Capítulo 12

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Karen Faria...


Passamos na casa da Lucy para buscá-la mas o pai dela disse que ela já tinha ido para a aula, até o Jonas estranhou já que ela sempre está atrasada para tudo, principalmente para a aula que se pudesse nem iria, achei estranho o celular dela estar dando desligado... mas do jeito que é, capaz de ter descarregado e ela não ter levado o carregador, bom, se ela está na escola lá eu vejo o que aconteceu. Entrei novamente no carro e em poucos minutos já estávamos na escola, me despedi de Jonas com um abraço e desejei a ele um bom dia, ele ficou todo feliz, como as pessoas ficam felizes com coisas pequenas... Abri o guarda chuva e corri para dentro, por que a entrada tinha que ser tão extensa? Assim que entrei fechei o guarda chuva, me assustei quando notei que a escola estava vazia, nem mesmo o porteiro ou algum inspetor, não é possível que todos os alunos estejam em sala, e mesmo se estivessem os inspetores e o porteiro teriam de estar aqui. No primeiro andar ficavam apenas o pátio, o refeitório, as salas da direção, da coordenação, de matrículas e a enfermaria, e uma sala enorme que nós usávamos para apresentações e audições. Abri a porta de cada uma das salas e não havia ninguém, antes de subir encontrei uma menina, era linda, tinha a pele branca e os cabelos ondulados enormes, lábios grossos e rosados.

- Oi, tudo bem? Precisa de algo? - Que voz doce e linda, olhei para ela meio confusa, ela não me era estranha. - Não sei se lembra de mim mas eu sou Giovanna, estamos na mesma turma de matemática e inglês. - Só agora me lembrei que já a conhecia, mas nunca falei com ela.

- A sim, me lembrei agora. Sabe o que houve? Não tem ninguém aqui.

- Hoje não tem aula, é reunião dos funcionários da escola. Não recebeu o e-mail?

- Devo ter recebido mas não vi, que droga! Por que a diretora não manda esses avisos pelo whatsapp? Af!

- Pois é, já falei para ela, mas minha mãe é cabeça dura.

- Perai, você é filha da Ruth? - Como pode uma mulher tão feia e chata ter uma filha tão gata e gentil?

- É sou sim, mas por favor não diga nada para ninguém. - Sua afeição mudou, não sei decifrar mas não era bom. - Já me tratam mal o suficiente, se souberem que ela é minha mãe acho que só vai piorar.

Sentamos na escada que dava acesso ao segundo andar, onde ficavam algumas salas, conversamos por horas. Ela se abriu comigo sobre a mãe, parecia ser uma boa pessoa, doce e gentil, mas a mãe dela é uma insuportável, nem é implicância por ela ser diretora, ninguém aqui gosta dela, nem os pais, nem os funcionários. Me disse tudo com lágrimas caindo de seus olhos, nem imaginam as atrocidades que essa mulher já fez a ela, deveria ser presa! Além de tudo que faz a menina não permite que ela se aproxime de ninguém, pois segundo ela ninguém aqui é bom o suficiente, e com bom ela quer dizer rico, a mãe é uma interesseira gananciosa, sempre reparei como ela tratava bem o meu pai, cheguei até a pensar que ela estava interessada nele, mas aquela mulher não ama nem a filha, agora entendo o porquê dela agir diferente com ele e até comigo. Sempre que faço algo nunca me acontece nada, se faço sozinha ela simplesmente ignora, se tem outras pessoas comigo todos são punidos menos eu, eu pensava ser pura sorte, e as vezes até me gabava de ter sido tão esperta que fui a única a sair ilesa. Mas todo esse tempo foi só o meu dinheiro calando a boca dela, o ser humano é podre.

Das poucas vezes que me lembro ter visto Giovanna, ela estava sempre sozinha, triste e isolada. Me sinto péssima por pensar que eu não me importava e nunca procurei saber ou oferecer ajuda, estava tão cheia de pessoas vazias a minha volta que não enxergava mais nada. Na medida em que me contava, chorava mais, mas parecia estar fazendo bem para ela, acho que tudo isso estava a corroendo por dentro a muito tempo por não ter com quem dividir.

Querida ElizabethOnde histórias criam vida. Descubra agora