Meant To Be - Jadré

'Cause I can't breathe

(porque eu não consigo respirar)

Rio de Janeiro, 04 de setembro de 2024

[JADE]

Não sei por quanto tempo estou aqui, sentada no sofá da sala, com a Maya dormindo em meu colo, e olhando para a porta por onde o PA saíra há algum tempo depois de, em silêncio, me escutar colocando um ponto final em nossa relação. Sinto meu coração disparado e meu corpo paralisado, buscando forças para reagir de alguma forma. Quando olho para a bebê no meu colo, o choro preso em minha garganta ganha voz e eu mal consigo respirar quando finalmente me dou conta do que acabara de acontecer.

Uma avalanche de dúvidas passam por minha mente: eu me precipitei em terminar tudo só por alguns discordâncias entre nós? será que foi só o que aconteceu nos últimos dias ou isso foi apenas a gota d'água? até onde eu estou certa? até onde ele está errado? eu não deveria pensar na nossa filha, na nossa família?

Eu não tenho resposta para nenhum dos meus questionamentos e, sinceramente, não é isso que quero pensar agora. A única coisa que sei, nesse momento, é que dói. Mais uma vez eu busco o ar enquanto as lágrimas descem de forma descontrolada pelo meu rosto. Eu me sinto perdida, desesperada e angustiada. Uma parte de mim queria gritar para que ele voltasse. Outra parte queria parar de chorar certa de ter feito o que precisava ser feito.

Me levanto com a minha filha no colo e ando de um lado para o outro da sala, e essa casa parece ainda maior do que é. Não me sinto sozinha, porque eu tenho ela. Mas sinto medo de um presente que eu não imaginei viver.

"Perdoa a mamãe, bebêzinha...." - beijo os cabelos da Maya e mais uma vez puxo o ar tentando controlar a minha respiração em meio ao choro.

Caminho em direção a escada e vou até o meu quarto, colocando a Maya na cama e me deitando ao seu lado. Ainda é fim de tarde, mas eu queria poder fechar os olhos e dormir até essa dor passar. Seguro sua mãozinha e respiro fundo, fixando meus olhos nela, na tentativa de encontrar a força que eu preciso para me acalmar. 

[PA]

Ouvir a Jade colocando um ponto final em tudo o que vivemos até aqui me tirou o chão. Como ela pode jogar tudo para o alto por alguns desentendimentos que poderíamos resolver com uma conversa. Eu não consigo entender e nem sei se quero entender porque nesse momento eu não quero sentir raiva. A tristeza toma conta de mim e eu sinto que mal posso respirar. Depois de vê-la se afastar de mim, sem querer ouvir qualquer explicação ou pedido de perdão, eu não tive forças para continuar em sua casa. 

Entro no meu apartamento segurando todo a angústia guardada em meu peito. Me sento no sofá incapaz de encontrar alguma reação e quando meus olhos alcançam o porta-retrato onde uma foto recente das duas parecia buscar o meu olhar. Descansei minha cabeça nas minhas mãos e chorei desesperadamente.

Ela não poderia estar segura dessa decisão. Eu sei que errei muito com ela, que talvez não tenha dado a ela o valor que merece, que eu tenha falhado em não cumprir com o planejado e cedido a decisões dos outros, que eu tenha exagerado no que falei sobre sua viagem e a nossa filha. Eu fui fraco, como sempre. Precisava ter me colocado em seu lugar e mais uma vez falhei. Tudo bem querer estar com o meu filho, mas isso precisava ter sido combinado e eu a deixei na mão. Tudo bem me preocupar com o bem-estar da minha família, mas eu não precisava dizer que ela não estava pensando nisso, quando tudo o que ela faz é colocar a Maya em primeiro lugar. Eu não estava errado na minha preocupação, mas nas minhas palavras e nas minhas ações.

E eu sei, essa pode ter sido a gota d'água para muitas situações que podem ter sido passadas ao longo do nosso namoro. Jogo meu corpo para trás no sofá e esfrego o meu rosto, nervoso, sem saber o que fazer. Voltar à sua casa e pedir que volte atrás? Dar a ela um tempo para que repense sua decisão? Eu não tenho dúvidas quanto a querer ela de volta, e eu não acredito que ela queira me ver longe de forma definitiva. Mas eu a conheço o suficiente para saber que não seria fácil reconquistar a sua confiança, recuperar a nossa sintonia.