I'm in the middle of a storm now

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(estou no meio de uma tempestade agora)

Rio de Janeiro, 12 de setembro de 2023

[JADE]

"Outra vez, Jade?" - a Nina me olha sentada na minha cama. Encosto no batente do banheiro e me sinto fraca. Tenho a sensação de que vou colocar meu estômago pra fora a qualquer momento - "Tô ficando preocupada. Isso não é só ansiedade."

"Tô melhor, juro. Não tem mais nada pra sair." - tento me convencer. Todo esse mal estar que eu julgo ser ansiedade já deveria ter passado agora que estava tudo bem. E eu realmente achava que tinha passado e o que eu pensava ser uma simples ressaca de festival não passava. - "Todo esse tempo ansiosa deve ter me dado de presente uma gastrite. Vou ter que ir ao médico, você venceu." - digo desanimada e conformada. Entro novamente no banheiro e escovo os meus dentes. Meu rosto estava pálido, e aos poucos eu me sentia melhor. Volto ao quarto e a Nina está no mesmo lugar, olhando em direção ao banheiro. Sua expressão era séria e eu a encaro em silêncio esperando o que ela tinha a dizer.

"Será que o seu DIU não saiu do lugar?" - ela pergunta, ainda séria e eu fico sem entender.

"hãn? Tô passando mal do estômago, não com cólica ou algo do tipo." - junto minhas mãos e dou risada - "Que foi, não está achando que eu tô..."

"...grávida." - ela completa e sua expressão é ainda mais séria. Dou uma gargalhada, e me aproximo dela.

"Não viaja, Nininha. Tem nem chances. Se depender de mim, você nunca vai ser tia." - eu digo, certa que a maternidade era algo que não passava pela minha cabeça. Nina continua me olhando calada e sem expressão alguma - "Nina, por favor... não pira."

Chacoalho seus ombros e ela segue me encarando, começando a me irritar. Cruzo os braços a sua frente e também fico séria.

"Jade. Eu tô falando sério. Para pra pensar um pouco. Não é de hoje que você amanhece dia ou outro vomitando. Tá dormindo mais do que o normal. Seu humor não anda dos melhores. Se você for olhar bem..." - ela aponta para os meus seios. A cada frase que ela dizia eu sentia minha cabeça dando um nó e o sorriso despreocupado que eu tinha no rosto se desfez.

Apalpo os meus seios e, realmente, eles estavam mais sensíveis e ligeiramente mais inchados. Isso já aconteceu outras vezes, em algum descontrole hormonal, mas dessa vez, associado a tudo o que a Nina acabara de enumerar, ganhou outro sentido. Levo a mão a cabeça, zonza com o turbilhão de pensamentos que passavam em minha mente e a Nina se levanta me colocando sentada na cama. Eu não consigo falar nada e tento recobrar a consciência e a rédeas daquele situação. A chance disso acontecer era mínima. Não posso me desesperar.

"Não, Nina... acho que essa chance não existe, é coincidência. Não me deixa desesperada." - eu peço voltando à mim. Ela continua me olhando, segura do que havia sugerido. - "Você não está brincando né?"

Ela negou e eu apoio as duas mãos na cama, abaixando a cabeça. Fecho os olhos e respiro fundo, tentando ser racional. Penso por alguns segundo e volto a abri-los a encarando. Como se soubesse exatamente o que eu pensava, ela está com o telefone na mão. Afirmo e me jogo para trás na cama. Eu tenho certeza que isso é loucura, não tem como ser diferente.

*

Uma hora depois, que mais pareceram 10, estamos sentadas no mesmo lugar olhando para a porta do meu banheiro. Por menos que eu queira pensar nisso ou por mais certeza que eu tenha que isso é impossível de acontecer, não consigo não ficar nervosa. Minhas pernas balançam involuntariamente e eu mordo meus lábios tamanho nervoso. A Nina percebe o meu nervosismo e colocar sua mão sobre a minha, tentando me passar confiança, embora eu saiba que a certeza dela é contrária a minha. O telefone apita indicando que o cronômetro chegou ao tempo marcado. Permaneço parada e ela entende, se levantando e entrando no banheiro. O meu coração está na boca quando ela volta a porta, com um dos testes nas mãos. Sua expressão é serena, mas ela não me encara.

Meant To Be - JadréOnde histórias criam vida. Descubra agora