Capítulo 3

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Meses depois

Seleciono as melhores sementes e ponho na cesta, o sol está quase indo embora, daqui a pouco finalmente irei descansar. Não é fácil trabalhar com uma barriga quase nove meses, pés inchados, dor na coluna, e mãos machucadas de tanto trabalhar por tantas horas. Mesmo a Cristina fazendo trabalho por duas, que é proibido nestas terras, isso não diminui a minha dor que sinto. Todas as madrugadas abro os olhos chamando o nome dele várias vezes, às vezes chorando. Se lamentando dos meus pecados.

— Acabou — Sebastião.

Todos nós demos suspiro de alívio, finalmente o trabalho chegou ao fim. Cristina me ajudou a levantar, com essa barriga crescendo está ficando difícil ficar em pé e trabalhar.

— Finalmente, acabamos com minha filha.

Ajeito o meu vestido sujo de terra, ajeito o meu cabelo e ponho o chapéu de palha. Afasto-me da Cristina e vou à direção de Sebastião que está dando ordens para alguns homens.

— Sebastião — O chamo.

— Senhorita, Paola! Que devo a honra? — Perguntou gentilmente.

— Entregou a carta para o Leôncio? Esse filho já vai nascer, ele não pode ser tão cruel assim com o próprio filho.

Sebastião aproximou-se de mim e se lamenta.

— Ocê deveria saber que o senhorzinho Leôncio nunca vai aceitar esse filho dentro da sua casa. Ele está rejeitando o próprio sobrinho, colocou o Castiel na cozinha e tirou todos os seus privilégios como herdeiro, imagine o filho bastardo que tem o seu sangue.

— Ele não leu a carta? A cada mês estou enviando uma para ele.

— Leôncio leu e ignorou, leu na minha frente. O senhorzinho mudou drasticamente, ficou pior. Por favor, não envie mais cartas para ele. Leôncio é bem capaz de matar o seu filho e a senhora também.

— E o Humberto? Até agora ele não apareceu.

— Vou ser sincero com a senhora, Humberto está com dias contados com o seu cargo. Daqui a pouco será capataz como nós novamente e perder a sua honra por causa de rabo de saia.

— Paola vamos — Cristina pegou o meu antebraço e me afastou dele, vejo o seu olhar sentimento de pena e depois virou as costas para mim. — Estou morrendo de fome. E para perturbar o Sebastião, e escutar ele, você irá morrer junto com o seu filho.

Seguimos com as outras pessoas, caminho até o carro é longo e a poeira fazia companhia aos nossos narizes. À nossa frente Carla e Kátia conversando e rindo de alguma coisa, estava tão alheia que quase tropecei num garotinho que aparenta ter cinco ou seis anos de idade.

— Desculpa, moça!

A sua mãe chamou o garotinho, e a mulher carregou em seus braços e deu vários beijinhos no seu rostinho. Parece que estou vendo o meu futuro, carregando o meu filho após um trabalho árduo, meu bebê não merece essa vida. Abro a mão dele para ele não viver igual ao garotinho nestas terras. Engulo o choro e sigo em frente, aproximamos do carro arara. Fomos na última fileira, Kátia me ajudou a levantar, mesmo sem a sua mão é obrigada a trabalhar.

As vezes me pergunto, se ela perdesse as duas mãos, como faria para trabalhar? Seria expulsa das terras ou seria morta?

— Daqui a pouco, teremos um trabalhador.

Comecei a rir, mas no fundo queria chorar.

— Para com isso, Kátia! — Carla brigou — Não liga para ela, venha sentar ao meu lado.

Sentei ao lado da Carla, e quase gemi ao sentar no banco estofado preto. Há horas as minhas pernas e a minha coluna estavam berrando para descansar.

— Traidora miserável, está me traindo — Kátia finge que está brava.

Alguns minutos, todas as mulheres estavam no carro, é dividido por sexo. Arara vermelha para mulheres e o preto para os homens, o motor foi ligado e saímos no terreno, o vento refrescava a minha pele suada e o meu cabelo voava. Era bom sentir a mata verde molhada, acaricio a minha barriga e sinto ele ou ela se mexer constantemente dentro de mim. Os seus chutes são doloridos e frenéticos é o sinal que o bebê está vivo, sem exame pré-natal durante toda a minha gestação tenho medo que ele sofra alguma falha genética.

Sem exames por mês não dá para saber se ele está realmente bem. Se tem peso normal, o sexo, ou outra coisa que possa interferir a sua saúde. Foi um susto ao descobrir a minha gravidez, os sintomas estavam na minha cara e eu ignorava todas elas, e por isso escrevia cartas para o Leôncio. Pelo menos ter misericórdia do seu filho, mas foi em vão, o seu coração virou pedra.

— Meu bebê!

Chegamos no portão, aos poucos os carros foram entrando em fileira. Olho para trás, o sol desaparecendo no horizonte e o portão se fechando, mais um dia, e o Leôncio não veio me buscar. Entro no alojamento, vou direto para o meu quarto. Estou literalmente morta de cansada, tiro o lençol sujo e deito-me na cama, pego o travesseiro e ponho debaixo da minha barriga para aliviar um pouco o peso.

— Paola? Para perturbar o Sebastião, ele não é bom e você sabe disso, igual o Leôncio.

— Ele está entregando as minhas cartas.

Cristina sentou na beirada da cama.

— Hoje o Sebastião me buscará, dizendo que ele sou a sua preferida. Olha só, que ele me deu — Cristina se levantou e buscou algo dentro da fronha, sentou-se novamente na cama e me deu uma barra de chocolate — É de leite!

Cristina novamente fazendo o seu papel, entregando o seu corpo para me salvar. Se não fosse a minha barriga, eu seria uma das suas vítimas?

— Obrigada, mamãe!

Abro a embalagem e começo a comer, está uma delícia, o chocolate derretendo na minha língua.

— Hummmmm.

— Come tudo! — Cristina beija a minha testa — Vou buscar o seu prato de comida.

Ela sai, fico comendo o doce enquanto as mulheres saem para jantar. Acaricio a minha barriga, preciso dar nomes para o meu bebê, até pensei alguns nomes bastante bonitos. Se for menino será Álvaro e se for menina será chamada de Thalia, em homenagem à cantora mexicana.

Álvaro e Thalia, nomes lindos.

💵

Debaixo de lençol, encaro Sebastião chamando algumas mulheres e a minha mãe, todas saíram para satisfazer os desejos dos peões. Isso é tão nojento, a porta foi aberta novamente, Sebastião entra olhando para as camas uma por uma. Tirando os lençóis, e verificando as mulheres que talvez seja mais apresentável para esta noite. Para meu azar, Sebastião aproximou-se da minha cama, senti a sua presença atrás de mim. Me observando calado e respirando fundo, como se aparecesse que estava excitado. Os seus dedos começaram a tocar o meu ombro. Fecho os olhos com força, mordo o meu lábio interior até sentir o gosto de sangue.

— Ah, Paola! Se não fosse esse bebê, te comeria com força igual o meu patrão.

Ouço o zíper sendo aberto, começo a orar silenciosamente. Nunca acreditei em Deus ou algo do tipo, agora estou orando para qualquer um que possa me ajudar. Para piorar mais a situação sinto algo sendo passado pelas minhas costas, acho que é pênis, meu Deus, que horror.

— Ah, sua vadia!

Ouço ele esfregar o seu órgão genital freneticamente, choro silenciosamente, queria a minha mãe aqui. Onde ela está? Sebastião gozou nas minhas costas, se aliviou como animal.

— Quando o seu bebê sair nas suas tripas, vou descartar a flácida da sua mãe e ter você para mim. Bons, sonhos!

Seus lábios encostaram-se na minha testa sobre o lençol. Quando ele saiu do alojamento comecei a chorar feito criança, não quero ser usada novamente, não quero ser a Paola Flórida de treze anos atrás. Sinto ele mexer, seus chutes estão me aliviando um pouco. Acaricio, antes de ele me tocar ou machucar o meu bebê irei cravar uma faca no seu pescoço.

— Meu bebê, eu vou te salvar! — Digo.

A vingança de Leôncio - LIVRO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora