vinte e dois - ferozmente

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Capítulo 22 parte 2. Indico escutar Lover de Taylor Swift durante o capítulo ou a partir de quando for mencionado.

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Como Guimarães Rosa, penso que chega um momento na vida da gente, em que o único dever é lutar ferozmente por introduzir, no tempo de cada dia, o máximo de "eternidade", coisa que senti quando despertei ainda no carro de Allyson com minha péssima motorista chamada Camila nos guiando para não sei onde. Eu poderia me desesperar, mas confio tanto nela que meu desespero é bom e feroz, exigindo que eu tivesse mais dela do que penso ser capaz de ter.

Camila tinha o cenho franzido como se pensasse em algo muito profundo e complicado. Algo que torci para não ser eu, e com isso me senti na obrigação de interromper seu momento mesmo que seu perfil fosse tão lindo que me desconsertava toda. Por isso, ainda na preguiça de viver, murmurei seu nome na única força que possuía naquele segundo e chamei sua atenção.

— Olá, amor – ela murmurou e me dei ao direito de ficar sentindo suas palavras reverberando internamente e me banhando com frescor e adorabilidade. Foi uma sensação tão acalentadora que não consegui fazer nada além de me espreguiçar para abrir mais espaço e me tomasse, me distraindo ao notar o lugar estranho e o clima mais tardio. Devíamos ter viajado para muito longe.

— Onde...? – tentei perguntar com a voz ainda fraca pelo meu despertar. Não foi preciso alarde, Camila me compreendeu e perguntou:

— Quer ir ao cinema? Vai precisar dos abafadores porque o som é alto, mas pode ser legal, se não estiver muito cansada. Podemos ir para casa também.

— Não! - me apressei a negar. Tinha descansado o bastante para mais uma aventura e não queria mesmo voltar para casa. Por mim, viveria pelo resto da vida na estrada com Camila porque, se sua direção não tinha nos matado até aquele ponto, isso queria dizer algo. E ela era tão cuidadosa, se importando em me deixar confortável e me acalmar, que eu só queria mais e mais e me apaixonava infinitamente pela mulher fervorosa que tinha entrado em minha existência e me descrito o que era amor até que ficasse marcado a brasa em quem eu era. Isso nunca mais iria embora e era tudo o que eu mais queria.

Camila parou o carro e vi as luzes e a cidade. Isso era diferente. Eu nunca vira a cidade realmente, estando inserida nela de verdade. Tudo o que sempre vira era caos, mas ali estava eu, segura no meio de todo o vai-e-vem, lojas onde pessoas entravam e saíam, risadas e vozes extremamente raras, a poluição visual que era informação demais para minha mente já cansada. Mas ainda assim, segura. Situação que inseriu as letras de Guimarães Rosa dizendo que infelicidade é uma questão de prefixo, prefixo tal que eu tinha demitido aquele dia.

— Vamos ali – Camila indicou ainda que eu não me importasse – não sei que filme está passando, mas vai ser legal ainda assim, eu acho...

— Uhum – concordei porque ela sempre estava certa quando se tratava daquelas coisas, habilidade que percebi e apreciei demasiadamente aquele dia. Tive vontade mesmo de provar um vinho recostada sobre a poltrona de minha mente, relaxando no retrato de minha vida. Era o melhor filme de fato, mas o que ela quisesse, eu sabia, também seria bom.

Levamos quinze minutos em um silêncio respeitoso e confortável esperando um filme que não me dei ao trabalho de ouvir qual era. Foi meu tudo. Camila ainda me agradou com uma fatia de pizza que, por mais que não tenha sido uma inteira, fora um gesto romântico e gentil.

Oh...

Romântico... isso era... eu nunca pensara que teria um romance um dia, desses dignos de livros. Ali estávamos, indo ao cinema e nos acomodando em poltronas confortáveis no meio do local de luzes baixas agradáveis e tão...

LIVRO 2 - intensamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora