cinco | capybaras and beetles

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Assim que vi Théo virar a esquina com a sua moto, entrei no condomínio. Cumprimentei o seu Rui da portaria, peguei algumas correspondências e segui para o elevador. Fiquei concentrada olhando os números dos andares que iam aparecendo no visor, na tentativa de fingir costume e não admitir o quanto essa carona de moto me deixou balançada.

Foram muitas sensações : o sentimento de liberdade com o vento balançando a ponta dos meus cabelos protegidos pelo capacete, a adrenalina por sentir toda a vibração do motor da moto,  um formigamento no meu corpo inteiro pelo contato com o calor do Théo e o vazio quando chegamos e tivemos que nos separar.

Eu ainda sentia o perfume amadeirado dele na minha blusa, a tirei com cuidado e coloquei na minha cama. Tomei um banho e fui preparar o jantar. A chuva que estava se formando e que fez Théo ir embora rápido, caiu pesada com muitos raios e trovões e imaginei que as meninas iriam demorar pra chegar.

Eu optei por fazer um talharim quatro queijos com molho branco e estava acabando de cozinhar a massa, quando Maluzinha chegou trazendo em uma mão seu imenso guarda chuva cor de rosa e na outra várias sacolas com os materiais da escola.

Ela é professora de teatro e está sempre carregando figurinos, maquiagens, adereços e até pedaços de cenário pra lá e pra cá. Minha prima é muito dedicada, mas, vive reclamando da dificuldade de andar pra cima e pra baixo com todo esse peso. A escola que ela trabalha fica do outro lado da cidade e por isso ela já havia me confidenciado que estava pensando em comprar um carro. Como ela não tinha a grana total para investir, mesmo em um modelo mais barato, ela me propôs sociedade.

Eu tinha umas economias, pois, em Goiania eu fazia alguns bicos de vendedora na loja de roupas da minha tia, mãe da Malu, além é claro, da ajuda dos meus pais. Confesso que neste início de ano letivo não vejo problemas em me locomover de transporte público, mas, a partir do segundo semestre, com o possível estágio que vou tentar, o tempo vai ficar mais curto e talvez a ideia de dividir o carro seja útil.

— Nossa, quando o meu horóscopo disse essa amanhã para eu estar preparada para as chuvas de bênçãos para o meu dia, eu não achei que seria uma tempestade — Malu falou torcendo o cabelo e pendurando o guarda chuva no hall de entrada do apartamento.

— Aqui ! Pega essa toalha  — falei esticando pra ela, a toalha que fui correndo buscar no banheiro — Por que não esperou a chuva passar?

— Porque me pegou no meio do caminho. E...hummmm....mas que cheiro bom é esse?

— Talharim 4 queijos. Acabei de fazer. Vai lá tomar um banho, enquanto eu coloco a mesa.

— E a Maitê?

— Disse que por causa da chuva chega mais tarde. Vou reservar um prato pra ela.

— Tá certo. Vou tomar um banho e já venho.

Acabei de fazer o jantar, arrumei a mesa e fiquei mexendo no celular. Vi que o Ben enfim deu um sinal de vida, respondendo decentemente as minhas mensagens; mas, para provocar deixei para responder ele depois. Quem mandou me ignorar?

Aproveitei e mandei uma mensagem para o Théo perguntando se ele chegou bem e ele, na hora, acabou fazendo uma ligação de voz e ficamos conversando coisas aleatórias.

📱 Vou ter que desligar agora. Vou jantar. Boa noite, Théo.

📱 Boa noite, lil'moon. Durma bem.

Desliguei o telefone e fiquei mentalmente relembrando toda a nossa conversa que tratou sobre assuntos diversos, que às vezes nem fazia sentido, mas estava na cara que nenhum dos dois queria desligar. Era gostoso ouvir o timbre da voz dele, principalmente quando me chamava pelo apelido em inglês. Não consegui reprimir um sorriso e sem perceber abracei o celular e quando olhei de lado dei de cara com Malu me observando, encostada no balcão da cozinha, com um sorrisinho debochado nos lábios.

Linhas Invisíveis: Diana's VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora