now I'm here where I'm meant to be

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(agora estou aqui onde devo estar)

Vila Velha, 27 de julho de 2023

[PA]

O sol ainda estava forte nesse fim de tarde na praia, enquanto sentado na sombra eu vejo meu pai rabiscar alguma coisa no caderno e eu espero para iniciar o treino na arei. Pego meu telefone que toca com uma ligação da minha mãe e atendo.

"Fala D. Mary. Tá com saudade?" - eu brinco com ela que ri do outro lado.

"Mas você se acha hein Paulo André. Vocês já estão na praia? Tô com o PAzinho e ele quer te ver" - ela tenta responder séria, mas ri em seguida.

"Chegamos agora, vou começar o treino já já. Liga a câmera pra eu falar com ele." - eu ia apertar o botão para a chamada vídeo, mas ela me interrompeu antes.

"Não, tô dirigindo. Estou perto, daqui a pouquinho passo aí e fico com ele um pouco vendo o seu treino. Tchauzinho" - ela desliga sem deixar eu responder.

Balanço a cabeça negativamente sem entender muito bem e meu celular apita com uma notificação do instagram mostrando que a Jade acabara de postar um story. Abro instantaneamente de forma automática e fico alguns segundos vendo a foto das nuvens pela janela de um avião. Respiro profundamente, sem saber pra onde ela estava indo. Desde aquela conversa no telefone não liguei mais pra ela e imagino que esteja indo pra SP ou já para NY. Ela me mandou algumas mensagens, e respondi friamente algumas delas. Eu ainda estou muito chateado com o bolo que ela nos deu e só de lembrar que ela deveria chegar amanhã cerro meu punho quase com raiva. Não dela, mas da falta dela. Sei que estou errado em não conversar, em dar esse gelo, mas eu ainda não conseguia lidar muito bem com essa frustração. Curto o story na intenção de demonstrar carinho, mas com certeza ela interpretaria como uma indireta. Sou tirado do meu quase arrependimento pelo meu pai me chamando para começar, o que me faz deixar o celular de lado e tomar meu lugar sob o sol.

Treinei na areia direto por meia hora e agora me deitei no chão, exausto, para me recuperar para a próxima série, que seria ainda mais pesada. Por alguns minutos minhas respiração é ofegante e mantenho os olhos fechados, com as mãos no peito e as pernas trêmulas. Quando recupero o ar, abro os olhos no mesmo instante que a voz do PAzinho chama por mim. Abro os olhos e me viro o vendo correr em minha direção pela areia. Mais atrás dele minha mãe vinha sorrindo acompanhada de mais duas pessoas. Pisco algumas vezes e antes que eu possa ter certeza do que estou vendo, meu filho se jogou sobre mim, me fazendo levantar com ele no colo.

"tava com saudade do papai, moleque?" - beijo seu rosto e olho na direção que ele aponta.

O que ela estava fazendo aqui? Era isso mesmo que eu estava vendo. Permaneço parado com o PAzinho no colo, vendo minha mãe se aproximar e as duas continuarem paradas mais atrás.

"posso saber o que significa isso?" - eu pergunto incrédulo sem tirar os meus olhos dela, enquanto minha mãe pega o meu filho.

"Desfaz essa cara de bobo e essa marra idiota. Vai deixar sua namorada plantada ali no sol?" - ela vai em direção ao meu pai e ao Patrick que riam da situação. Vejo a Nina acenar com a mão e ir em direção aos outros.

Eu não consigo acreditar que ela está aqui, depois de toda a raiva que tinha me feito passar. Talvez se eu tivesse conversado com ela depois, eu soubesse que ela tinha conseguido remanejar seus compromissos. Ela havia me colocado como prioridade e eu estou rindo por dentro. A minha vontade nesse momento é correr e tirá-la do chão em um abraço cheio de saudade. Mas apesar dela estar aqui, não sei o que está se passando naquela cabecinha enquanto ela me olha meio sem-graça e com os braços para trás.

Não consigo esconder a minha satisfação e dou um sorriso me aproximando dela, que abaixa o olhar assim que ficamos cara a cara.

"o que você tá fazendo aqui, marrentinha?" - coloco uma mecha do seu cabelo atrás da sua orelha, e levanto seu queixo para encarar seus olhos. Minha voz é calma e aliviada.

"eu estou onde deveria estar. Prometi, lembra?" - ela diz baixo, dando um meio sorriso. - "não mereço um abraço depois de tantos dias me ignorando?"

É o que eu faço assim que ela termina a frase, a envolvendo em meus braços e a apertando em meu abraço. Seu rosto se aconchegou em meu peito nu e suado, e ela pareceu não se importar suspirando e fechando seus braços em volta da minha cintura. Depois de alguns longos segundos ela levanta o rosto e me encara e sem dizer nada eu tomo seus lábios em um beijo calmo e cheio de saudade.

"você me deixou louco sabia?" - eu digo quando finalizamos nosso beijo com o um selinho - "desculpa por não ter te atendido ou respondido. Você me jogou um balde de água fria naquela ligação. Como você conseguiu vir? Por que não avisou?"

"Eu tentei né? Mas essa bronca toda sua não ajudou." - ela dá de ombros e eu dou risada - "a Nina fez um malabarismo com minha agenda depois que eu ameacei cancelar tudo. Pedi a sua mãe pra te avisar, mas ela disse que você merecia sofrer uns dias e... tô aqui, em Vila Velha, até domingo".

Dou um sorriso de 50 dentes e beijo sua testa. Nos viramos para nossa plateia que ria da minha cara de idiota.

"Vocês dois também me enganaram, ou foi só ela?" - aponto para minha mãe e nos aproximamos abraçados deles. 

"Claro que sim!" - meu pai diz enquanto a Jade me solta para abraçá-lo - "Bem-vinda a nossa terra, querida. Só você pra tirar a chatice desse menino."

"Nani, o que seria de nós dois sem você?" - eu abraço a Nina que me dá um tapa na testa em seguida.

"Vocês ainda vão me enlouquecer, isso sim." - Nina reclama e olha pro Patrick - "Não ri, que a próxima dor de cabeça você que vai ter que resolver".

"Zadi, paia ó" - o PAzinho interrompe os resmungos e aponta para o mar - "qué ir, papai".

Eu ia pegá-lo no colo, mas ele se vira negando e estende os braços para a Jade que o pegou. Neguei com a cabeça, sabendo que essa briga eu havia perdido. Eu amo vê-la com ele, porque a Jade sempre fala que não tem jeito algum com crianças, mas o apego que o meu filho tinha por ela me mostra o contrário.

"Agora não vovó. Vamos pra casa levar a Jade e a Nina, e quem sabe no final da tarde o papai leve vocês pra tomar banho." - minha mãe vem em minha direção - "como você estava dando gelo nela, sua namorada vai pra minha casa, né Jade?"

"Concordo, Tia. Vim pra cá pra te ver e passar uns dias com vocês." - ela aponta para minha mãe e para o meu pai e abraça o PAzinho.

"Ah pronto. Vão meter essa mesmo?" - coloco as mãos na cintura, reclamando.

"Sim. E você vamos voltar para o treino, ainda tem muita coisa pra fazer" - meu pai assume a postura de general e me chama.

"pode até ir pra casa da minha mãe, agora, mas depois você vai pra minha casa e fim de papo" - lhe dou um beijo rápido nos lábios e outro na testa. Me despeço dos outros e vejo eles saindo em direção à orla, onde o carro da minha mãe estava parado.

Fiquei alguns segundos observando eles se afastarem e dou um sorriso bobo. A Jade não só era minha namorada, como estava na minha VV, só pra me ver. Eu realmente vivo um sonho.

"que cara de bobão, irmão..." - o Patrick tira uma com a minha cara e meu pai me faz sinal da areia, me apressando.



Meant To Be - JadréOnde histórias criam vida. Descubra agora