but you held your pride like you should've held me

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(mas você abraçou seu orgulho como você deveria ter me abraçado)

Rio de Janeiro, 06 de setembro de 2024

[PA]

Espero impaciente o relógio marcar um horário aceitável para que eu possa aparecer na casa dos outros. Depois de passar o dia de ontem trancado dentro desse quarto, inerte e tentando entender tudo o que havia acontecido há dois dias, eu reuni forças para me levantar e encarar a realidade.

Sei que pisei na bola - e pisei feio - com a Jade. E sei também que não foi apenas a minha última derrapada que culminou em nosso término. Mas eu não aceito o fim tão rápido de uma história que foi construída com muito carinho, respeito e uma ligação única. O que nós tínhamos sempre foi muito lindo para acabar dessa forma, em uma conversa que nós falávamos sem parar mas não nos escutávamos. Era como se estivéssemos completamente fora de sintonia e eu não a reconhecia ou sequer me reconhecia. 

Meu coração que eu sempre fiz questão de dizer que era blindado havia se derretido por ela há muito tempo. A Jade me desmontou de uma forma que eu não sei se sou capaz de me remontar sem ela. E depois da nossa filha, a intensidade com que ela ocupava o meu coração aumentou de uma forma absurda. Eu não tinha dúvidas que ela era a mulher da minha vida. A primeira e única.

Mas o meu jeito travado acaba atrapalhando tudo. Eu não consigo ser o cara que tem iniciativa, que vai atrás, que cede. Não é só a marra, que nós dois temos. É uma timidez, um medo, uma característica minha que eu gostaria muito de não ter. Tanto em relação a fazer por ela, quanto a dizer não para os outros. E é aqui que eu me perco e dessa vez, acabei perdendo a mulher que eu amo.

Enquanto dirijo até a sua casa minha mente imagina todos os diálogos possíveis para tentar recuperar a nossa relação. Quero evitar qualquer sinal de discussão, porque precisamos manter, acima de tudo, o respeito que sempre tivemos um pelo outro. Principalmente porque temos a nossa filha entre nós dois. Ela é a nossa prioridade. Passo pela entrada do condomínio e paro o carro em sua porta, tocando o interfone e sendo atendido pela Nina. A cumprimento e pergunto pela Maya e ela aponta para a cozinha, onde fico surpresa ao encontrar a Mônica com ela.

"Olha o papai, solzinho." - a Mônica vira a Maya para me ver e a minha bebê abre um sorriso gigante para mim, e eu me sinto culpado por não ter procurado saber dela ontem enquanto estava imerso na minha desilusão.

"Ei ursinha!" - a recebo em meu colo e beijo seu pescoço, arrancando uma risada gostosa dela - "Que saudade meu amor." - eu digo, sincero e me viro para a Mônica, que me encarava - "Oi Moniquinha..." - a abraço de lado e ela sorri acolhedora.

"Como você está?" - ela pergunta, preocupada e eu respiro fundo.

"Tentando entender o que aconteceu." - ela afirma e eu dou um sorriso fraco - "Como a Jade está?"

"Como você." - ela diz e se senta para tomar café - "Vocês precisam tentar conversar sem brigar, entender um ao outro. Mesmo que a decisão seja terminar, precisam deixar tudo resolvido. A Maya precisa que vocês tenham uma boa relação e não que fiquem se magoando a cada frase." - posso sentir a sua própria experiência, em uma grandeza muito maior que a nossa, nesse conselho. Ela não me julga ou me acusa, e aquilo acaba me aliviando um pouco - "Toma café com a gente? Daqui a pouco é hora da frutinha dessa mocinha..."

"Não, obrigada. Vai deixar o papai te dar hoje, ursinha? Ou vai jogar tudo pelo ares?" - eu pergunto beijando a minha bebê, distraída com o meu cordão. - "A Jade já saiu?"

"Ainda não. Está lá em cima terminando de se arrumar pro futevôlei." - ela responde e continua me olhando - "Vai lá...vocês ainda tem muita coisa pra conversar. Quer deixar ela?" - tento passar a Maya para o seu colo, mas a pequena se agarra a mim e nós dois rimos - "Poxa vovózinha..."

Meant To Be - JadréOnde histórias criam vida. Descubra agora