'Cause you're my girl

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(porque você é minha garota)

Vila Velha, 03 de julho de 2024

[PA]

Os últimos 7 dias foram de treino intenso e não acaba por aqui. Hoje fiz uma bateria de exames e amanhã iniciamos a etapa final de treinos antes de embarcar em busca do sonho olímpico no domingo. As competições só começariam no final do mês, mas nós chegaremos antes para continuar os treinos lá. Chego em casa depois de um dia inteiro na rua, resolvendo todas as pendências possíveis para me dedicar somente aos treinos leves, principalmente, a minha família. Atravesso a casa em direção ao quintal onde acredito que a Jade estaria, pois é o horário que ela treina com o Lapa. Mesmo a distância o comprometimento da bichinha é admirável. Passo pela minha mãe na cozinha e pergunto pela Maya, e ela me diz que está com a mãe lá fora.

Avisto as duas no meio da grama. A Jade sentada, ainda com roupa de treino, tinha o telefone virado para ela, provavelmente fazendo uma chamada de vídeo. A Maya estava sentadinha em seu colo, com os olhinhos vidrados na tela. Me aproximo sorrindo, morrendo de saudade das duas, depois de ter passado o dia inteiro longe delas. Escuto risadas vindas do telefone acompanhando a risada da Jade, animada com a conversa.

"...vão lá jogar sem mim. Aproveitem bem que semana que vem eu chego e vocês vão cansar de perder." - ela pisca e dá risada. A Maya olha rindo em direção a mim - "Dá tchau pra Nini, bebezinha." - ela segura a mãozinha da Maya, balançando para a tela. Eu espero calmamente elas terminarem - "Tchau amiga, te ligo amanhã. André, a saída vai ser por sua conta. Tchauzinho!"

Quando escuto o nome do André, meu sorriso instantaneamente perde a força. Se for quem eu tô pensando, eu prefiro estar errado. Continuo parado olhando para as duas, e a Jade coloca o telefone de lado, beijando os cabelos da Maya em seguida.

"O papai chegou amorzinho. Fala pra ele que você ficou assistindo a mamãe treinar, já que ele não estava aqui." - ela diz fofa e ainda estou tentando assimilar o último minuto. A Jade levanta o rosto rindo, e encontro meu rosto gélido - "O que foi PA? Viu um fantasma?"

"A saída vai ser por conta do seu contatinho, é?" - eu disparo sem pensar, mas me arrependo no mesmo instante em que a expressão da Jade se apaga à minha frente. Ela não responde e os próximos segundos parecem durar uma eternidade até que ela se levante com a Maya no colo e dê alguns passos em minha direção, passando direto por mim - "Jade..." - eu chamo seu nome, arrependido, e alcanço o seu braço a segurando.

"Dá licença..." - sua voz é fria e ela olha para a minha mão, pedindo que eu a solte.

"Desculpa." - eu digo baixo e solto seu braço. Ela permanece parada, me encarando. A Maya deita o rosto no ombro da mãe, que acaricia suas costas - "Não devia ter dito isso."

"Acho que o mínimo que eu mereço é respeito. Nunca te dei motivos para falar comigo desse jeito." - ela diz e eu consigo sentir a decepção em sua voz.

"Fui um idiota. Você não merecia ouvir essa frase ridícula mesmo. Desculpa..." - eu não sei o que dizer para me desculpar do estrago que uma frase acabou de causar - "Senta aqui..."

Eu me sento na grama e estendo minha mão para ela. A Jade olha para os lados, pensativa e se senta ao meu lado, deixando minha mão no vácuo e permanecendo em silêncio. Esfrego as mãos em meu rosto e a encaro, tentando encontrar palavras.

"Era ele?" - é o que eu consigo perguntar e ela sorri irônica, incrédula com a minha coragem de permanecer no assunto. Ela não merece a minha dúvida, mas a ideia de vê-la tão próxima de alguém que havia aproveitado da mulher que eu amava, me despertava uma ira nunca antes sentida.

Meant To Be - JadréOnde histórias criam vida. Descubra agora