• Capítulo Vinte-Quatro - Não posso te perdoar

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• ARIANA GRANDE •
— Toronto, Canadá.

Como a ordem dada para Justin, Trevor foi levado até um dos quartos que ficava na parte superior da sua enorme casa nova e até então desconhecida por mim e eu o segui até o escritório, onde a porta foi fechada e ficamos a sós pela primeira desde aquele dia sobre o túmulo do nosso filho.

A decoração desse escritório era bem diferente do antigo. Enquanto aquele me passa uma vibe bem mais elaborada, esse aqui era bem minimalista, o que não era bem o estilo do Justin.

— Admito que esperava mais. — Sou sincera.

— Não ando tendo muito tempo para pensar em decoração. — Ele se senta na enorme cadeira e eu na que está na sua frente. — Tenho outras prioridades, como o fato de estar me preocupando em não ir para a cadeia e arrumar formas de limpar a minha imagem.

Eu não estava mais na frente do Trevor para precisar segurar as minhas palavras como forma de evitar que ele se magoe ainda mais por minha causa e muito menos, não estava na frente da equipe do Justin para evitar dizer o que eu quero como forma de não parecer ainda mais fraca do que eu estou parecendo para eles nessa altura do campeonato.

— Você não precisa acreditar, mas nada do que eu disse a Abigail era verdade. — Eu olho em seus olhos.

Eu vejo a tristeza por trás da sua íris caramelada e parte de mim quer morrer por saber que sou eu a causadora dessa dor.

— Não assisti à aquela entrevista e saí duvidando do cara que eu fui com você, Ariana. — Há frieza no seu tom de voz. — Só sai duvidando ainda mais da pessoa que você é.

Suas palavras me pegam em cheio e eu abaixo a cabeça. Ele está certo e admitir isso para mim mesma é um porre.

— Nós fomos felizes, Justin. — Eu volto a encara-lo. — Tivemos muitos problemas, você é um caos e eu sou um completo desastre, mas fomos felizes e eu não me arrependo do que vivemos, não importa como história tenha que acabar.

Instantaneamente memórias de vários momentos que passamos juntos enchem a minha cabeça como um turbilhão de sentimentos que eu venho durante muito tempo tentando ignorar.

A nossa primeira vez naquela lua de mel, a viagem que contou com diversas crises de ciúmes por ambas as partes que me geram boas risadas, a bebida e a comida maravilhosa.

As nossas conversas sobre o futuro, os planos que fazíamos mesmo sabendo que talvez não conseguiríamos realiza-los juntos, as noites que dormimos agarradinhos como se nada no mundo importasse mais do que o nosso amor.

Eu ainda me lembrava de tudo.

— Chega a ser engraçado estar aqui com você tendo essa conversa e escutando você me dizer isso. — Ele ri, sem humor. — Porque eu só consigo me perguntar se alguma coisa foi real ou se você só esteve esse tempo inteiro jogando comigo, na verdade, ainda não sei se o que estamos fazendo agora não é parte de mais um jogo seu de manipulação para que eu não meta uma bala na sua cabeça e acabe com isso.

Suas palavras trazem de volta a tona as partes ruins do nosso relacionamento, as partes que partiram o nosso coração.

Quando ele me deixou sozinha naquela cama de hotel alegando que só queria uma transa e agora que já havia conseguido, ele não se importava mais comigo.

O momento em que eu atirei contra ele depois de todas as mentiras que eu havia contado durante um ano inteiro. O discurso de ódio quando voltei ao Canadá para garantir que ele estava mesmo vivo e depois ele foi para o quarto com a Caitlin.

A dor de perder o nosso bebê, as brigas sobre não termos um futuro porque tudo sempre se resume a uma vingança, a chegada da Angel na nossa casa que o abalou e de certa forma partiu o meu coração por duvidar se ele me amaria como um dia amou ela, a traição sobre ter entregado ele para a polícia e o discurso de ódio que fiz naquele programa.

Eu não podia culpa-lo por se sentir assim.

— Você tem todas os motivos do mundo para não acreditar de mim, eu entendo e tudo bem se não o fizer, eu aceito e sei que mereço. — Suspiro pesado. — Mas a verdade é que era para ser um jogo, no começo até foi, mas tem muito tempo que não tem sido e confie em mim, séria tão mais fácil se fosse.

Agora ele está em silêncio, analisando cada palavra e cada movimento meu, sei que ele espera captar algum sinal de que estou mentindo, mas isso não irá acontecer, porque eu estou falando a verdade.

— Você foi o único homem que eu amei de verdade e não consigo imaginar um dia em que isso possa mudar, mas a verdade é que eu amo o nosso filho mais. — Meus olhos se enchem de lágrimas. — Eu sacrificaria qualquer coisa nesse mundo se isso significasse que ele ficaria em segurança e é isso que eu tentei fazer, essa é a maior prova de amor que eu poderia dar a ele, sacrificar a nossa relação. E tudo porque ele merece mais do que o mesmo destino que o nosso primeiro bebê teve, ele merece mais do que a vida de merda em que fomos criados, sempre rodeados de perdas, medo e riscos.

Justin abaixa a cabeça porque ele sabe que eu tenho razão.

— Era isso que eu queria para ele, algo que nós não tivemos, porque olha só o que nós nos tornamos, Justin. — Eu soluço. — Somos pessoas quebradas, totalmente danificadas por causa dessa vida de merda que levamos, eu quero uma escolha diferente pro nosso bebê e você pode me culpar pelo o que você quiser, mas menos por isso.

— Acho que finalmente entendi o porquê de tudo o que aconteceu, o motivo que te levou a me trair mais uma vez, você fez por amor ao nosso filho e eu posso te perdoar por isso. — Justin me olha nos olhos. — Mas você poderia ter escolhido fazer isso comigo, acha mesmo que eu não queria essa vida para ele também?

— Justin...

Ele não me deixa falar.

— Eu quase abri mão de tudo uma vez pela Angel e olha que eu não senti por ela a metade do que eu senti por você, então acha mesmo que eu não faria isso por você e pelo nosso filho, Ariana? — Ele indaga e agora sou eu quem abaixa a cabeça. — Você escolheu jogar contra mim quando tudo o que eu fiz foi amar você.

As lágrimas molham meu rosto enquanto eu fico em silêncio.

— Eu posso te perdoar por você ter feito tudo isso pelo nosso filho, mas não posso perdoar por você ter feito tudo isso comigo.

COLD BLOOD [3]Onde histórias criam vida. Descubra agora