Meant To Be - Jadré

and when we're together, I have all I wished

(e quando estamos juntos, eu tenho tudo o que eu queria)

Paris, 25 de julho de 2024

[PA]

Apesar de ser verão, o dia hoje amanheceu um dos mais frios desde que cheguei a Paris.  Faltam 2 dias para a competição e o nervosismo começa a tomar conta de mim. Fico aliviado por ser o dia em que fomos liberados para receber nossas famílias aqui na Vila Olímpica. Treinamos até o meio da tarde, e agora estou livre para me recarregar com o amor da minha família. Depois de me arrumar desci com o meu pai para a área do jardim, esperando por eles. Olho ao redor e alguns dos atletas também tem sua noite de folga e estão por ali, ou esperando, ou já curtindo com filhos, pais, esposas e maridos. 

Essa época do ano escurece bem tarde por aqui, e o céu claro e o sol forte, apesar do vento frio, disfarçava a noite. Dou uma olhada no meu telefone em busca de uma mensagem da minha mãe, que avisou há alguns minutos terem saído do apartamento onde estão hospedados. Demoraram um pouco mais porque o Peazinho e o Matteo estavam dormindo, e eles preferiram esperar. Eles estão aqui há uma semana e essa é a segunda vez que os vejo desde que chegaram. Nosso contato é basicamente por chamadas de vídeos, mas já é o suficiente saber que estão perto e estarão no dia da competição me dando a força que preciso para tentar alcançar o meu sonho. Apesar de estar feliz e coberto de amor, ainda falta um pedaço de mim. Tenho que assumir que queria as minhas duas meninas aqui. Sei que foi uma escolha minha, pensando no bem estar da minha filha, ainda tão pequena. A Jade fala comigo a todo instante e me mostra tudo o que pode da rotina da Maya, para que eu me sinta parte dela, e eu não poderia ser mais grato. Abro nossa conversa, dando um sorriso para a última foto que ela me enviou hoje na hora do almoço, onde a Maya dormia na cama, acompanhando a mãe em um dia de trabalho em São Paulo.

"Tá com saudade da pequena né?" - meu pai quebra o silêncio ao me ver namorando a foto em meu telefone.

"Das duas. Parece que ela cresceu." - eu digo, com um sorriso fraco - "A Jade me mostra tudo, mas eu não consigo não sentir que estou perdendo tanto da Maya. É o mesmo sentimento de quando entrei no Big Brother e deixei o Peazinho tão pequenininho."

"É uma situação parecida. Você indo em busca do melhor para eles, filho. Fica tranquilo, logo essa distância não vai existir e você volta para elas. Falta pouco." - ele olha para o telefone - "Eles chegaram, vou lá buscar. Espera aqui."

Eu afirmo e vejo ele se afastar em direção a entrada do lobby. Teclo a chamada rápida para tentar falar com a Jade, mas não me atende e entendo que ainda deve estar trabalhando. Ela me avisou que ficaria um pouco off hoje. Digito uma mensagem e antes de enviar, a voz do meu moleque me encontra.

"Papaiiiii" - ele grita segurando a mão do meu pai, parados um pouco mais a frente. Me levanto e vou ao encontro dos dois, me ajoelhando e recebendo o meu filho nos braços.

"E aí muleque. Tudo bem? Isso tudo é frio?" - eu digo e ele ri puxando a touca em sua cabeça - "Tava com saudade do papai?"

"Tava. Vai corrê hoje, vai?" - ele pergunta, animado.

"Hoje não. Vamos só passar a noite juntos e depois de amanhã você vai ver o papai correr, tá bom?" - ele afirma e beijo sua testa, ainda ajoelhado de frente para ele - "Conta pra mim o que você fez hoje..." - eu pergunto, como fazia todos os dias a noite quando nos falávamos. Ele adora contar tudo o que faz durante o dia, empolgando com os passeios.

"Eu cordô, tomou leitinho, bincou com minha maninha, durmiu, cordô, tomô banho e andô de carro pra vê papai." - ele enumera e eu dou risada.