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|A R O N|

O bip incessante da máquina que monitora os batimentos cardíacos de Selena é a única coisa que preenche o som vazio do quarto de hospital.

Acaricio a mão macia e machucada da minha garota enquanto evito olhar para seu rosto repleto de hematomas.

Selena está dormindo há quatro dias, uma máquina à auxilia na respiração ao mesmo tempo em que manda remédios em forma de vapor para seu pulmão sequelado pela fumaça.

O sentimento de culpa não me abandonou desde o momento em que a vi caída naquele gramado, machucada e inconsciente.
Se eu soubesse que terminaria assim....

O ranger da porta me tira dos pensamentos e engulo em seco ao ver Theodore Grader parado ali, me olhando. Após fechar a porta com cuidado atrás de si, caminha até a maca e seu rosto se contorce ao vê-la.

— Como ela está?

— Estável e melhorando. O médico disse que ela poderá acordar em qualquer momento. — Ele assente e os cantos de seus lábios se erguem, mas logo o pesar toma seu rosto novamente.

— Eu errei como pai. — Pisco diversas vezes, surpreso. Theodore acaricia as bochechas de Selena, olhando para a filha como se sentisse dor.

E de fato, dói.

— Eu deveria ter sido mais pulso firme com ela. Selena é exatamente como a mãe. Impulsiva e emotiva demais. Eu deveria ter... controlado mais.

— Theodore, a culpa não é sua. — Deixo o ar sair com força, exausto. — É minha. Meus problemas a colocaram nessa cama.

Ele levanta a cabeça pela primeira vez para me olhar. Suas sobrancelhas estão franzidas, pensativo.
Por mais que ele não aparente estar com raiva, o medo que me abraça me faz arrepiar.

Ele poderá me mandar sumir da vida dela e terá total razão.
O gosto amargo do desespero me faz contorcer o rosto.

Eu não quero perdê-la.

— É, foram os seus problemas. — Ele afirma e assinto, abaixando a cabeça. —  Mas não foi culpa sua.

Como?

— Eu seria hipócrita se tivesse raiva de você ou te culpasse. Já estive no seu lugar e, por mais que meus problemas tivessem colocado a minha mulher em risco, eu sei que eu daria minha vida pela a dela.

Encaro Selena e compreendo o que ele diz. Eu daria minha vida pela dela também. Eu daria tudo.

— As mulheres da família Grader têm um péssimo hábito de se sacrificarem. — Ele praticamente rosna. — Eu já estou preocupado com a Elena, tomara que ela escolha um cara normal com problemas normais!

Um riso sai pelo meu nariz e assinto. Definitivamente eu não sou um cara normal com problemas normais.

— Ela está bem, Aron. Só é fodido vê-la assim, mas ela está bem. — Ele olha para a filha novamente. — Por mais que minha vontade seja colocar minhas filhas potes de vidro e as proteger do mundo, eu não posso. Mackenzie fez um trabalho maravilhoso com elas. São corajosas, destemidas, inteligentes, eu não poderia ter mais orgulho. Somos homens de sorte, Aron.

O sócio do meu paiOnde histórias criam vida. Descubra agora