nove | Entre razões e emoções

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 Ouvimos uma freada de carro e um baque seco, seguido de um choro alto de cachorro.

Nos separamos e corremos até o local, no exato momento que o carro acelerava para longe, deixando o cachorro de pelagem caramelo estendido no chão, ao meio fio da calçada, gemendo agitado e largado à própria sorte. Théo se abaixou e tocou no corpo do animal, que deu uma choradinha mais forte.

— Vai ficar tudo bem amigão — ele disse acariciando a cabeça do cachorro que parecia entender e ficou um pouco menos agitado.

Me abaixei ao lado dos dois e também passei minha mão em sua pelagem dourada. Vi que o carro havia passado em cima da sua patinha e por isso ele não conseguia ficar em pé.

— Calma, meu amor. Nós vamos cuidar de você — olhei ao redor e vi que não estávamos em um lugar seguro — Théo, precisamos tirar ele daqui do meio fio.

Théo concordou, tirou a sua jaqueta, envolveu o corpo do cachorro, que se agitou pois decerto sentiu dor com toda a movimentação e trouxe para os seus braços.

— Shiiu, Shiiu...tá tudo bem — Théo disse abraçando mais o animal tentando o acalmar.

— Vou ligar para a Maitê e pedir o endereço do abrigo em que ela trabalha. Lá funciona 24 horas e deve ter um veterinário de plantão — falei mandando mensagem pra Maitê e torcendo para que ela ainda estivesse acordada.

Olhei para o lado e Théo estava abraçado com o cachorro e parecia que cantava algo em seu ouvido, como se tentasse acalmá-lo. Era encantador ver um homem daquele tamanho, que mesmo com um semblante preocupado, tentava ser calmo e gentil com o animal em seus braços.

Maitê respondeu e me enviou o endereço do lugar e disse que também já havia informado a doutora Valéria, veterinária de plantão, sobre a nossa chegada.

— Bora, Théo — falei abrindo a porta da Taylor — A Ong é perto daqui.

Théo entrou todo desajeitado no banco de trás do fusca e tentou se acomodar, mantendo o cachorro firme, mas de certa maneira confortável em seu colo.

Coloquei o endereço da clínica no gps e enquanto eu dirigia rapidamente até o local, pelo retrovisor eu via que Théo examinava melhor o bichinho, com a lanterna do seu celular.

— Ele está muito machucado?

— A patinha tá bem feia, mas, acho que nada que não consiga recuperar.

— Será que ele tá sentindo muita dor?

— Acho que sim, Didi. Mas esses cãezinhos que vivem nas ruas são muito fortes e corajosos.

O cachorro parecia ter entendido o que Théo falava e deu um pequeno latido, apesar da carinha abatida pela dor.

— Aguenta aí, meu amor. Estamos chegando — falei acelerando o carro o quanto conseguia.

Estacionei a Taylor em frente à Ong Focinhos Amigos, saí do carro, dei a volta e abri a porta lateral para que o Théo saísse com muita dificuldade com o cachorro nos braços. Tranquei o fusquinha e segui atrás deles, até a recepção.

Como Maitê já havia dito, a veterinária já nos aguardava.

— Boa noite, eu sou a doutora Valéria. A Maitê já nos adiantou sobre o que aconteceu.

— Boa noite, doutora. Parece que foi algo na pata traseira. Quando o peguei do chão, ele estava bem agitado, agora está mais calmo no meu colo.

Théo ainda estava com o cachorro no colo e a todo tempo conversava e afagava os seus pelos, na tentativa de fazer ele se sentir melhor e menos ansioso.

Linhas Invisíveis: Diana's VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora