Capítulo 4

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Um mês

Senti uma pontada de dor quando levantei na cama e a minha pressão baixou de repente, imediatamente me sentei. Respirei fundo e depois soltei, sinto algo molhado sobre os lençóis da cama. Olhei, e me assustei, acho que a minha bolsa estourou, abro as pernas e vejo sangue deslizando entre elas.

— Mamãe — Chamei desesperada — O meu bebê vai nascer.

Cristina veio ao meu socorro, olhou o meu estado com os olhos arregalados e começou a chorar.

— Minha filha!

Carla ordenou que me deitasse na cama e que ficasse de pernas abertas, terei o meu bebê neste lugar, neste alojamento e nessa cama molhada e suja, meu bebê não merece isso. Precisa ter pelo menos um parto digno e decente, levantei na cama ignorando a dor latejante e reclamação da Cristina. Tirei os panos que cobria a cama e joguei no chão.

— Quero panos limpos — Ordenei.

Kátia tirou os panos da sua cama e deu para mim, sorri agradecida, e os coloquei. Deitei-me onde estava tudo pronto, tirei a calcinha e abri as pernas. Carla se posicionou na minha frente, e meteu dois dedos para verificar a dilatação.

— Você esteve grávida antes? — Perguntou ainda cutucando lá dentro.

— Sim, treze anos atrás tive parto normal.

Retirou os dedos — Está dilatada.

— Impossível, eu deveria sentir dor desde o início.

— Às vezes acontece, como a gravidez silenciosa. — Carla pós o lençol sobre mim — Agora chega de papo, vamos parir.

— Mamãe!

— Estou aqui, minha querida! — Cristina ficou ao meu lado segurando a minha mão — Vamos Paola, ponha ele ou ela pra fora.

Comecei a fazer força e respirar fundo, as mulheres saíram para dar mais privacidade. Exceto pela Kátia, Cristina e Carla, as três ficaram aqui auxiliando colocar pra fora mais um trabalhador nesta fazenda. Doía, parecia que estava me rasgando por dentro.

— Vamos! — Carla.

Empurro e grito, sinto-me tonta e sem fôlego, tudo está girando em minha volta.

— Aaaaaaah.

Empurro, sinto algo sair dentro de mim. Algo me rasgando, minhas entranhas se contorcendo e finalmente ouço o choro do meu bebê, e eu choro. Carla entregou o meu bebê junto com o cordão umbilical. É o menino, o menino lindo e com os pulmões fortes.

— Álvaro, esse será o seu nome.

Encosto o meu nariz na sua cabecinha, é cheiro de uma nova vida.

— Álvaro? — Kátia franziu a testa — Esse nome me lembra de uma novela que eu amava bastante lá no Brasil.

— Escrava Isaura — Carla sorri — Eu também amava essa novela, e quem diria que estamos vivemos igual aqueles escravos. O nome do seu filho é lindo e forte, Paola.

— Olha, Paola! Ele tem uma mancha escura igual à você.

Olho-o, é verdade! E também é parecido com o Bernardo, ainda lembro dos seus traços quando era recém nascido. A porta é aberta violentamente, Sebastião entra junto com os seus capangas. Agarrei o Álvaro como se a minha vida dependesse dele.

— Olha só, nasceu o filho de Leôncio Hernández. — Riu, aproximou-se da cama para vê melhor — É bonito igual a mãe.

Quando lembro o que ele fez, a ânsia sobe.

— Obrigada!

Por Álvaro, sou capaz de matar todos eles. Serei uma mãe, que nunca fui para o Bernardo.

— Outro funcionário dessa fazenda. — Sebastião diz como se fosse uma piada.

Sebastião me olhava como se fosse me comer viva, todo esse sangue e o cheiro insuportável aposto que o excitava mais.

— Vamos, vamos deixar a ex-mulher do Leôncio descansar.

Foram embora, olhei para o Álvaro.

— Vou te proteger, meu nenê! — Beijo a sua testa, lágrimas descem — Meu Álvaro.

— Todos nós vamos protegê-lo — Kátia olhava para mim com ternura.

Quem diria, no início da nossa relação era tipo água e óleo, agora somos amigas, neste buraco do inferno arranjei ótimas pessoas. No lugar inusitado que tem mortes e escravidão, têm pessoas boas.

— Obrigada!

— Agora vamos limpá-lo.

Com toda essa tensão, fui obrigada a dar. Olhei cada passo o meu Álvaro sendo cuidado e limpado pela Carla e Kátia, as duas tratavam ele tão bem.

— Vai dizer pro Leôncio?

— Sim, mamãe! Irei escrever uma carta para ele que o seu filho nasceu, o Álvaro não merece viver neste lugar igual aquelas crianças. Não mesmo!

Cristina beija a minha testa.

— Espero que ele te perdoe.

— Eu também!

Não ligava que estou suja de sangue e água, só quero segurar o meu filho em meus braços novamente. Carla veio segurando ele e entregou para mim, sorrio, está mais bonito tirando aquele sangue todo no seu rosto.

— Ele é gordinho, sorte sua! — Kátia comentou.

Graças a Deus! Álvaro aparenta ser um bebê saudável, é gordinho e não apresenta nenhuma anomalia. Porém, tenho que vigiá-lo, as doenças podem aparecer um pouco mais tarde. No mínimo um ano ou mais.

— Meu Álvaro!


A vingança de Leôncio - LIVRO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora