpa não era minha e sabendo também que Camila não me condenaria. Tudo o que sei é que continuaria andando - entenda como quiser - para manter minha normalidade apertada em meus braços até que fizesse parte de mim.

Não prestei atenção no caminho aquele dia simplesmente porque eu tinha coisa demais na cabeça. Queria saber de mim o que fazer para ajudar e ainda assim manter o que precisava secreto. Eu não deixaria minha fome assassina por nada. Era meu direito! Eu estava sobrevivendo na certeza de que depois que fizesse algo descansaria dentro de mim e deixaria o passado onde deveria ficar. E como eu sabia que conseguiria? Entra Pitágoras outra vez: O ser capaz mora perto da necessidade e minha necessidade amordaçava todo obstáculo que minha mente insistia em apontar.

Mas...

Olhei para todos os lados quando o carro parou. Não estávamos onde sempre íamos. Parecia um lugar muito velho construído por pedras cinzentas empilhadas. Que lugar era esse? Meu estômago embrulhou com possibilidades concretas, inomináveis e invisíveis.

- Teremos novas possibilidades aqui - ouvi Peter dizer enquanto abria a porta e me puxou pelo cotovelo, me mantendo em seu controle enquanto eu caminhava apavorada pelo lugar subterrâneo - vai ver alguns rostos conhecidos que virão algumas vezes te visitar. Não quiseram sair de sua lista, garotinha de ouro. Mas aqui o negócio é mais aberto, gosto das divisões que construíram, sabe. Foi preciso depois que a polícia começou a xeretar, suas amigas são muito inconvenientes, mas nada pode ficar em segredo por muito tempo.

Começamos a subir escadas após desviar de alguns carros. Também era de pedra, mas uma luminosidade vermelha surgia no topo. Meu cotovelo doía, mas Peter não me soltou, apenas continuou falando:

- Sempre soube que seria um sucesso. Branquinha, olhinhos claros e inocentes... é tudo o que querem. Você saberia disso se não fosse uma completa inútil, perfeita para seguir com nosso trabalho. Mas não é como se você odiasse tanto assim, porque tenho certeza de que abriria a boca ao saber que tem uma investigadora bem debaixo do teto que ousou entrar. Você gosta de ter de ser boazinha, Lauren. Gosta de agradar.

Engoli uma sensação de que iria vomitar. Ele estava tão enganado que senti prazer em ter a certeza de que o surpreenderia com o próprio sofrimento. Foi isso que sustentou minhas pernas enquanto ele me puxava e dizia as coisas mais nojentas que não me dei ao trabalho de prestar atenção, pensando demais em tudo.

LIVRO 2 - intensamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora