39. Em negação.

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Richard Ríos

Os olhos de todos eles estavam em mim, esperando uma reação minha, mas eu não conseguia nem me mexer.

Fiquei ali parado, sem conseguir responder essa pergunta inacreditável.

Senti meu peito apertado e uma falta de ar momentânea, meus olhos provavelmente estão marejados pelo choro que eu seguro. Eu sei que a culpa não é dela, mas porra, isso doeu tanto.

– Vamos lá pra fora. — Veiga falou pegando no meu braço e me levando pra fora do quarto.

Me sentei em uma das cadeiras que fica na porta e desabei com as mãos no rosto.

– Não fica assim Richard, eu sei que é difícil. — Veiga sentou do meu lado esfregando minhas costas.

– Ela-ela se lembra de todos vocês, menos de mim... — funguei pelo nariz. – Ela esqueceu justo de mim Veiga, justo eu.

– A culpa não é dela Richard, você sabe disso. — abraçou meus ombros. – Em condições normais certeza que ela vai se sentir muito grata por tudo que você fez.

– Não faz mais sentido ela saber tudo o que eu fiz, pra ela eu vou ser só mais um doador comum. — enxuguei minhas lágrimas.

– Não fala assim. Ela vai se lembrar de tudo aos poucos, lembra oque o médico disse.

– Mas e se ela não se lembrar Veiga? Eu faço o que? Choro mais ainda?

– Você realmente gosta dela né? — acenti com a cabeça e ele respirou fundo. – Sei que vai ser difícil, mas tenta ver o lado bom... — olhei pra ele. – Você vai ter a oportunidade de conhecer Lara de novo, como se fosse a primeira vez.

Ele tem razão, mas ao mesmo tempo não, já foi tão complicado chegar até aqui, Lara é tão complicada, não sei se quero passar por tudo de novo, não sei se estou disposto.

– Vai pra casa, dorme, toma um banho, se alimenta. Qualquer coisa, eu te dou notícias. — Veiga falou se levantando e me oferecendo a mão. – Lembra que você prometeu pra ela que não ia desistir. — franzi o cenho.

– Eu vou mesmo, não quero ficar aqui. — segurei a mão dele e me levantei. – Faz um favor pra mim?

– Claro. — me ofereceu um sorriso.

– Cuida bem dela.

– Não faz isso Richard, não fala como se fosse uma despedida. — ele disse sério. – Não desista dela. — lhe ofereci um sorriso sem os dentes.

Nos abraçamos e eu me virei pra sair do hospital.

Assim que eu entrei no meu carro soquei o volante várias vezes enquanto gritava.

– Isso é tão injusto. — minhas lágrimas caiam descontroladamente. – Por que essas coisas acontecem comigo? É sempre comigo. — esmurrei o volante mais uma vez.

Estou em negação.
Não vou conseguir conviver com isso e fingir que está tudo bem.

Lara Maia

A voz de Piquerez vinha de bem longe quando eu acordei. Eu escutava cada palavra que ele lia daquele livro, e é estranho que eu me lembre tão perfeitamente da voz dele.

Foram em seus olhos a primeira coisa que eu reparei quando abri os meus, ele olhava fixamente pro livro e o jeito que as palavras saiam da sua boca era bem fofo de se ouvir, seu sotaque espanhol ajudava muito nisso também.

“... exceto o amor e a conexão entre as pessoas quem você amou e com que profundidade você amou, como você tocou essas pessoas à sua volta e quanto se doou e elas.”

𝙏𝙀𝙈𝙋𝙀𝙎𝙏𝘼𝘿𝙀 𝙑𝙀𝙍𝘿𝙀 • 𝙋𝘼𝙇𝙈𝙀𝙄𝙍𝘼𝙎.Onde histórias criam vida. Descubra agora