Capítulo 8 de estranhamente.
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Então, Hermann Hesse diz que o acaso não existe. Quando alguém encontra algo de que verdadeiramente necessita, não é o acaso que tal proporciona, mas a própria pessoa; seu próprio desejo e sua própria necessidade a conduzem a isso. É algo que posso admitir que tem razão nesse momento.
O tanto que me fiz necessitar de Camila é impossível descrever. Eu apenas precisava dela verdadeiramente, ardentemente, de todo coração e espírito, se ele existir, é claro. Ela se tornou minha obsessão e caminho, portanto agora, com seu abandono, eu estava perdida como achei que nunca conseguiria estar.
O que posso fazer?
Foi o que fiquei pensando por tanto tempo ainda que a ouvisse falar ou as panelas baterem. Fiquei presa porque era tudo o que me restava. Ninguém podia comer meus pensamentos. Ninguém podia enfiar mãos engorduradas e cheias de anéis espinhosos neles e amassá-los até que não sobrasse nada.
No físico não garanto, mas meus pensamentos são meus e de mais ninguém. É por isso que eu quem encontrei meu verdadeiramente em Camila, não "apenas aconteceu". Estava tudo no que imaginei que poderia me dar e a imaginação é traiçoeira. Sei disso pelo tanto que imaginei que algo bom aconteceria até cair em realidade.
Ainda assim, sendo tola o bastante para tentar manter o meu "verdadeiramente", me vi saindo de mim porque imaginava o que Camila estaria fazendo após me chamar com tanta força. Tive medo que nos descontrolássemos, mas tive esperanças de que nos resolvêssemos. De qualquer forma, eu pretendia ficar longe de seu olhar porque ela não gostava de mim e tampouco me queria em sua casa.
Eu não tinha para onde ir senão para a casa de meus pais, isso é certo. E eu não tinha como não desistir, por conta disso, do que eu verdadeiramente queria, que era estudar o que amo e ser uma pessoa normal. Ter uma vida normal, eu quero dizer.
Sair de casa. Ver o mundo sem nada o ocultando e impedindo que eu o tocasse. Viver sem ninguém me limitando porque não me aguenta. Ser livre o bastante para me encontrar em lugares onde posso fazer o que quiser e explorar meus limites.
E ainda que eu não quisesse mais ir para a faculdade, ainda que tivesse medo desses limites desesperadores, eu sinceramente não via muita escolha. Era tudo o que Camila me dera. Se eu não fosse para a faculdade, ou se não fosse capaz de ser como as outras pessoas, que eu voltasse então.
Era admitir que meus pais sempre estiveram certos e que eu tinha de ser boazinha debaixo de seus desejos e sonhos mais desesperados por uma filha normal. E no fim das contas, Hesse está certo: buscar significa: ter um objetivo. Mas encontrar significa: ser livre, estar aberto, não ter objetivo. E no que me toca, eu não encontrei nada. Isso era o bastante para me fazer voltar?
Porém, é certo que se eu tinha de voltar, eu faria a melhor coisa que fiz desde que entrei naquele apartamento: observar Camila e suas diversas nuances. Eu merecia isso. Merecia um mínimo de felicidade pela coragem de ter tentado. Foi por isso que meu corpo se moveu e entreabriu a porta, eu apenas queria vê-la.
Ela estava concentrada, suas sobrancelhas se aproximando uma da outra e seu rosto dançando expressões. Era lindo. Era natural como eu nunca tinha visto na vida. E não demorou para que anunciasse:
— Lauren, o almoço está pronto! – sendo completamente confusa para mim.
Quero dizer... ela me expulsava e depois me fazia comida? O que isso queria dizer?
Bom, talvez só não queria me deixar com fome, o que foi muito gentil de sua parte. Por isso, quando ela passou por mim em direção ao quarto, saí furtivamente até encontrar no balcão um desenho tão feio com a comida em um prato que chegou a ser bonito. Era bonito pela boa vontade. Camila era uma pessoa boa, o problema era eu.
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LIVRO 2 - intensamente
FanfictionLEIA PRIMEIRO ESTRANHAMENTE!!! Essa é a versão da Lauren dessa fanfic. Conteúdo EXTREMAMENTE sensível, cuidado.