𝙏𝙀𝙈𝙋𝙀𝙎𝙏𝘼𝘿𝙀 𝙑𝙀𝙍𝘿𝙀 • 𝙋𝘼𝙇𝙈𝙀𝙄𝙍𝘼𝙎.

68. Trauma.

Sexta-feira, um dia antes do aniversário.

Richard Ríos

– TRUCO. — Lara grita batendo na mesa, assustando eu e o Piquerez.

Ela levanta rindo e fazendo dedo pra nós dois. Incrível como jogar truco deixa as pessoas malucas.

– Ah não, eu tava quase. — Piquerez fala jogando as cartas na mesa.

– Será que a gente é muito ruim ou ela que é muito boa? Ela ganhou todas pô. — pergunto pro Piquerez que ri.

– Eu que sou muito boa. Cresci jogando truco com os trates da minha família. — Lara fala eufórica. – Cada um tá me devendo um lanche agora. — cruza os braços em cima da mesa.

– Essa mulher só pensa em comer. Deus me livre. — me levanto catando as cartas na mesa e guardando na caixa.

– E tem coisa melhor que isso? — Lara pergunta.

Eu e Piquerez nos entreolhamos rindo.

– Nossa, tá vendo!? Eu só penso em comida e vocês só pensam em sexo.

– E tem coisa melhor que isso? — Piquerez pergunta e eu dou risada.

– Homens. — revira os olhos e levanta da cadeira.

– Mulheres. — imito ela revirando os olhos e tomo um tapa no braço.

Lara se joga no sofá e liga a televisão, Piquerez senta ao seu lado enquanto eu ainda estou juntando as cartas. Gosto de organizar elas por ordem pra depois enfiar na caixa. Sei lá, é apenas mania.

– Amanhã vai ficar velhinha. — Piquerez fala fazendo cócegas em Lara que tenta desviar.

– Velha é teu passado Piquerez, 25 aninhos só.

– Você é mais velha que nós dois. — ela arquea as sombrancelhas pra mim. – Pedófilia é crime hein. — dou uma risada abafada e Piquerez gargalha.

– Nem parece que ela é mais velha que nós. Não tem nem 1,50 de altura. — Piquerez continua o bullying e agora é minha vez de gargalhar.

– Se pegar ela, maddy e o dudu, da pra fazer um filme da Branca de Neve e os três anões. — gargalhamos juntos.

Lara taca um travesseiro na minha cara e mete o tapa no peito de Piquerez, que resmunga mas não para de rir.

– Onde que eu tava com a cabeça pra namorar dois insuportáveis. — fala enquanto prende o cabelo em um coque.

– Com a cabeça eu não sei, mas com a bucet... — Lara da outro tapa em Piquerez, dessa vez até estala.

– Hmm, essa doeu. — junto meus dentes soltando um ruído.

– Bem feito. Foi pra doer mesmo.

– Mas você tá muito brava preta, nem parece que vai fazer aniversário amanhã. — finalmente terminei de organizar as cartas, ando até eles e me sento do lado de Lara.

– Ah sei lá, não tenho essa alegria que todo mundo tem quando faz aniversário. Pra mim é só mais um dia comum. — ela deu de ombros.

Mentirosa.

A verdade é que Lara criou um trauma de aniversários por causa do seu pai, aquele maldito. Maddy nós contou que quando Lara tinha 15 anos o irmão dela preparou uma festinha simples, só pra não passar em branco. Convidou algumas pessoas, fez um bolinho, comprou refrigerantes, salgados, enfim, tudo que uma festa tinha direito.

Maddy contou que Lara estava feliz, e que recebeu todo mundo empolgada. Mas tudo virou de cabeça pra baixo quando o pai dela entrou pela porta, bêbado, xingando tudo e todos, derrubando o bolo e expulsando todo mundo enquanto gritava "Essa casa é minha e eu faço o que quiser". Lara saiu correndo e se trancou no quarto mesmo sabendo que não era sua culpa, a vergonha fez com que ela tivesse essa atitude.