we're gonna make it

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(nós vamos conseguir)

Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 2024

[JADE]

Continuo com os olhos fechados enquanto escuto o PA me chamar quase em um sussurro. Sua voz se mistura ao choro da Maya e eu preciso me esforçar para conseguir acordar, pela terceira vez essa madrugada. Me sento ainda desnorteada de sono e olho rapidamente para o vidro, entendendo que ainda estava escuro lá fora.

"Que horas são?" - eu pergunto e alcanço meu óculos, me recostando na cama -"ela não está dormindo nada..."

"São quase 5h, a última vez foi às 2h." - ele tenta acalmar a bebê enquanto eu me ajeito devagar, tentando driblar o sono quase incontrolável que estou sentindo - "vamos lá..."

Eu respiro fundo antes de pegá-la no colo. Desde o hospital, a amamentação se mostrou mais um desafio para mim. Eu e a Maya demoramos a nos entender e a acertar a pega correta dela, o que tornava cada mamada dolorosa demais. Tem sido um sofrimento cada vez que ela encosta no meu peito e eu não sei até quando vou suportar. Somado a isso, desde ontem o meu leite desceu de vez, aumentando a dor e a sensibilidade e a confusão da Maya para conseguir mamar com calma.

O PA repousa a mão em minha perna enquanto me vê posicioná-la de frente para mim, ainda chorando. Quando ela coloca a boca em meu peito o meu corpo se contrai e eu me afasto, soltando um gemido de dor.

"Calma." - ele se limita a dizer, sem ter muito o que fazer por nós duas. Instintivamente eu volto a colocar o peito em sua boquinha e ela começa a mamar com pressa. Aperto meus dentes tentando segurar a dor aguda que atravessa o bico do meu peito em um quase choque que me faz ver estrelas - "Se recosta na cabeceira, tenta relaxar um pouco." - ele diz percebendo meu corpo tenso e rígido em defesa da dor.

Faço o que ele me pede e jogo minha cabeça para trás, deixando lágrimas silenciosas saírem dos meus olhos.

"Não sei se vou aguentar, PA. Está doendo muito." - eu o olho, quase em súplica.

"Eu sei. Mas você vai aguentar sim. E se estiver muito difícil e quiser parar, tudo bem, você tentou. Não tem problema, a gente tem alternativas." - sei que por ele nós já estaríamos tentando outras formas e eu vejo o desespero em seu olhar cada vez que vem trazer a Maya para mamar, por saber que está sendo doloroso pra mim. Mas ele nunca deixa de ser compreensivo e me fazer acreditar que eu consigo.

Meus braços tentam involuntariamente afastar a bebê ao sentir meu peito queimando em sua boca, mas eu resisto e minha mão treme ao segurá-la grudada em mim.

"Vou buscar água pra você, a daqui acabou. Já volto..." - ele se levanta, beija minha cabeça, e eu afirmo, balançando meus pés inquietos.

Assim que o PA sai do quarto eu me permito chorar, abafando minha boca com a mão. Tinha um turbilhão de coisas passando na minha cabeça e aquela dor me deixava nervosa. Olhei para a Maya que mamava de olhinhos fechados. Sua mãozinha repousava sobre o meu peito e eu sinto uma culpa tremenda por não estar conseguindo fazer isso direito.

"Desculpa, meu amor. Eu não sei se vou conseguir..." - eu digo e acaricio sua bochecha - "A mamãe não sabe fazer isso, desculpa..." - eu peço com o meu coração cheio de culpa e dor.

Passo o meu polegar na sua testa devagar e ela abre os olhinhos me encarando profundamente. Parecendo entender a minha vontade de desistir, ela suga mais forte e esconde o peito com seu bracinho gordo. A cada sugada uma pontada de dor percorria o peito que ela mamava enquanto do outro eu sentia o leite molhar a minha roupa. Dei um sorriso em meio choro, entendendo aquilo como um sinal. Eu tinha o que ela precisava e não posso ignorar isso.

Meant To Be - JadréOnde histórias criam vida. Descubra agora