35. Complicados.

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Joaquín Piquerez

Senti Lara empurrar meu peitoral com a maior força que ela tem, me desequilibrei um pouco pra trás dando espaço.

– Fica longe de mim. — apontou o dedo na minha cara. – Não se meta nas minhas coisas.

– Amo quando você fica brava assim. — abaixei sua mão e me aproximei um pouco mais dela. – Significa que eu ainda te deixo desconcertada.

– Você já teve sua chance e foi um babaca.

– Por isso que eu quero tentar consertar. — segurei suas duas mãos. – Para de ser complicada.

– Fica longe de mim. — soltou suas mãos das minhas e saiu pisando firme.

Revirei os olhos e segui seus passos até a sala.

Observei Lara passar por trás de Richard e abraça-ló, ele riu sem mostrar os dentes, falou alguma coisa que eu não consegui ouvir, só vi ela rindo de lado. Raphael me olhou dos pés a cabeça assim que sentei ao seu lado.

– Tá caindo aí. — ele disse me fazendo desviar o olhar.

– O que?

– A baba da inveja. — ele deu risada.

– Cala a boca Raphael. — encostei as costas no sofá. – Sei que você também queria tá ali.

– Claro que não. Nem superei meu antigo relacionamento ainda. — ri pelo nariz. – Tô correndo de compromisso.

– Eu também estou. — ele gargalhou.

– Anram. Tô vendo. Aceita que sua chance já passou. — ele bateu no meu ombro. – Agora fica morrendo aí.

– Por que você não toma conta da sua vida?

– Lara faz parte da minha vida e você também. — estalou a língua no céu da boca.

– Eles são tão fofos né? — Endrick chegou sentando do meu lado.

– Eles quem? — Veiga perguntou de propósito, senti a ironia nas suas palavras.

– O Richard é a Lara. — revirei os olhos. – Qual foi Piquerez, tá revirando os olhos porque? Tá possuído?

– Tá possuído pela inveja. — Veiga respondeu dando risada.

– Eu só não vou mandar vocês pra aquele lugar porque estou em um lugar novo e dizem que falar palavrão trás más energias. — levantei ajeitando minha blusa.

– Existe energia pior do que a inveja? — Endrick perguntou enquanto Veiga gargalhava.

– Vamos embora? Todo mundo circulando. — bati palmas. – Vamo, vamo.

– Cara chato, puta que pariu. — Veiga levantou revirando os olhos.

Apesar da enrolação pra se despedir, eles aceitaram vim embora muito fácil. Me despedi de Lara apenas acenando a mão e recebendo o mesmo de volta.

Assim que Richard e Lara fecharam a porta, Gabriel Menino, Veiga e Endrick começaram a fofocar sobre o que eles vão ficar fazendo lá sozinhos, de acordo com eles, estrear a casa com o pé direito.

Eu já não estava mais aguentando esse assunto e comecei a andar na frente, Zé Rafael me acompanhou.

– Hoje ficou bem na cara que você gosta dela. — Zé falou dando um sorrisinho de lado. – E quem sou pra me meter, mas acho que você deveria lutar por isso.

– Não luto por ninguém além do Palmeiras.

– Quem você tá querendo enganar? — dei de ombros. – Se você realmente gosta, precisa insistir.

– Mais? Não sei mais o que faço pra provar pra ela que eu mudei.

– Talvez o problema esteja aí. Você quer provar pra ela que você mudou... — franzi o cenho. – Mas e pra você? Você não tem nada pra provar há si mesmo?

Fiquei pensativo com essa pergunta de Zé Rafael.

A verdade é que eu estou cercado em um beco sem fim, acompanhado pelo passado e pelo possível futuro.

Mas como nem tudo é um jardim cheio de rosas, eu deixei ela primeiro, desamparada e confusa.

Como eu disse no começo, estamos andando lado a lado acompanhados pelo passado, e por causa desse passado talvez exista uma falsa esperança de ter um possível futuro juntos.

Então por que eu me indigno tanto? Eu preciso mesmo provar alguma coisa?

Talvez eu devesse desistir assim como o Veiga falou.

Lara Maia

Aproveitei que fiquei sozinha com Richard e começei a pensar sobre nós, sobre sua proposta.

Penso em uma maneira sutil de dizer a ele o que quero, sem segundas intenções, sem parecer uma vadia fria.
Esses pensamentos me deixam confusa.
Estou tendo delírios, imaginando como fazer diferente.

E as coisas que Piquerez falou pra mim apenas me confundiram ainda mais.

Eu não mereço o Richard. Ele não merece passar por isso.

– Richard, eu... — suspirei fundo e olhei pros meus pés. – Eu não quero.

Vi ele virar a cabeça um pouco pro lado e franzir a sombrancelha.

– O que?

– Sobre ser sua, eu... eu

– Tudo bem, eu já entendi. — vi ele virar para trás caçando alguma coisa.

– O que você vai fazer?

– Ir embora né, eu não moro aqui. — sua resposta saiu áspera.

– Sei que você está chateado e tem toda a sua razão. Você não merece uma pessoa confusa ao seu lado... — vi ele colocar suas mãos no bolso. – Eu não posso prender você dessa forma. Por mais que eu não queira te perder, às vezes é necessário entender que é melhor assim.

– Tudo bem.

Richard não demonstrava nada, apenas balançava o próprio corpo com os pés.

– Você não quer falar nada?

– Entre te machucar com as coisas que eu quero dizer e te deixar em paz, eu escolho a segunda opção.

– Eu não pedi pra você me deixar em paz.

– Você me pede para não partir, mas não me dá motivos para ficar. — engoli seco. – Como sempre, confusa. — ele passou por mim indo até a porta.

– A gente pode...

– Vamos fazer o seguinte... —  me interrompeu. – Começar do zero e fingir que nem nos conhecemos. — virei olhando pra ele ainda de costas com a mão na maçaneta da porta.

Vi ele girando a maçaneta saindo dali, sem olhar pra trás.

Ouvir isso foi doloroso. Sei que isso tudo está sendo doloroso tanto pra mim quanto pra ele. Mas é melhor assim.

Somos complicados e ele sabe disso, apesar de nunca ter desistido.
Não sei oque tem em mim que faz ele permanecer. Não quero acreditar que seja só conexão sexual, isso é muito pouco para alguém como ele.

Meus olhos estão pesados desde o começo da conversa e um suspiro fundo tomou conta do local. Meu peito dói, queima, e eu até coloco a mão em cima pra tentar me acalmar. Eu quero chorar, mas eu não vou.

Ouvi passos rápidos pelo corredor do apartamento e me assustei quando vi ele entrar de novo pela porta.

– Foda se.

Foram as últimas palavras dele antes de tomar posse da minha boca.

Senti a lágrima que eu tanto segurava descer involuntariamente quando nossos lábios selaram um no outro.

𝙏𝙀𝙈𝙋𝙀𝙎𝙏𝘼𝘿𝙀 𝙑𝙀𝙍𝘿𝙀 • 𝙋𝘼𝙇𝙈𝙀𝙄𝙍𝘼𝙎.Onde histórias criam vida. Descubra agora