Capítulo 17

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Karen Faria...





Ô mulherzinha enxerida, quando me dei conta ela já estava atrás de mim vendo o que eu estava fazendo, para o meu azar era um desenho de ninguém menos que a própria, e o pior, nua. A imagem do seu corpo não saía da minha mente, suas curvas estavam na parte fresca da minha memória, eu lembrava claramente de cada detalhe do seu corpo, a cena dela amarrada, vulnerável a mim e ao meu toque deixava meu corpo ardendo por dentro.

Quando criança sempre desenhava, acho que herdei isso da minha mãe, ela era uma artista de verdade, pintava milhares de quadros maravilhosos, um melhor que o outro. A primeira vez que tive contato com esse mundo foi vendo ela pintar uma tela simples de um por do sol na praia, seus traços eram impecáveis, dava longas e leves pinceladas certeiras sem a menor pressa, aquele quadro me transmitia paz, não que eu precisasse disso aos 5 anos, mas era uma boa sensação. Sem que ela percebesse peguei uma tela menor no canto do quarto atrás dela, e comecei a tentar imitá-la, quase no fim Joana apareceu na porta fazendo minha mãe se virar para trás e finalmente notar minha presença e o que fazia. As duas ficaram impressionadas, não era tão bom quanto o dela, nem chegava perto, mas para primeira vez de uma criança de cinco anos não estava nada mal, esse até eu tenho que admitir. Minha mãe chegou a chorar e ficou extremamente emocionada, só sabia dizer o quanto me amava e que eu era a melhor filha que ela poderia ter. Joana não estava diferente, chorava igual ou mais que minha mãe, sempre foi assim, ela tem um carinho enorme por mim assim como tinha pela minha mãe quando viva.

Desde aquele dia ambas me incentivaram muito nessa parte, Joana só ficava doida com a lambança que eu fazia, sujava até o teto de tinta e as paredes atrás do móveis, não sei como eu era capaz dessa proeza até hoje. Meu pai nunca ligou muito, diversas vezes o chamei para ver minhas telas e ele nunca se deu o trabalho de sequer cogitar a ideia, sempre tinha muito trabalho para fazer e não levantava da maldita cadeira daquele escritório por nada. Foi ai que comecei a desenhar em cadernos, assim séria mais fácil de levar até ele para que pudesse ver. Fiz uns sete desenhos no meu primeiro caderno e levei até ele no escritório, acreditam que nem assim ele me deu atenção? Com a cara enfiada em alguns documentos ele disse:

- "Karen eu estou ocupado, não posso deixar meu trabalho de lado para ver bobeiras."

Sai do escritório com o coração em pedaços, a maioria dos desenhos que ia mostrar a ele ali eram dele, e da nossa família junta, em cenários que inúmeras vezes eu sonhei em viver, mas que nunca aconteceram pois ele sempre teve o seu trabalho como prioridade. Sai do escritório segurando o choro, não queria que ele e nem ninguém me visse chorando, fui até meu quarto e Joana estava lá arrumando minha cama, nunca vou me esquecer desse dia.





Anos atrás...





- Já mostrou o desenho para o seu pai princesa? - Ela perguntou afofando os travesseiros enquanto eu entrava no quarto, só bastou isso para que eu desabasse em lágrimas. - O que houve linda? Por que está chorando? Vem aqui. - Me chamou batendo com as mãos na coxa, me sentei em seu colo recostando a cabeça em seu peito enquanto chorava de soluçar. - Pode me contar meu amor, sabe que te amo e se tiver algo que eu puder fazer, eu farei.

- Fo-foi o meu p-pai. - Falei entre soluços e um choro intenso.

- Seu pai? O que ele fez? Ele não gostou?

- E-ele nem viu, di-disse que n-não podia parar para ver bo-bobeira. - Ai que meu choro ficou mais pesado, eu senti uma dor tão forte em meu peito, como se alguém o apertasse com força, Joana me olhava incrédula, na época eu não entendia a cara que fez em seguida mas hoje eu sei, era ódio, lembro que cheguei a ter medo dela no momento.

Querida ElizabethOnde histórias criam vida. Descubra agora