Linhas Invisíveis: Diana's Version

prólogo | diana

Goiânia - Brasil

Em um dia ensolarado do mês de janeiro.

— Ah, mamãe, acho que não vou querer ver.

—  Coragem, minha filha. Eu tenho certeza que já deu tudo certo.

— E se eu não passar? —  eu disse olhando aflita para minha mãe.

Ela veio até mim e se sentou ao meu lado na cama. Deitei minha cabeça em seu colo e suspirei pensativa, enquanto ela acariciava os meus cabelos.

— Se não passar, tu vai ter um ano inteiro pra se preparar e tentar de novo. E eu e seu pai estaremos do teu lado te apoiando.

— Será que eu sou boa o suficiente?

— Claro que é, meu amor. Nunca duvide disso - levantei minha cabeça e mamãe segurou o meu rosto — Diana, olhe pra mim. Tu é inteligente, amorosa, determinada e generosa. É a poesia mais completa que eu e seu pai fizemos. Merece o mundo !

É incrível a capacidade da minha mãe em escolher as palavras certas para fazer a gente se sentir bem.

— Obrigada, mamãe.

— Agora vamos descer, que seu pai e seus irmãos estão nos esperando lá embaixo.

— Peraí, deixa eu retocar a make.

Minha mãe ficou encostada no batente da porta, com os braços cruzados e um sorriso no rosto, decerto comparando os nossos gestos. Ela sempre diz que se vê em mim, quando eu faço minhas makes e arrumo os meus cabelos. A bem da verdade é que eu aprendi com ela. Desde que me conheço por gente, adorava ver mamãe se arrumar para algum evento, seja um daqueles chiques do seu trabalho, as festas de família ou simplesmente para ficar de bobeira em casa com papai, assistindo filmes ou jogando conversa fora, sempre agarrados um no outro.

Aliás, sei que sou suspeita, mas tenho que dizer: meus pais são apaixonantes.

A história de amor deles daria bem uma daquelas comédias românticas, pela maneira inusitada e intensa que se encontraram e como foram construindo o relacionamento. Eles são engraçados, carinhosos, companheiros, arengueiros e cúmplices um do outro.

Mamãe é desembargadora em Goiânia e atua, sobretudo, em casos de mulheres em situação de violência. É uma mulher forte, divertida, afetuosa e bem brava, principalmente se for para proteger sua família, papai a chama de Brabinha do Algodão Doce, ou simplesmente de Juli. Para não perder a piada, mamãe também adotou um apelido pra ele: Rodolffo Adônis Piruca ou Adônis. Papai é fotógrafo e faz imagens incríveis do céu, da lua, do sol e das estrelas. É tranquilo, com uma simplicidade enorme, sempre disposto a nos ouvir, se expressa sempre de modo direto, sem arrudeios, mas em um tom de voz calmo, compreensivo e é dono dos melhores abraços.

Todos da família dizem que sou uma misturinha deles, um pouco arengueira como minha mãe e com a simplicidade de papai. Nós somos 3 irmãos. Eu Diana, que já estou com 18 anos, ainda tem o meu irmão Gael de 15 anos e Maya com 12. Minha mãe adora contar pra gente sobre os momentos em que papai desmaiou de emoção na frente dela quando recebeu a notícia das três gestações.

— Parecia um saco de maria mole estabacado no chão, visse !

A gente sempre ria e o meu pai ficava com cara contrariada e fazia um bico enorme.

— Own ! Eu já disse procês que essa é a notícia mais maravilhosa que eu posso receber da mãe de vocês, porque ser pai é o que me deixa mais feliz e realizado. E ainda mais da mulher que eu amo e que me deu as três jóias mais preciosas que eu poderia ter.