Capítulo 3

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Evening Star

Por quase dois meses seguidos,
fez o mesmo caminho todas as noites. Legolas não sabia para onde ele ia depois do pôr do sol. Nunca sabia. E também nunca perguntava, mas isso não significava de modo algum que ele não o via sair. Estreitava os olhos sempre que Aragorn inventava alguma desculpa torpe para precisar sair, mas não levantava oposição. Então novamente, ele fazia o caminho da melodia. Cada dia, uma diferente, mas a Balada de Lúthien era sua favorita, e talvez a de sua precursora. Ela narra o conto de Beren e Lúthien, e o amor entre um homem da linhagem de Húrin e uma Elfa de sangue nobre, dos Sindar. Aragorn não acreditava em contos de fadas, mas a melodia lhe era cantada por sua mãe, anos antes e era a única coisa dela que ainda se lembrava.

Após alguns minutos, finalmente
chegava à clareira. Sempre iluminada pela lua e pelas estrelas e em silêncio se postava, por detrás da mesma árvore, ouvindo o doce som da harpa. Até que a música se extinguisse e ele finalmente voltasse para casa.

— O som está ótimo. —
Observou uma voz, que a despertou do alento trazido pela melodia. Levantou os olhos e viu Elladan sorrir para ela. O elfo olhou ao redor e sentiu um calafrio. — Mas o Ada odiaria saber que está sozinha na floresta a até a essa hora.

— É difícil esconder alguma
coisa dele. — Garantiu Arwen, entregando a harpa ao irmão, os dois puseram-se a caminhar de volta ao castelo e ela sentiu-se tentada a dizer-lhe que talvez não estivesse sozinha, mas temeu que Elladan se preocupasse, e afinal, não tinha certeza do que sentia.

— E como está a velha Galadriel?

— Como sempre. Ela parece ter
se tornado membro de um tipo de clube de magos. — Soltou uma risada alta, que Elladan acompanhou ainda mais escandaloso.

— Magos? A avó é louca! Ainda
obcecada com a história do Anel.

Arwen parou no meio do
caminho, incomodada com a menção do Anel e o olhou parecendo temerosa.

— Não sei o que devemos pensar
sobre isso, irmão. Galadriel pode ser muitas coisas, mas alimentar loucura e superstições nunca foi um de seus robes.

— O Um anel? — Elladan
sossegou, mas ele estava perturbado com a ideia. — Bem, esqueça. É melhor que voltemos o quanto antes para casa.

Ela concordou e o seguiu até a
entrada da casa do senhor seu pai. Elrond estava na varanda, escrevendo algo em uma caderneta. Levantou-se e abraçou Arwen, indo junto com ela para dentro da casa.

— Estava novamente no bosque?
— Arwen parou o caminho que fazia até o quarto.

— Eu... senti saudades de tocar.

Elrond mostrou-lhe um sorriso
fraco e sentou-se, analisando o antigo instrumento, o qual Elladan deixara sobre o estofado de sua sala. Era a Harpa de Celebrian, sua esposa e mãe dos gêmeos Elladan, Elrohir e de Arwen, que era apenas uma elfing quando a mãe foi emboscada por Orcs no caminho para Lothlorien, quando ia visitar seus pais. Celebrian fora torturada e atormentada, recebendo ferimentos profundos e envenenados, que jamais se curaram e lhe causaram profundas feridas emocionais. Sem mais sentir o prazer em sua vida, horrorizada e assombrada pelas memórias de sua tortura, ela não desejava mais permanecer na Terra-média e navegou para o oeste no ano seguinte.

— Você é tão boa quanto ela,
sabia? — Arwen baixou o olhar e tentou sair daquele assunto. Odiava falar sobre sua mãe, e sempre que o saudoso senhor Elrond trazia seu nome à memória, imagens perturbadoras assombravam seus sonhos na noite seguinte. Ela evitava ao máximo.

— Obrigada... eu acho. —
Agradeceu um pouco sem graça e fez o caminho até seu quarto.

O dia se passou lentamente,
mesmo para Arwen, que estava ansiosa por voltar novamente ao bosque e continuar treinando a harpa de sua mãe. E embora não dissesse em voz alta, aquela não era a única real razão pela qual continuaria indo até lá, mas tinha medo de dizê-lo a qualquer que fosse. Principalmente a seu pai, que estava tão preocupado com tudo. A noite foi longa e assombrosa, não pudera dormir com tranquilidade e atribuía a isso, em parte ao fato de ter novamente se lembrado de sua mãe, mas nunca dissera isso a Elrond ou a seus irmãos, embora todos estes soubessem perfeitamente que estivera presente no fatídico dia em que Celebrian fora atacada.

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