vinte - posteriormente

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Capítulo VINTE E UM de estranhamente.

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Paul Valéry, pensador e poeta francês, me iluminou dizendo que o passado, mais ou menos fantástico, ou mais ou menos organizado posteriormente, age sobre o futuro com um poder comparável ao do próprio presente. Meu passado não era bonito, tampouco o presente, isso com certeza queria dizer alguma coisa mesmo que ínfima e eu sabia o que era: o que eu ia modificando em meu presente se organiza no passado para agir em meu futuro que, posteriormente, significava a mesma coisa em todos os passos. Passado, presente e futuro eram as mesmas coisas. Não vou dizer que meu presente e futuro é Camila, mas a luta que passei a travar em busca da liberdade com minha vingança. Um dia tudo isso ficaria para trás, mas vai ser exatamente a ação que agirá em meu futuro.

Não preciso repetir tudo o que aconteceu no meu dia. Eu simplesmente continuei bisbilhotando e adicionei mais alguns números. O que mudara, entretanto, é que não me deram nada para adormecer. Peter tinha conseguido que me mantivessem acordada mesmo sabendo que não havia nada o que fazer sobre a liberdade de tais VIPs. O que ele não sabia, era que eu estava mais atenta não apenas ao meu sofrimento, mas aos rostos satisfeitos de quem me machucava como se eu não fosse nada além de seus brinquedos vivos. Saí de minha casa e tive meu presente esfolado, mas tudo ficaria bem quando fosse passado e o fim de alguém que entrou naquele quarto brilhou diante de mim. Um nome. O uniforme do descuido apressado que me dera informações. 

Era isso. Esse dia eu voltaria recheada de informações interessantes, e pensei em tudo enquanto me escorria debaixo da água que me servia de limpeza básica. Não é como se estar acordada não fosse horrível, mas era útil para que eu visse cada rosto e absorvesse informações mesmo que fosse boazinha e obediente. Eu só precisava aguentar mais um pouco. Em breve, marquei para mim, muito em breve eu encontraria o que fazer.

- Suas amigas parecem agitadas - Peter comentou enquanto fazia o caminho de volta - o que elas sabem?

- Nada - fui apenas direto ao ponto.

- Sabe que tentar me enganar só piora as coisas - ele disse - estamos vendo os movimentos e há muito nervosismo em cada passo delas.

Oh... como era bom que não interferissem em minha rotina! Eu sei que era o que queriam, mas não podiam fazer. Se estavam nos vigiando, não seria bom se soubessem o quanto elas sabem sobre tudo isso. Mesmo que ainda não fosse nada, ainda era grande coisa. Haviam aquele papéis sobre a mesa e as perguntas corretas de Allyson. Camila estava muito preocupada e Normani e Dinah não estavam muito diferentes. Eu até queria que não me deixassem mais ir, que me mantivessem em casa com elas e que fossem uma ameaça que me manteria segura. Sei que era o que queriam fazer e esse sentimento em conformidade me mastigava. O que me impedia de incentivar qualquer passo é que concordo com Valéry quando ele diz que nossos pensamentos mais importantes são os que contradizem nossos sentimentos, porque eu precisava me manter sã e centrada em meus objetivos.

- É a faculdade - disse a meia verdade - e minha prima tem um caso complicado. Homicídio, foi o que a ouvi falar ao telefone.

Meu caso era praticamente esse. Homicídio que viria quando o executasse e homicídio de quem eu poderia ser se minha vida tivesse sido poupada do que me faziam. Eu tinha morrido e morria um pouco mais a cada dia, mas mudaria isso, eu tinha toda a certeza do mundo de que sim, o faria quando pudesse.

- Espero que seja apenas isso ou teremos um problema - Peter falou enquanto parava o carro rente a calçada - vá. Amanhã no mesmo horário.

Saí do carro e me apressei ao apartamento onde morava, encontrando as meninas no mesmo lugar, o que era ótimo para despejar logo tudo o que eu sabia e poderia ajudar e depois ir descansar desse dia intenso que me senti na obrigação de não ignorar. Olhei diretamente para Allyson, que era a autoridade ali. Também não queria ver Camila enquanto dizia essas coisas.

LIVRO 2 - intensamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora