dezoito - sinceramente

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Capítulo DEZENOVE de estranhamente.

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O famoso pintor holandês Vincent van Gogh escreveu em cartas para Theo que a partir do momento que nos esforcemos em viver sinceramente, tudo irá bem, mesmo que tenhamos inevitavelmente que passar por aflições sinceras e verdadeiras desilusões; cometeremos provavelmente também pesados erros e cumpriremos más ações, mas é verdade que é preferível ter o espirito ardente, por mais que tenhamos que cometer mais erros, do que ser mesquinho e demasiado prudente. É bom amar tanto quanto possamos, pois nisso consiste a verdadeira força, e aquele que ama muito realiza grandes coisas e é capaz, e o que se faz por amor está bem feito. E assim tomei decisões para o grande dia, plena de convicções que seria perfeito não só para ela, mas para mim também. Eu queria e eu ardia por isso.

Vesti uma só peça de roupa, já me adiantando porque não tenho muita coordenação motora, nem alguma timidez do que iríamos fazer. Era simples, eu só me entregaria e a tomaria para mim como vinha desejando já fazia algum tempo. Era assim que ela queria, eu sabia bem, e assim que eu queria, eu sabia mais que bem. Era um desejo tão sincero que adornava meu coração com adorabilidade e fogo. Fato que o desejo carnal é fogo, mas o desejo de pertencimento e amor é adorável. Qualquer um diria sobre alma aqui, mas todos sabemos que essa não é a minha concordância de existência.

E Camila estava lá, em nosso quarto. Alheia demais a tempestade que me consumia, seus olhos fechados não podendo enxergar esse furacão que me impelia em sua direção, a destruição de nossos sentidos prestes a acontecer e revolucionar o mundo - ou pelo menos o meu, o nosso, o que ambas vivíamos em nossa intimidade.

No meio disso, adentrei de mansinho já sabendo que me aguardava mesmo sem saber o que viria. Isso era absurdamente emocionante e eu nunca sentira coisa assim em toda minha vida. Desde já eu sabia que iria querer mais e mais dela, sem culpa e sem medo porque era Camila ali e ela me fazia um bem extraordinário a tudo o que sou. Isso é tudo. Ou não é tudo, mas é o que basta nesse período.

Silêncio. O meu silêncio. Ela sempre me surpreendia em como podia ser maravilhosa, ainda que estivesse apenas deitada após um dia exaustivo que se tornaria ainda mais cansativo. Eu sou presunçosa, me dou o direito de agir assim pelo menos umas três vezes por semana, mas não me imponho limites porque entre todas as imposições que me ocorrera ser presunçosa era algo que eu queria resgatar do meu interior mais profundo e libertar. Eu sou assim, pelo menos de vez em quando, o que já era muito para alguém que não foi nada por tantos anos.

Foi após um agraciar que decidi agir, meio sem saber se estava dormindo de cansaço ou apenas repousando. Se estivesse dormindo, não seria capaz de interromper seu descanso merecido e adiaria os planos para quando estivesse desperta. Era isso. No entanto, tinha de saber a situação, então sentei com cuidado ao seu lado e observei seu semblante bonito.

— Camz – sussurrei – está acordada?

— Uhum – disse com um suspiro que me pôs em dúvida se por um acaso estaria interrompendo seu estado de paz ou qualquer coisa do tipo. Fiquei nessa reflexão creio que por tanto tempo que Camila abriu os olhos.

Oh...! 

Que olhos lindos... seus chocolates brilhantes tinham um toque amendoado e eram tão carinhosos que me fez sorrir. Nunca tinha visto alguém ser tão carinhosamente majestoso comigo. Lembro de Camila me dizer que eu sou um doce, mas ali estava ela, sua imagem resplandecendo para mim de dentro para fora, e embora eu não soubesse como era possível, apenas amei profundamente.

— Olá, amor – murmurou tão belamente que...

Oh!

Amor...

LIVRO 2 - intensamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora