Após almoçar fui ao banheiro, desde então estou me encarando no espelho. Um espelho limpo sem marcas de dedos ou rastro de sangue, e uma pia sem cheiro de cuspe ou pasta de dente, e o banheiro limpo e vazio, lá dividia com várias mulheres e era nojento, principalmente sentar na privada, às vezes era sujo de sangue ou fezes, algumas mulheres eram bastante porcas. Ligo a torneira, quase choro ao ver a água limpa, potável e pronto para o uso, lá não tinha isso. A água tinha uma cor diferente, era quase amarela por causa do encanamento mal feito, faço com a concha com a mão e depois lavo o meu rosto, sem cheiro e sem cor.
Após tomar um belo banho, vestir uma roupa confortável. Parece que o Leôncio não jogou as minhas coisas, roupas, sapatos, joias e bolsas, todas elas estão aqui, todas guardadas, limpas e cheirosas. Peguei um perfume e passei pelo meu corpo, finalmente um odor diferente que não seja alho e cebola.
Saio do quarto e vou visitar o meu filho.
O seu quarto fica ao lado do quarto do seu irmão mais velho, o encontro brincando com o seu pai. Os dois estão no chão brincando de carrinho, Leôncio acariciava a sua cabeleira escura e suspirava, espero que sinta remorso e tristeza o que fez pelo seu filho. Têm muitas perguntas que não foram esclarecidas no hospital. Bati na porta chamando as suas atenções. Álvaro virou o rosto e fez beicinho ao me ver. Levantou-se no chão e correu nos meus braços chorando, agachei para recebê-lo, não pude aguentar e deixei algumas lágrimas saírem, quase o perdi se não corresse o bastante e ir naquele atalho. Álvaro e eu estaríamos mortos agora, e o principal culpado está à nossa frente, engolindo a seco.
— Sentiu saudade da mamãe, sentiu foi?
— Sim! — O seu timbre era doído — Saudade!
Levantei-me no chão carregando-o, perto do berço tinha uma poltrona bege. Fui até lá, me sentei e o deitei no meu colo com bastante cuidado, tirei o meu seio esquerdo para o Álvaro mamar. Foi um alívio instantâneo ao sentir a sua boquinha no meu mamilo, os meus seios estavam começando a doer.
— Não sabia que o nosso filho ainda mamava. — Diz.
— Meu filho! — Digo — E sim, ele ainda mama, têm muitas coisas que você não sabe nada sobre ele.
— Se você der a permissão, eu adoraria conhecê-lo.
— Não darei permissão, você tirou algo dele. Um parto decente, a sua escolha e por cima a sua avó.
— Eu não sabia, eu juro.
— Cadê as cartas?
— Que cartas?
— Eu enviava para você todos os mês até ele nascer, explicava a nossa situação e como estava sendo difícil, enviava todas elas para o Sebastião e dizia que você lia as cartas e depois jogava fora.
Leôncio aproximou-se um pouco, com cautela.
— Eu realmente não sabia, a minha mãe estava envolvida. Se eu soubesse, tiraria vocês de lá imediatamente.
Suspirei
— E cadê a sua mãe? Qual vai ser o seu castigo? A Maitê Hernández merece sofrer igual o cão de rua, é o mínimo.
— Eu dei uma surra nela de cinto.
Arqueio uma das minhas sobrancelhas.
— Ah, é mesmo? — Me Levantei na poltrona, Álvaro adormecia em meus braços — Só isso? Apanhou de cinto!? Comigo, você foi mais criativo. — Fiquei na sua frente, encarando-o no fundo dos seus olhos — Na sua família o cinto come, mas enquanto a minha, dois anos trabalhando feito escravo naquela fazenda, não parece justo.
— O que você quer?
— Se você quer o meu perdão é melhor você seja mais criativo com os seus castigos.
— Já estou castigando a minha família o suficiente, coloquei o Alejandro na prisão e a María no sanatório sem previsão de alta, e até rebaixei o meu próprio sobrinho como empregado. E o que você quer?
— Eu quero mais do que isso, eu quero me vingar. Se não fosse a sua mãe, eu estaria tendo uma vida de madame e a minha mãe viva. E você sabe que a minha apetite é enorme, principalmente dessa família.
— O que você quer, Paola? Me diga!
— Quero ver a sua mãe, quero castigá-la com as minhas próprias mãos, quero ver o seu sofrimento e as suas lágrimas. Quero que a Maitê Hernández tenha a mesma vida que eu tive há dois anos, e talvez, nós voltaremos a ser uma família de verdade. Você, eu, Bernardo e o Álvaro. A escolha é sua!
Leôncio dá alguns passos para trás, olha para janela e suspira, supostamente está pensando. Se ele fizer o que estou pedindo, talvez, consiga perdoá-lo. Leôncio também é uma vítima da história, querendo ou não, foi enganado a vida inteira e criado um filho que não é seu. Talvez, eu tenha a mesma reação dele, punir todo mundo.
—Tem certeza que vai me perdoar? — Olha para mim — Você promete?
Está tão desesperado pelo meu perdão, que faria qualquer coisa para conseguir. Até castigar a própria mãe, interessante, agora vamos ver aonde ele é capaz para conseguir aquelas palavras mágicas que faz um ser humano sentir aliviado.
Eu te perdoo!
Leôncio Hernández faria por tudo mesmo? Eu adoraria descobrir, não vou esquecer tão fácil aquela dor da faca sendo introduzido na minha carne, o medo, a traição, e o pior, rezando todas as noites que o meu Álvaro amanheça vivo e ter aquela rotina miserável, e o principal a dor de perder a mãe e as suas duas melhores amigas. Até lá, Leôncio Hernández vai rastejar aos meus pés. Sentirá a minha indiferença contra seus sentimentos, sentirá o gosto amargo da decepção todos os dias, e eu vou relembrar cada passo que dei naquela fazenda para ele nunca esquecer da desgraça que fez comigo.
— Eu te perdoarei, Leôncio! — Aproximo dele — A única coisa que eu quero, é o sofrimento da sua mãe — Toquei no seu rosto — O nosso filho iria morrer por causa dela, nunca se esqueça disso.
— Eu nunca esquecerei, Paola.
Após ouvir isso, o abracei. Atrás dele, um espelho, sorrio ao ver o meu reflexo. E também a maldade dos meus olhos transbordando.
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A vingança de Leôncio - LIVRO 2
RomansaContinuação da história "Bela Posse" Leôncio Hernández foi enganado por várias pessoas, a sua ex-falecida esposa fez uma emboscada para manter o seu casamento com o herdeiro do Cartel Hernández com a ajuda da Paola Flórida. Entregar o seu filho que...