Meant To Be - Jadré

I know I'm probably much too late

(eu sei que provavelmente estou muito atrasado)

Vila Velha, 28 de maio de 2023

[PA]

Era quase hora do almoço quando cheguei à casa da minha mãe aqui na barra. Enquanto eu saia do carro o Poloni me ligou e atendi me desviando da Nine que pulava em mim. Ele estava com outros amigos nossos e me chamou para colar na praia mais tarde. Não estava muito animado, mas disse que depois de almoçar e descansar um pouco em casa com minha família. Eu estava precisando, por mais que estivesse há duas semanas por aqui. Foram dias de treino intenso que não terminaram muito favoráveis, mas eu estava confiante para a competição daqui a 20 dias.

- Cheguei, Dona Mary! - Falei tirando os óculos e deixando na mesa, entrando direto na cozinha. - O que está fazendo de bom aí? - a abracei por trás, beijando sua bochecha.

- Ei meu filho, tudo bem? Sua macarronada, daqui a pouco tá pronta. - ela continua mexendo a panela com o molho - A Thais e o PAzinho não vieram com você?

-Não, ela não avisou nada, achei até que estivesse aqui. Se eu soubesse tinha passado lá. - pego o telefone para olhar as mensagens, mas tinha certeza que não havia nada. -  Cadê todo mundo?

- Matheus e Hyun estão lá em cima. Seu pai foi no mercado. Liga pra Thais e veja se ela não quer que ele vá buscá-la, ele acabou de sair daqui.

Afirmei e sai da cozinha mandando um áudio para  a Thais, que logo respondeu dizendo que já estava vindo. Avisei a minha mãe e subi para ver meu sobrinho e os pais dele. Hyun estava descendo com o Matheo e dei um beijinho nele, que estava sonolento. Dei um oi para meu irmão e fui para o meu quarto. Tinha algumas coisas ali que queria separar e levar para casa e aproveitei para fazer isso enquanto ouvia uma música. Alguns minutos depois o meu telefone apitou e era o Patrick me enviando um link, seguido de apenas um emoticon: "😬". Não fazia ideia do que era, mas quando abri preferia continuar sem saber. Fotos, vídeos e textos que não precisavam fazer parte do meu domingo.

Cerrei o punho esquerdo e apertei o botão apagando a tela do meu telefone, o jogando na cama em seguida. Sentei e apoiei a cabeça nas duas mãos, respirando fundo. Um turbilhão de pensamentos embaralharam a minha mente e demorei um pouco a conseguir organizar o que de fato eu estava sentindo naquele momento. Primeiro senti ciúmes, porque eu odiava saber que ela estava nos braços de outro, imagina vê-los juntos trocando carícias tão à vontade no meio de todo mundo. Não era a primeira vez, mas dessa vez eu sabia era diferente. Eu não tinha nem direito de sentir ciúmes. Depois senti raiva. Raiva de quem estava com ela, por ter quem era pra ser minha. Raiva minha, por não ser homem o suficiente para tomar o meu lugar em sua vida. E por fim, culpa. Me senti culpado por não procurá-la nem para dizer que eu não sabia o que fazer. Me doeu pensar que ela deve ter cansado de esperar qualquer atitude minha e simplesmente seguiu a vida. Ela não estava errada. E eu merecia ver o que estava vendo. Peguei novamente o meu telefone e abri o whatsapp, indo direto na nossa conversa fixada no topo da minha lista. Nosso último contato tinha sido exatamente no dia em que conversamos na praia da Bahia e eu tinha enviado uma foto dela indo em direção ao mar assim que acabamos de conversar. Ameacei digitar qualquer coisa algumas vezes, apagando em seguida. Soltei o telefone de novo e fui em direção a uma gaveta, de onde tirei o bucket de vaquinha e a pulseirinha que eu guardava a 7 chaves. Levei o bucket ao rosto na tentativa de ainda sentir qualquer vestígio do cheiro dela, mas ele só existia em minha memória.

Escutei passos no corredor e logo a Thaís entrou, sem bater, com o meu filho no colo. Guardei os acessórios na gaveta, sem fazer questão de esconder.

- Podia ter passado lá né? Fiquei esperando você dizer algo, desnecessário eu ter que pedir... - ela disse meio brava e eu me segurei para não revirar os olhos. Péssimo momento para querer atenção, Thaís.