nobody said it was easy

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(ninguém disse que seria fácil)

Vila Velha, 25 de julho de 2023

[PA]

Eu estou puto e não consigo controlar a minha raiva ao jogar o telefone longe no sofá. Passo a mão pelo meu rosto tentando me acalmar e xingo qualquer coisa baixo. É claro que eu entendia a questão do trabalho, mas isso não me impede de me sentir triste por não tê-la aqui comigo, ainda mais sem saber quando nos veríamos outra vez. E não posso esconder que também estou um pouco decepcionado. Eu realmente esperava que ela priorizasse o nosso final de semana dessa vez. Meu telefone apita e vejo que é uma mensagem dela, leio pela barra de notificação e suspiro, decidido a não responder. Preciso esfriar minha cabeça, controlar minha insatisfação ou tudo ficaria pior do que já estava.

"Filho, onde você tá?" - meus pensamentos são cortados pela voz da minha mãe me chamando fechando a porta da sala depois de entrar.

"Aqui na varanda" - respondo e ela vem até mim, dando um beijo na minha cabeça.

"Que cara é essa? Vai almoçar com os meninos?" - ela me pergunta e eu apenas afirmo com a cabeça, olhando a hora no telefone - "Vim dar uma olhada no que tem em casa, pra passar no supermercado e comprar o que falta. A Jade não come de tudo né? Certeza que aqui só tem besteira... por mim ela ficava lá em casa..." - fecho os olhos sentindo minha raiva voltar e vejo minha mãe se virar para ir em direção a cozinha.

"Melhor não perder tempo mãe. A Jade não vem mais." - me limito a dizer e ela se volta novamente para mim.

"Não? Por isso essa cara de bunda... O que houve? Brigaram?" - ela se senta ao meu lado, me encarando e esperando que eu falasse.

" Adivinha? Trabalho, como sempre. Acabou de me ligar pra avisar e se desculpar, e meio que brigamos mesmo. Tô de saco cheio de só eu ter que fazer esforço pra encontrá-la Acho que isso não vai dar certo." - sou sincero e sinto o coração apertar com a minha última frase.

"Vocês começaram sabendo que essa distância existe e que teriam que ser bem maduros para lidar com isso. Estavam indo muito bem... ninguém disse que seria fácil." - ela fica sem entender, mas sua voz é compreensiva - "Filho, é trabalho. Você também já deixou de ir uma vez por conta dele."

"Por que você sempre fica do lado dela hein?" - cruzo os braços inconformado e ela dá um sorriso culpado - "Eu sei que já deixei de ir uma vez, mas recompensei depois. Sempre tô indo atrás dela"

"E você sabe se ela não ia recompensar depois? " - eu nego com a cabeça e dou uma risada irônica - "Paulo André, você ficou com esse deboche pro lado dela também?"

"Claro. Tô puto da vida. Quando ela vai recompensar? Daqui a um mês quando voltarmos da Europa? Mandei ela anotar na agenda pra quem sabe ver se rola de encontrar o namorado" - não escondo minha infantilidade.

"Bem imaturo né? Sei que tá magoado e  entendo sua frustração. Juro que também estou triste, estava feliz com minha norinha aqui." - vejo que ela realmente está sentida. Se programou toda pra receber a Jade aqui e fazer com que ela se sinta em casa - "Mas eu imagino que ela também não esteja feliz, ainda mais agora com essa briga".

"Não consigo não ficar com raiva mãe. Queria muito ouvir dela que abriu mão de alguma coisa por mim, nem que fosse por um dia. Poxa, vamos viajar, não sei quando vamos nos ver, tô morrendo de saudade" - minha voz é baixa e carregada de frustração.

"Filho, ela é bem responsável com o trabalho. E isso não significa que ela te quer menos. Você sabe que ela sempre te quis muito. Você tem todo direito de ficar mal e até sentido com ela, mas dá uma segurada pra não falar o que não quer, magoar a garota e sair machucado também."  - ela sempre tinha as palavras certas. Aproveitei aquele momento pra ganhar um colo de mãe. - "Você é um bebezão, Paulo André".

"Culpa sua que me deixou mimado. Vamos falar de coisa boa, tá animada pra conhecer a Europa?  Tô amarradão em poder levar vocês e meu moleque comigo." - eu digo animado por proporcionar isso à minha família.

"Não vejo a hora. Falando nisso, como vai ficar a Thays nessa história? Vai mesmo?" - ela me pergunta e eu desanimo já prevendo novas situações chatas.

"Sim né. Foi a condição dela pra deixar o PAzinho esse tempo todo lá. Sei que é mais caô do que qualquer coisa, o moleque ficaria numa boa, mas não tô a fim de comprar essa briga." - me dou por vencido.

"Por mim eu ficaria tranquila com ele, mas é a mãe né? A Jade já sabe? É bom você contar, eu no lugar dela ia gostar de ouvir de você". - levanto do seu colo e pego meu telefone, antes de encará-la.

"Quando eu tiver menos chateado com ela eu conto. Ou nem conto, porque vai virar uma situação por cima da outra. Tô sem energia pra isso agora." - vejo minha mãe negar com a cabeça e me levanto do sofá  - "Vou me arrumar".

*

Rio de Janeiro, 25 de julho de 2023

[JADE]

Todas as minhas forças parecem ter ido embora quando eu finalmente entro na banheira. Tinha sido uma tarde exaustiva de reuniões presenciais e online e tudo o que eu preciso é relaxar o meu corpo e a minha mente. Pego o meu telefone e nem sinal do PA. As duas mensagens que enviei sequer foram visualizadas e as 3 chamadas caíram na caixa postal. Ele com certeza não queria ouvir a minha voz de tanta raiva que estava de mim. Coloco o telefone de lado e me afundo na espuma, recostando minha cabeça e fechando os olhos, desanimada.

Fico alguns longos minutos  ali pensando no que eu poderia ou não fazer pra tentar mudar essa situação. Não quero que o PA se sinta, em nenhum momento, preterido por mim. Não é questão de colocar o trabalho à frente da nossa relação, mas a responsabilidade de cumprir trabalhos já programados e que tiveram suas datas mudadas. Eu sei que ele tem se esforçado ao máximo, muito mais que eu, para que a distância seja menor entre nós dois. Essa era a minha vez de ir até ele, ir até a sua família que sempre foi tão querida comigo. Era a minha vez de fazer algo para matar a saudade que era nossa companheira nesse pouco tempo de namoro.

Respiro fundo e sinto vontade de chorar, não segurando as lágrimas que caem seguida. Estou me sentindo muito culpada e angustiada pela falta de respostas, por não saber como ele está, por imaginar o quanto ele está com raiva de mim.

"Ei, estava indo deitar e escutei você chorar" - Nina entra no meu banheiro que estava com a porta aberta e só aí me dou conta de que chorava alto - "o que foi?"

"Não quero falhar com ele agora Nina. Eu preciso ir, eu prometi... ele nem me responde de tanta raiva que deve estar" - enxugo meu rosto com as costas da minha mão e me sento, pedindo a toalha.

"Amiga, eu não sei o que fazer. As reuniões a gente pode até tentar, faz online, não sei. Podemos tentar adiantar todas as suas entregas, nem que a gente passe a madrugada gravando. Mas a viagem de NY... vai ser difícil." - ela me passa a toalha e tenta encontrar soluções.

"A gente pode tentar? Vou mandar mensagem pro David, ele vai me matar." - me levanto com o telefone nas mãos, me secando rapidamente e pegando meu roupão.

"Jade, você vai me deixar louca. Não avisa nada ao PA ainda..." - ela me pede, tentando não me dar esperanças.

"Como se ele fosse me atender. Deve tá só o ódio." - seguro em seus ombros - "Nininha, eu tô apaixonada por aquele homem e não quero estragar o que a gente mal começou. Eu sei que vocês vão conseguir e... se NY não der certo, tudo bem. Vão ter outras oportunidades."

"Nãoooo jade, você não tá doida. Não ainda." - ela implora vindo atrás de mim - "Vai dormir, esfriar a cabeça, que a gente vai dar um jeito. Lá se vai minha noite de sono tentando encontrar uma solução pra suas loucuras."

Dou um sorriso animado. Ela daria um jeito, eu tenho certeza.

Meant To Be - JadréOnde histórias criam vida. Descubra agora