who's right or wrong?

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(quem está certo ou errado?)

Rio de Janeiro, 01 de setembro de 2024

[JADE]

Desde que voltamos de Paris, após as olimpíadas, as coisas andam um pouco estranhas. Como campeão olímpico, o PA chegou ao Brasil em uma maratona de compromissos, oportunidades e aparições e é óbvio que ele precisa aproveitar tudo isso. É colher os frutos de um trabalho árduo de anos. Eu não hesito em apoiá-lo em tudo o que vem conquistando. Mas não posso negar que todo esse boom acabou nos afastando um pouco. Ele tem ficado muito pouco aqui no Rio, e isso tem me sobrecarregado. Sei que não é culpa dele, mas eu também não posso esconder o meu cansaço.

O PA deve ter ficado aqui por no máximo uns 5 dias, não corridos, no último mês. Nem o seu aniversário conseguimos passar juntos. Eu também estou em um ritmo intenso de trabalho, tentando equilibrar a minha rotina com a da Maya. Minha bebezinha havia completado 6 meses há uma semana, e ainda que bem devagar, iniciamos sua introdução alimentar. Confesso que ao mesmo tempo que me alivia saber que agora ela pode explorar um mundo além de mim, também me aperta o coração pensar que muito em breve eu não serei mais tudo o que ela precisa.

Ainda está escuro quando delicadamente a coloco dormindo no bebê conforto do meu carro, torcendo para que ela não acorde. A Lu se acomoda ao seu lado e em poucos minutos estamos saindo do condomínio em direção ao aeroporto onde vamos pegar o primeiro voo para São Paulo. Não era esse o plano inicial, mas é o que meu coração pediu que eu fizesse depois de todo o stress de ontem a noite.

Eu tenho um dia inteiro de gravação de uma campanha em São Paulo, e a ideia era sair cedo, depois de acordar com a Maya e voltar no final da tarde, a tempo de colocá-la na cama. O PA, chegaria de Vila Velha ontem a noite, para que ficasse com ela, tendo a ajuda da Lu. Mas não foi isso que aconteceu. Ontem foi aniversário do Peazinho, e eles passaram o dia juntos, mesmo não tendo nenhuma festa programada. Mas, de última hora, a mãe dele fez questão de fazer alguma coisa à noite. E o PA me ligou, todo sem graça, dizendo que não conseguiria chegar naquele dia, mas que pegaria o primeiro voo no dia seguinte.

Aquilo me deixou com muita, muita raiva. Em nenhum momento eu pedi que ele deixasse o filho, inclusive fiz questão que ele ficasse lá até o último momento. E mais uma vez, ele cedeu ao que a Thays fez com toda a intenção de me atingir. Eu só queria sair de casa no dia seguinte, sabendo que a minha filha estava com um de nós dois. Nunca passei um dia inteiro longe dela, e aquilo já estava me deixando nervosa. Pensar que a deixaria sozinha - embora eu confie plenamente na Lu - me deixou transtornada. Assim que desliguei o telefone, depois de uma discussão calorosa, desabei a chorar. Eu estava sozinha com a minha filha, esperando ele chegar. A Nina já estava em São Paulo e eu não sabia o que fazer. Pensei em desmarcar. Pensei em adiar para mais tarde, mas eu sabia que não daria tempo e eu corria o risco de não conseguir voltar. Pensei em seguir o plano e deixá-la com a Lu, mas perdi a confiança na sua promessa de chegar. Depois de um tempo pensando em todas as possibilidades eu decidi que a levaria comigo e pedi socorro a Lu para me acompanhar.

Dirijo apreensiva para o aeroporto, de olho no retrovisor, torcendo para que a Maya não acorde. Ela sempre acorda junto comigo, bem cedo, e temos nosso momento de puro dengo. E a minha garotinha fica bem brava quando demoro um pouco a dar seu colo e seu mamázinho. Os primeiros raios de sol começam a despontar e eu sei que estou com o tempo apertado, porque sair com uma bebê, de madrugada e de última hora, não foi uma tarefa fácil. Pego meu telefone e mando um áudio para o PA, dizendo que se fosse por nós duas, ele não precisava vir para o Rio. Nós ficaremos em São Paulo pelo menos até terça. Não demorou um minuto, e sua foto aparece na tela, me ligando. Coloco um fone de ouvido, e atendo a ligação, me preparando para o embate que se iniciou ontem a noite, continuaria ali e não faço ideia de como e quando terminaria.

Meant To Be - JadréOnde histórias criam vida. Descubra agora