won't you come on?

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(você não vem?)

São Paulo, 25 de julho de 2023

[JADE]

Nas últimas 5 semanas eu entrei eu havia entrado em um ritmo de trabalho bem intenso, com muitos eventos, viagem de férias programada há um tempo, duas viagens a trabalho, várias a serem entregues e reuniões para a volta da minha marca. Eu estava exausta? Estava. Mas também estava muito feliz com tudo o que vinha acontecendo na minha vida profissional e também na minha vida pessoal.

Nesse meio tempo eu e o PA estávamos aprendendo a driblar com a distância, já que era algo que não conseguíamos mudar dentro da nossa relação e das nossas vidas. Precisávamos aprender a lidar com ela se quiséssemos fazer dar certo o que estávamos construindo juntos. Ele foi super compreensivo com minha viagem de férias mesmo quando eu pensei em desistir depois que começamos a namorar, me incentivando a ir, curtir e descansar. Eu amo fato dele não se importar com a minha liberdade em estar sempre com meus amigos nas baladas, mesmo quando ele não pode estar, pois sabe que esses momentos me fazem muito bem. Também o deixo livre para estar com os seus amigos e seus shows preferidos, ainda que eu não o acompanhe. Sempre que podia ele vinha ao Rio, eu a São Paulo quando ele estava lá. Não era a frequência que gostaríamos, mas era o que tínhamos e aproveitávamos o máximo quando estávamos juntos.

No próximo mês ele viajaria com sua família para a Europa, para o mundial de atletismo. Havíamos combinado que na sexta eu iria, pela primeira vez, encontrá-lo no Espírito Santo. Mas, com o telefone em mãos, eu me preparo para avisá-lo que não vou conseguir ir. Alguns trabalhos se acumularam e reuniões foram adiadas para os próximos dias, além de uma viagem rápida de trabalho para os EUA no final de semana.

Me sento na área da varanda do meu quarto, aqui no Rio, enquanto inicio a chamada de vídeo.

"Oi, meu amor" - ele diz animado se jogando no sofá - "carinha de quem acabou de acordar hein? olha o bico."

"não dá nem pra esconder." - dou um sorriso ainda meio sonolenta - "bom dia bebê. tá acordado tem muito tempo?"

"são 11h da manhã, Jade. Já até treinei." - diz incrédulo e eu dou risada.

"ah não fode meu filho. Eu trabalhei até de madrugada em SP em uma campanha, peguei o primeiro voo pro rio. Precisava descansar nem que fosse umas horinhas pra encarar a tarde de hoje." - eu mostro a língua, fingindo decepção.

"tô brincando meu amor. você é braba. Não acha que tá trabalhando demais? Tô ansioso pra te ter aqui, vem logo." - vejo a empolgação e quero morrer por dentro. Abaixo o olhar e ele percebe, desfazendo o sorriso - "o que foi Jade? Não vai dizer que..."

"eu não vou conseguir ir, PA. Desculpa..." - eu o interrompo com a voz entrecortada e o encaro sentida, tentando decifrar sua expressão - "algumas coisas se acumularam, reuniões trocaram de data e eu vou precisar estar em NY no sábado para uma campanha".

"eu não acredito que estou ouvindo isso Jade. Você tinha prometido que viria, minha mãe está super empolgada em te ter aqui, meu amigos querem te conhecer...eu estou com saudade"  - sua voz é carregada de decepção. Eu realmente havia prometido e também estava empolgada por ir. E claro, também estava morrendo de saudade, pois não nos víamos há 15 dias e não sei quando nos veríamos novamente depois desse final de semana.

"desculpa, desculpa. Eu sei que prometi, mas as coisas fugiram do meu controle. Não posso deixar de ir, PA. Por favor, me entenda..." - eu suplico sem conseguir encará-lo direito.

"claro que não. você pode deixar de vir, é sua escolha mesmo." - ele diz quase ríspido e eu fecho os olhos.

" não fala assim. não tô escolhendo o trabalho a você, é só minha responsabilidade. Você sabe que sou muito certinha com meu trabalho, com meus compromissos..." - ele dá um sorriso irônico e eu abaixo a cabeça, respirando fundo - "não quero brigar, só tô te pedindo desculpa e que me entenda dessa vez."

"E seu compromisso comigo? Você tá escolhendo o trabalho sim, Jade. E sabe que não sou contra e te apoio em tudo. Mas não é a primeira vez e eu tenho certeza que não será a última." - é a vez dele suspirar. Eu sabia que ele estava certo e receio onde essa conversa pode terminar. Antes que eu fale algo, ele continua - "A gente mal começou e eu já sinto que não sou uma prioridade pra você."

"Não vou deixar que você insinue isso PA. Você tem todo o direito de estar chateado, de estar triste e até com raiva. Eu sei que estou errada. Mas não venha insinuar que isso é proposital ou falta de compromisso com você, quando quem mais quis estar na relação fui eu." - minha tristeza começa a dar lugar a uma ponta de raiva. Ele mais uma vez dá um sorriso debochado, bufando do outro lado da tela, me irritando profundamente. - "Vai ficar com esse deboche daí? Ou vamos ter maturidade de conversar e entender o lado um do outro."

"Quer saber, Jade? Eu tô puto mermo. Tô cansadão de tentar sempre te entender. Será que você pode se colocar no meu lugar dessa vez? Você me entenderia?" - Ele pergunta com um tom de voz mais acalorado.

"Claro que entenderia. Ou pelo menos tentaria. É trabalho PA, não tô deixando de ir te encontrar pra me divertir sozinha. Não é minha vontade, mas é o que eu tenho que fazer. Que saco!" - agora é a minha vez de subir o meu tom de voz.

"Se você tá dizendo. Só não se esqueça que daqui eu vou direto pra Portugal. Talvez a gente só se encontre no final de agosto, se quiser colocar na sua agenda aí." - conto até 10 mentalmente para não explodir e ele continua me encarando com aquele ar de superioridade de quem sabe que havia me atingido e que, no fundo, tinha razão.

"Eu não vou nem te responder. Se quiser continuar com esse joguinho de deboche, continue sozinho. Te liguei pra explicar e me desculpar. Se vai entender, já não está no meu controle." - sinto minha voz falhar, sem energias para aquela discussão.

"Não venha colocar nas minhas costas a culpa de te entender. Então você não vem mesmo?" - a frieza na sua voz é como um soco no meu estômago.

"Queria te dizer o contrário, mas infelizmente a resposta é não." - abaixo a minha cabeça controlando e pisco algumas vezes na tentativa de não chorar - "quando você viaja?"

"Qualquer dia desses aí. Acho que essa conversa acaba aqui, né? Vou ter que desligar, tenho que trabalhar também" - ele se mostra irredutível e visivelmente frustrado.

"PA, por favor..." - eu praticamente imploro para que não terminássemos aquela conversa nesse clima. 

"Preciso ir Jade. Boa semana de trabalho. A gente vai se falando". - sem esperar uma resposta, seu rosto some da minha tela. Fico olhando para ela por alguns segundos, sem acreditar.

Ele não mentiu em nenhum momento. Eu realmente parecia estar priorizando tudo, menos a nossa relação. Não fazia ideia do que fazer nesse momento. O meu senso de responsabilidade jamais me deixaria jogar todos esses trabalhos pro ar, embora fosse a minha vontade. Sinto meu coração apertar ao me lembrar da decepção visível em seu rosto e nas suas palavras. Não queria tê-lo magoado e não sei como estamos depois dessa conversa. Abro nossa conversa no whatsapp e digito rapidamente.

[Quando estiver mais calmo, vamos conversar. Desculpa mais uma vez. Não queria te magoar. Amo você, preto.]

Fico esperando uma resposta que não vem. Uma lágrima teimosa escorre do meu olho, e eu a enxugo assim que vejo a notificação do David avisando que tinha chegado no aeroporto. Eu preciso me arrumar para a reunião que teríamos daqui a uma hora. Respiro fundo e me levanto, guardando todas as minhas angústias comigo e me preparando para encarar o dia pela frente.

Meant To Be - JadréOnde histórias criam vida. Descubra agora