Capítulo 5

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Dois meses depois

Nem sempre decidimos o rumo das nossas vidas, achamos que estamos sob controle e do nada um buraco aparece e suga você, para sofrimento eterno. E às vezes levamos pessoas que estão ao nosso lado para o lugar que é cheio de incertezas e violência, no meu caso levei duas pessoas. Duas pessoas inocentes, e uma delas não sabe nem se defender.

Meu Álvaro!

Meu bebê dormia tranquilamente nos meus braços enquanto eu olhava o horizonte. O meu neném é um homenzinho fofo e bastante sapeca, com dois meses de vida é o centro do meu universo. Por ele, mataria, estou sendo uma mãe coruja que não fui pra seu irmão mais velho. Ainda não me arrependo da minha decisão de deixá-lo para trás, fiz uma escolha entre a vida e a morte. Se a Cristina não descobrisse antes, eu teria o Bernardo nos Estados Unidos numa forma precária e seria deportada ou ele seria morto por parte do seu pai ou da família estrangeira que queria me comprar. E Leôncio não entende, o seu ponto de vista eu tinha escolhas melhores do que isso. E se ele nascesse mulher, saberia do sofrimento de uma mãe solteira.

Alguns meses se passaram, ainda sinto falta dele. Ainda tenho esperança de ele me buscar e implorar de joelho, implorando para eu perdoasse. Será que conseguiria? Nunca saberei, Leôncio me esqueceu, esqueceu que vivemos juntos durante quase três meses. No final, era tudo sexo e prazer. Nunca me amou verdadeiramente, ficou cego pelo ódio. Deixou esse sentimento destrutivo te consumir por inteiro.

Meu azar, Sebastião aquele homem desprezível estava dando ordem quando me viu e acenou sorrindo, acenei também mostrando um sorriso mais falso. A alça da minha calcinha tinha uma faca, roubei no refeitório quando ninguém estava olhando para mim. Nem a Cristina sabe disso, Sebastião só está esperando um momento certo para me atacar.

— Preciso escapar neste lugar — Digo.

— Paola? — Virei para trás, é a Letícia me chamando — Precisamos você na cozinha, se não o jantar irá se atrasar.

Letícia, também é uma brasileira. Porém é insuportável e metida a besta, ninguém confia nela. Dizendo às mulheres que é uma X9, ela denuncia para os capatazes quando alguém irá fugir. A vaca é boca e ouvido do Sebastião, é perigosa igual à María. Dizendo o Sebastião, a infiel está numa clínica psiquiátrica. Pelo menos não sou a única que fudeu nesta história toda, mas fiquei com pena do Castiel.

A seguir, meu Álvaro está na bolsa canguru feito de pano amarrado no meu corpo. Tenho medo caso alguém pegue e venda para uma família bem pior que a minha. Entramos no refeitório, algumas estão arrumando o local para servir o jantar, graças ao meu talento no fogão e a obsessão de Sebastião, trabalho na cozinha. Acordo às cinco da manhã e saio só às dez nove da noite, meus pés doem e as minhas mãos estão calejadas e queimadas, entretanto, é muito melhor trabalhar debaixo de sol até o anoitecer.

Em cima da bancada, tinha cebolas para ser cortadas. Peguei a faca e fui à direção da bancada, olhei para o Álvaro que estava dormindo tranquilamente sob meu peito. Começo a cortá-los, um por um, sinto os olhares da Letícia sobre mim. Mas, ignoro por completo.

— Sabe Paola, essa pose vai acabar — Letícia dizia mexendo no arroz da panela. — Quando te pegarem, não sobrará nada.

— Você tem fetiche de mulheres sendo violentadas? Você está no mesmo barco, mas age como se fosse um deles. Não tem vergonha ou remorso Letícia?

Letícia larga a colher e vem em minha direção.

— Cheguei nestas terras quando tinha dezesseis anos, culpa do meu pai que queria ter uma vida digna e melhor. Fomos capturados no deserto, quase aos portões dos Estados Unidos. Meu pai foi morto, e eu? Fui chamada na primeira noite, eu era ainda virgem. E eu aprendi da pior forma possível como iria sobreviver neste mundo, se quiser sobreviver nestas terras. Terá que ser como eles, fria e cautelosa, então perdoe-me por não ser gentil. Só não acho justo que você ainda esteja intacta, merece sofrer igual a nós, como bicho.

— Eu também estou pagando pelos meus pecados, Letícia. Eu estou sofrendo igual a todo mundo.

Letícia pega uma mecha do meu cabelo.

— É tão bonita, deveria ser modelo.

— Deixe-me — Comecei a cortar as cebolas.

Letícia sai da cozinha com gargalhadas me deixando com raiva e pena dela. A ignoro e faço o meu trabalho, lágrimas descendo pelo meu rosto. Não sei se é pela cebola ou pela história dela. É terrível, todas elas têm uma história para contar.

Uma pior que a outra.

💵

Dou de mamar para o Álvaro enquanto olhava para o horizonte, o sol está se pondo. Minhas mãos cheiram a cebola, mas pelo menos o serviço acabou.

— Paola? — Cristina me chamando — Vamos!

— Já estou indo mamãe.

O portão está se fechando, quando o Álvaro nasceu a minha esperança começou a esvair lentamente. Leôncio nunca me buscará, dou a última olhada nos portões e dou meia volta. Cristina estendeu a mão para mim, peguei gentilmente e fomos jantar, por eles, a minha vida será mais ou menos insuportável.

A vingança de Leôncio - LIVRO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora